Esportes
Storytelling: terceiras camisas unem tradição e criatividade, com ajuda da torcida
Atlético-MG investe em concurso para criação de uniforme em homenagem a momentos históricos. Vasco, Palmeiras e Sport são outros clubes do país a apostar em modelos temáticos
No futebol, o ato de contar histórias sobre grandes jogos e momentos marcantes dos clubes extrapola o limite das quatro linhas. E, nos últimos tempos, essa tradição ganhou espaço em uma plataforma de igual peso: os uniformes dos times. Mais e mais, as terceiras camisas têm sido usadas como ferramenta de storytelling e aproximação da torcida.
Desde 2020, o Atlético-MG promove um concurso para seus torcedores criarem o design do Manto da Massa. Na edição deste ano, que terá o vencedor anunciado na quarta-feira, o objetivo é repetir o bom resultado de 2022, quando 120 mil camisas foram vendidas. O tema é especial: um uniforme de goleiro que relembre a defesa de Victor contra o Tijuana, em duelo da fase eliminatória da Libertadores que terminou no título inédito do Galo, há 10 anos.
O designer de produtos Flávio Markiewicz, que venceu o primeiro concurso do Atlético, em 2020, diz o que é necessário para elaborar uma camisa marcante:
— Para evitar ser literal, é preciso de referências, acumular para poder saber onde você pode abstrair. O que eu sempre recomendo é fazer uma pesquisa e ter palavras-chave voltadas para o seu projeto. No caso do Victor, falam muito de milagre, santo. Uma finalista, por exemplo, puxou a inspiração das nuvens, de pinturas renascentistas, e criou uma textura no fundo da camisa inspirada nessas nuvens. É algo que fica sutil e, ao mesmo tempo, sai do óbvio.
Mais profundidade
Em 2020, Flávio ligou as habilidades com o desenvolvimento 3D à paixão pelo Galo. Ele optou por um projeto que falasse sobre a torcida do clube. Resgatou símbolos tradicionais e apontou para o futuro, como a recém-aberta Arena MRV. Em plena pandemia de Covid, a camisa foi um sucesso: vendeu 110 mil unidades e arrecadou R$ 9 milhões.
— Em qualquer projeto, tento aplicar um pouco disso. Pode ser algo básico, mas, se você conta uma história dentro desse básico, a coisa ganha uma profundidade — avalia o designer.
Para Reginaldo Diniz, sócio-fundador e CEO da End to End, empresa parceira do Atlético-MG e do Vasco nas camisas especiais, os uniformes também servem como uma ponte entre o passado e o presente.
— A gente se orgulha muito de contar histórias que conectam o mais antigo e apaixonado torcedor ao novo fã que se identifica com a forma como a história é contada, atualizando sempre a narrativa, sem perder de vista a inovação, mas baseado nas tradições de cada clube.
No caso do Vasco, o terceiro uniforme, lançado há duas semanas, homenageia o centenário dos Camisas Negras. O time conquistou o primeiro título carioca do clube, em 1923. Na parte interna da gola, estão registrados os nomes dos 11 jogadores campeões na ocasião.
O elenco histórico era formado em maior parte por jogadores negros, que romperam paradigmas racistas e classistas do esporte nos anos 1920 e definiram a história de luta do Vasco. O clube recebeu um pedido de exclusão de 12 atletas de seu elenco e deu origem à Resposta Histórica, motivo de orgulho da torcida até hoje.
— Nós buscamos sempre ajudar o clube a potencializar esse sentimento de orgulho que o torcedor sente da própria história. Essa visão da gestão do Vasco de fomentar as raízes é importante para gerar cada vez mais pertencimento. Foi muito importante para que o próprio torcedor se sentisse representado na luta atual também através dessa camisa — explica Diniz.
Prática generalizada
Outros clubes brasileiros aderiram à tendência. O Palmeiras lançou neste ano uma camisa verde limão ilustrada com linhas que representam os batimentos cardíacos dos jogadores campeões do Brasileirão em 2022. Já o Sport apostou na ligação do escritor Ariano Suassuna com o clube. O terceiro uniforme, batizado de Sport Fino, traz um fundo preto com uma listra vertical vermelha no meio, fazendo referência ao casaco que o escritor usava para assistir às partidas. A frase “felicidade é torcer pelo Sport”, cunhada pelo imortal da Academia Brasileira de Letras, está presente na parte interna da gola.
No ano passado, o São Paulo festejou os 30 anos dos títulos da Libertadores e do Mundial de 1992. O terceiro uniforme foi inspirado no agasalho branco, vermelho e preto que a delegação usava naquele ano.
Fora do Brasil, outros clubes investem nessa onda já há algum tempo. O Ajax, da Holanda, usou, na temporada 2021/2022, um terceiro uniforme em homenagem a Bob Marley, morto em 1981, cuja música “Three little birds” virou um dos cantos preferidos da torcida. A camisa, de fundo preto, tem nas mangas e nas golas as cores vermelha, amarela e verde, símbolos da Jamaica e da música reggae.
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