Finanças

Mulheres dominam salões de beleza, mas ainda recebem 19% menos que homens, aponta pesquisa

Estudo revela também que profissionais brancos ganham 21% mais que negros no setor

Agência O Globo - 03/11/2025
Mulheres dominam salões de beleza, mas ainda recebem 19% menos que homens, aponta pesquisa
- Foto: Reprodução

Uma pesquisa realizada pela consultoria Provokers, a pedido do Grupo L’Oréal no Brasil, revelou que, embora as mulheres representem 62% dos profissionais nos salões de beleza do país, ainda recebem, em média, 19% menos do que os homens que exercem as mesmas funções. O levantamento ouviu mil profissionais em 400 cidades brasileiras.

O estudo inédito, intitulado “Na raiz do PRO – Um retrato do brilho, das conquistas e dos anseios dos profissionais cabeleireiros”, apontou ainda que profissionais brancos recebem 21% mais que colegas negros. No recorte por orientação sexual, heterossexuais têm renda 23% superior à de homossexuais.

Rendimento

Segundo a pesquisa, o rendimento médio de um trabalhador formal em salões de beleza é de R$ 5.950, valor acima da média nacional per capita, que é de R$ 2.069, conforme dados do IBGE. Entre os que se tornam proprietários de salões, a renda média sobe para R$ 11.200. Já os autônomos recebem, em média, R$ 4.950 por mês.

A maioria dos entrevistados (87%) pretende continuar na carreira, mas destaca a necessidade de qualificação profissional. Por isso, 74% afirmaram ter buscado formação na área antes de ingressar no mercado de trabalho.

Perfil do setor

Entre as mulheres que atuam no segmento, 52% se autodeclaram pretas ou pardas. Além disso, 15% dos profissionais se identificam como LGBTQIAP+, percentual 2,5 vezes maior que a média da população geral.

“A desigualdade salarial ainda é uma realidade que atravessa a nossa profissão e, infelizmente, reflete desigualdades que vêm de muito antes do salão”, resume a hairstylist Vivi Siqueira. “Homens ganham mais que mulheres, brancos mais que pessoas negras. E isso precisa mudar.”

A cabeleireira Leyla Maciel confirma que a desigualdade no setor ainda é expressiva. “Já percebi que mulheres brancas ganham mais porque, muitas vezes, têm acesso a uma educação melhor. Por isso, busco constantemente novas qualificações, embora seja difícil conciliar tempo, dinheiro e encontrar o local adequado”, relata.

Para Joana Fleury, diretora da Divisão L’Oréal Produtos Profissionais do Grupo L’Oréal no Brasil, os dados refletem um problema estrutural. “O desafio da igualdade salarial é estrutural e vai além do setor da beleza. Ele reflete desigualdades históricas de gênero, raça e orientação sexual que ainda estão muito presentes na sociedade brasileira”, afirma.

Apesar de o setor movimentar mais de R$ 130 bilhões ao ano e contar com mais de 1,3 milhão de MEIs ativos, a profissão de cabeleireiro ainda carece de regulamentação. Atualmente, não há curso superior ou técnico específico para cabeleireiros no Brasil.

Com isso, a formação dos profissionais costuma ser feita pelas próprias empresas do setor, como redes de salões e fabricantes de produtos. Joana defende um pacto setorial para formalizar a educação de base na área.

“Sempre comparamos com a gastronomia, que também era marcada pela informalidade, mas evoluiu e hoje possui escolas internacionais atuando no Brasil e uma profissão valorizada. A informalidade no nosso setor está ligada à ausência de formação técnica formal e à facilidade de entrada no mercado, o que dificulta a criação de parâmetros claros de remuneração e benefícios”, conclui Joana.