Finanças
Veja as medidas que o governo quer reapresentar separadamente ao Congresso para arrecadar mais e desatar nó fiscal
Haddad decide fatiar medidas para compensar MP alternativa ao IOF. Ações fizeram parte do pacote rejeitado pela Câmara. Títulos isentos não devem ser alterados

Na tentativa de recuperar arrecadação após o Congresso Nacional derrubar a medida provisória (MP) alternativa ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), há duas semanas, o governo definiu ontem uma estratégia de fatiar as propostas.
Os dois textos devem tratar de frentes distintas: uma voltada ao controle de gastos públicos e outra com ações para aumento de arrecadação, como a taxação de bets e de fintechs, junto com a limitação de compensações tributárias. As ações para elevar arrecadação e cortar despesas ficariam próximas de R$ 30 bilhões.
Acordado dos dois lados:
Mercado financeiro:
Com esse encaminhamento, o governo busca reduzir resistências, mas também é uma forma de forçar um posicionamento dos parlamentares sobre os temas. Uma das ideias é incluir pontos em projetos já em tramitação no Congresso por meio da iniciativa de parlamentares.
Ao fatiar os projetos, o governo também consegue evidenciar as resistências a cada um dos temas, separando o debate. Como o mérito da MP não foi votado, uma vez que a Câmara decidiu tirar o tema da pauta no dia de seu vencimento, a ideia agora é forçar um posicionamento dos congressistas sobre propostas polêmicas. Durante a tramitação da MP, houve relatos de forte pressão dos setores de bets, fintechs e fundos no Parlamento.
Títulos isentos de fora
A parte relativa à tributação de ativos financeiros, como a uniformização das alíquotas e o fim da isenção de títulos como letras de crédito do agronegócio (LCA) e imobiliário (LCI) devem ficar de fora desta vez. Estes tópicos foram um dos principais focos de tensão nas discussões da MP original.
Na semana passada, o ministro da Fazenda, , havia sugerido que também via espaço para recuperar a proposta de limitação de compensações tributárias indevidas dentro dos temas considerados “incontroversos”.
De novo a polêmica:
— Como houve muita polêmica em torno da questão de despesa e receita no mesmo diploma legal, a decisão provável é dividir entre dois projetos de lei — disse Haddad ontem à Globo News.
O governo não necessariamente vai encaminhar os projetos ao Congresso, e os temas podem ser incluídos em propostas que já estão em avaliação.
— Alguns deputados se dispuseram a incluir em projetos que estão em tramitação. Porque tem votações previstas já encaminhadas. Como já se passaram 120 dias, há, da parte de muita gente boa do Congresso, a disposição de votar pelo menos um desses projetos, o do controle de gastos — afirmou o ministro.
Fator Brasil:
A MP, que perdeu a vigência há duas semanas, era considerada crucial para fechar as contas de 2026. No total, a expectativa era de arrecadação de R$ 20,9 bilhões. O aumento de 12% para 18% da cobrança sobre bets renderia R$ 1,7 bilhão, enquanto o aumento da alíquota de CSLL para fintechs levaria a um aumento de receita de R$ 1,58 bilhão.
O aumento da alíquota de Imposto de Renda sobre a distribuição de Juros sobre Capital Próprio (JCP) de 15% para 20% elevaria a arrecadação em R$ 4,99 bilhões. Já a estimativa da limitação de compensação tributária indevida era de R$ 10 bilhões.
Crime digital:
R$ 10,7 bi em corte de gasto
Além disso, o governo previa economizar R$ 10,7 bilhões com medidas de redução de despesas, como ajustes nas regras do seguro-defeso, a limitação de compensações previdenciárias, a inclusão do Pé-de-Meia no piso da Educação e a redução do prazo do benefício do auxílio-doença concedido por análise documental (Atestmed).
A proposta orçamentária do próximo ano, em análise no Congresso, prevê superávit primário de 0,25% do PIB, cerca de R$ 34,5 bilhões. Os projetos são considerados necessários para atingir o resultado, argumenta o Ministério da Fazenda. Haddad defende que o país entregue um resultado positivo em 2026, após anos de déficit:
Acordado dos dois lados:
— Precisamos dar uma última volta nesse parafuso, entregar um Orçamento com um resultado primário positivo relevante. À luz do que aconteceu no passado recente, eu considero importante um resultado positivo no ano que vem.
A solução para o impasse do Orçamento de 2026 é necessário para fechar o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO). A votação na Comissão Mista de Orçamento (CMO) já foi adiada duas vezes e deve ocorrer só em novembro. A LDO dá as bases gerais do Orçamento, mas não especifica onde o dinheiro será gasto. A proposta orçamentária de 2026 em si só deve ser votada no fim de dezembro, às vésperas do recesso parlamentar, ou ficar para o ano que vem.
Corte em emendas
Ontem, Haddad disse ainda que, caso os ajustes propostos não sejam aprovados, haverá impacto direto em contingenciamento e bloqueio de recursos públicos. Todos os setores seriam impactados, entre eles as emendas parlamentares. Ao ser questionado se o corte nas emendas seria de R$ 7 bilhões, ele afirmou:
— Esse número está subestimado. O impacto sobre contingenciamento vai ser maior.
De volta à polêmica:
O ministro também citou a lei contra o devedor contumaz, que tenta coibir a sonegação de impostos de forma repetitiva e usada como tática por pessoas físicas e jurídicas. Haddad comparou a sua situação com a do presidente da Argentina, Javier Milei:
— Eu brinquei com o (Davi) Alcolumbre (presidente do Senado) que deram uma motosserra para o Milei e nós estamos com uma chave de fenda. E isso tem rendido resultados mais consistentes. Não acredito que essa tarefa acabou. Agora, o rumo é o que está sendo dado pelo governo.
Como parte da estratégia do governo, a Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara marcou para hoje o pedido de urgência para o projeto que aumenta a taxação das apostas on-line.
Segundo o presidente do colegiado, Rogério Correia (PT-MG), a escolha tem caráter estratégico: a comissão pode indicar apenas dois projetos por ano para tramitar em regime de urgência no plenário — e um deles será destinado ao texto das bets. A urgência permite que o projeto salte as demais comissões e siga direto ao plenário.
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