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Segurança é o tendão de Aquiles dos Jogos Olímpicos de Paris-2024; entenda

Segundo o presidente Macron, Cerimônia de Abertura, no rio Sena, pode sofrer mudanças por questões de segurança

Agência O Globo - GLOBO 14/01/2024
Segurança é o tendão de Aquiles dos Jogos Olímpicos de Paris-2024; entenda
Paris-2024 - Foto: Reuters/Benoit Tessier/Direitos Reservados

Com uma cerimônia de abertura potencialmente muito exposta, em que os atletas desfilarão em barcos pelo rio Sena, o terrorismo e os ataques cibernéticos tornaram-se os principais desafios dos Jogos Olímpicos de Paris, segundo Thomas Collomb, diretor executivo de segurança de Paris-2024.

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A importância da cerimônia de abertura é considerável: é um dos momentos esportivos mais assistidos do mundo. Depois do desfile, shows acontecerão no Trocadero. Essa será a primeira vez na história que a Cerimônia de Abertura não será realizada dentro de um estádio. A proposta desta Olimpíada, que acontecerá entre 26 de julho e 11 de agosto deste ano, é a de um evento próximo ao público. A maratona, por exemplo, terá prova para atletas e depois para amadores no mesmo percurso.

São esperados 600 mil espectadores, entre público pagante e não-pagante, para ver cerca de 10 mil atletas das delegações, em 100 barcos, desfilarem por seis quilômetros entre as pontes Austerlitz e Iena.

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Pela ideia inicial, 100 mil espectadores ficarão nos cais baixos com lugares pagos (o preço causou polêmica, até 2.700€ ou R$ 14.600) e 500 mil, nos cais altos com acesso gratuito (a bilheteria para a retirada destes tickets não foi aberta ainda).

Segundo o Comitê Local, além do efetivo privado que ainda está sendo contratado, 35 mil policiais e soldados serão mobilizados para o primeiro grande evento dos Jogos. Haverá ainda dois mil agentes privados para monitorar as tendas dos que adquiriram ingressos e outros dois mil agentes municipais em áreas dos cais elevados.

De acordo com os organizadores, a quarta e última etapa do Plano de Segurança Privada será finalizado neste primeiro trimestre do ano. E, apesar das dificuldades, esperam concluir as contratações. O orçamento de segurança “para os Jogos como um todo” passará de 200 milhões de euros (mais de um bilhão de reais).

Para a cerimônia de abertura, serão criados três perímetros de segurança que começarão a funcionar dias antes da festa e que ainda serão alargados em 26 de julho. Algumas estações de metrô, em áreas de alta vulnerabilidade a um possível ataque, serão fechadas.

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A circulação de pessoas e veículos será interditada em uma zona de mais 10km em torno do rio Sena. Moradores e comerciantes terão de fazer um cadastro para acessar essas regiões. Chegou-se a dizer que elas também teriam de registrar quaisquer visitantes que quisessem assistir à ação de suas varandas, janelas, telhados ou até “casas flutuantes”.

— As únicas pessoas que conseguirão passar serão as com um motivo válido, ou seja, as pessoas que vão para o seu hotel, ou para a sua casa, ou as pessoas com bilhete para a cerimônia — disse o chefe de polícia de Paris, Laurent Nunez, motivo pelo qual causou revolta dos moradores e políticos.

Segundo ao canal de TV estatal France 24, o deputado centrista Philippe Bonnecarrere disse que “estas medidas são a marca de um estado de emergência” e que considerava “curioso” que serão aplicadas “numa situação que se supõe ser feliz”. A senadora Nathalie Goulet, também centrista, falou que as medidas eram “um ataque às liberdades”. E que o código QR, que seria fornecido aos moradores após cadastro, exigia “coleta e armazenamento de dados”, exigindo assim “uma explicação” do governo sobre proteção de dados.

Plano B

Os 100 mil bilhetes para a abertura já foram vendidos e há a possibilidade de redução de espectadores no cais alto por questões de segurança. Além disso, apesar de a ministra francesa do Esporte, Amélie Oudéa-Castéra, ter assegurado no início de dezembro que não tinha “plano B” para a cerimônia no rio Sena, o presidente Emmanuel Macron afirmou que a França está preparada para mudanças caso a situação de segurança assim exija.

— Dado que somos profissionais, obviamente existe um plano B, plano C, etc. — disse Macron à televisão France 5, no último dia 20, sem dar detalhes.

Autoridades de segurança europeias alertam para risco crescente de ataques de militantes islâmicos em meio à guerra Israel-Hamas, com maior ameaça vinda de “lobos solitários”, que são mais difíceis de rastrear.

A França vive fase de alerta desde outubro, quando um homem com uma faca matou um professor numa escola no norte do país. Em dezembro, uma pessoa morreu e outras duas ficaram feridas depois que um homem atacou turistas no centro de Paris, perto da Torre Eiffel. Além disso, alertas de bombas em atrações turísticas como Museu do Louvre e Palácio de Versalhes aumentaram.

Dois atentados mancham a história dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. O último, em 1996, quando uma pessoa foi morta e 111 outras ficaram feridas quando uma bomba explodiu no Parque Olímpico de Atlanta. E em 1972, em Munique, quando membros do grupo terrorista palestino Setembro Negro invadiram a Vila Olímpica e 11 israelenses foram mortos no local e após sequestro, fuga em helicóptero e explosão.

Transporte é outra questão

Além disso, segundo a prefeita parisiense Anne Hidalg, transporte e abrigo de pessoas em situação de rua também são questões delicadas.

— Não quero retirá-los ou escondê-los (durante os Jogos). Deveria haver um legado social — disse ela ao Le Quotidien, do canal TMC, no final de novembro.

Hotéis com menos prestígio e que costumam ceder espaços às autoridades para funcionamento de abrigo temporário, planejam alugar quartos durante os Jogos.

Já o ministro do Transporte, Clément Beaune, admitiu que o transporte será um desafio, uma vez que o governo assumiu o “compromisso de que 100% do acesso aos locais de competição poderia ser feito por meio de transportes públicos”. O bilhete de metrô dobrará de preço para cobrir custos operacionais.