Economia
Turismo de negócios impulsiona setor no Rio e governo quer garantir mais segurança para a realização de eventos corporativos
Seminário em comemoração ao 25 Anos do EXTRA discutiu soluções e desafios para o setor
Embora o turismo de negócios ou corporativo seja um dos ramos mais promissores para o Estado do Rio, o setor conviveu por muito tempo com a invisibilidade e estava à margem das políticas públicas desenvolvidas para o setor. O cenário começou a mudar quando uma tragédia determinou uma correção de trajetória — o assassinato de três médicos que participavam de um congresso de Ortopedia na orla da Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade, no dia 5 de outubro.
Dados da Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas(Abracorp) mostram a importância deste ramo específico, que registrou, em agosto, um faturamento de R$ 1,250 bilhão — o que representa um aumento de 21,7% em relação ao mesmo mês de 2019, antes da pandemia da Covid-19, quando chegou a alcançar R$ 1,027 bilhão.
As viagens corporativas têm apresentado uma forte recuperação desde o ano passado, com uma demanda crescente nos principais segmentos analisados pela Abracorp. Mensalmente, a entidade verifica os desempenhos de 11 áreas.
A secretária municipal de Turismo da capital, Daniela Maia, avalia que o turismo de negócios no Rio tem potencial para trazer ainda mais visitantes à cidade.
— Atraindo eventos corporativos, conseguimos aumentar a ocupação de quartos em hotéis. Esses turistas estendem a estadia, trazem a família e ficam mais tempo — destacou.
Segundo o Rio Convention e Visitors Bureau, o estado terá 220 eventos somente neste ano, incluindo congressos, simpósios e conferências, grande parte deles do setor de Saúde. Com público estimado em 728.600 participantes, a receita projetada chega a US$ 407,6 milhões, levando em consideração o gasto médio per capita (por pessoa) com hospedagem, alimentação, transporte no Brasil, compras pessoais e turismo na cidade. Por isso, o crime envolvendo três participantes de um dos principais eventos do calendário corporativo repercutiu tão mal, manchando a imagem da cidade.
O ataque a tiros que vitimou os três médicos na Praia da Barra acendeu o sinal de alerta no governo do Rio, que estava alheio aos eventos do segmento. A partir daí, a Secretaria estadual de Turismo passou a estudar estratégias e criou uma plataforma virtual para que os organizadores cadastrem os eventos para que receber apoio logístico e integrado da pasta, em parceria com a Secretaria estadual de Segurança Pública e outros órgãos.
— A segurança é uma questão que precisa ser enfrentada. Mas algumas situações poderiam ser evitadas. No caso dos médicos, eles participavam de um evento que reunia quatro mil pessoas, mas nenhum órgão do governo sabia. Poderia haver uma estrutura específica, com melhor distribuição de policiamento na região, o que poderia ter evitado o crime — ressaltou o secretário estadual de Turismo, Gustavo Tutuca, acrescentando que o governo planeja a distribuição de câmeras inteligentes em regiões específicas da cidade para monitoramento das ruas e reconhecimento facial.
Para o presidente da TurisRio, Sérgio Ricardo de Almeida, a maior preocupação é com a rotina de segurança:
— Nós temos capacidade para sediar grandes eventos. Já fizemos isso vária vezes. Mas a segurança do dia a dia é que preocupa, como a abertura do verão, as praias lotadas. Um evento ruim pode impactar negativamente a imagem da cidade.
Novas rotas aéreas no Galeão
As restrições de voos no Aeroporto Santos Dumont e a consequente ampliação da capacidade do terminal no Antônio Carlos Jobim (Galeão) foram apontadas por participantes do seminário como apostas do setor para atrair mais turistas ao Estado do Rio.
A capital sofreu com uma redução de 40% na movimentação de passageiros aéreos entre 2014 e 2022. O total de viajantes passou de 13,3 milhões, em 2014, para 7,8 milhões, em 2022. Entre as causas da queda estão a pandemia Covid-19. Além disso, houve uma forte crise financeira no período, questões de investimento, infraestrutura e transportes, e desequilíbrio entre os dois terminais da cidade.
— O Galeão era um grande gargalo. Para chegar ao Rio, era uma gincana. O desvio para o Santos Dumont no limite prejudicou muito a cidade. Conseguimos reverter e esperamos atrair mais voos domésticos e internacionais — diz a secretaria municipal de Turismo, Daniela Maia.
Para o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Rio (Abav-RJ), Marcelo Siciliano, o Galeão pode se tornar um hub de voos domésticos e internacionais:
— As companhias aéreas já estão demonstrando interesse, como a British Airways.
Além da empresa britânica, o presidente da TurisRio, Sérgio Ricardo de Almeida, enfatizou que houve um anúncio de aumento de voos da Latam, e possibilidade de três novas rotas com Ita e Air France.
Otavio Leite, consultor da Presidência da Fecomércio RJ e doutorando em Turismo, lembrou que a reorganização pode ajudar a racionalizar os preços das passagens. Ele sinalizou que outra possibilidade para atrair visitantes, sobretudo estrangeiros, é um incentivo ao stopover — quando uma empresa permite que passageiros a caminho de outras cidades no Brasil passem de dois a cinco dias no Rio antes de chegarem aos destinos finais, oferecendo vantagens.
— É possível baratear as passagens e oferecer o stopover na entrada ou na saída pelo Rio. Se houvesse o stopover doméstico, seria o nirvana da atratividade. Mas, para isso, seria preciso ter a adesão dos setores privados — disse.
Infraestrutura decisiva
Um estudo encomendado pela Secretaria estadual de Turismo à Universidade Federal Fluminense (UFF) mostra que o setor pode crescer até 12% nos próximos dez anos, dependendo dos investimentos na área. A ampliação da capacidade dos receptivos e a capacitação de mão de obra são fatores decisivos para aumentar a participação do turismo na economia do estado. Mas autoridades avaliam que a expansão depende ainda de investimentos em infraestrutura e campanhas de divulgação.
Com 65 eventos no calendário oficial da cidade, Paraty, localizada no Sul Fluminense, já não sabe mais o que é a baixa temporada. Autoridades locais dizem que investimentos em infraestrutura e em publicidade estão dando bons resultados. A cidade recebeu R$ 130 milhões, especialmente para a recuperação de rodovias de acesso ao município, como a Estrada Paraty-Cunha e a Rodovia Rio-Santos.
— Ainda sentimos falta de um aeroporto regional na região do Sul Fluminense e do Litoral Norte de São Paulo — disse o prefeito de Paraty, Luciano de Oliveira Vidal.
Para ele, a infraestrutura também passa pela oferta de serviços básicos, como iluminação e conectividade de internet. Ela reclamou das seguidas quedas de energia, inclusive durante a realização da Festa Literária de Paraty (Flip), um dos eventos mais importantes da cidade.
O secretário estadual de Esporte e Lazer, Rafael Picciani, acredita que a organização de infraestrutura adequada ao turismo de uma determinada região também passa pela segurança de uma rede hoteleira e de transporte cadastrados.
Turismo inclusivo é incerto
O aumento dos preços das passagens aéreas também tem assustado e afastado muitos viajantes. Somente no mês passado, aalta nos custos dos bilhetes foi de 23,75%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), medido pelo IBGE.O preço médio das passagens aéreas em viagens nacionais, entre janeiro e março deste ano, foi o maior em um primeiro trimestre em mais de uma década: R$ 592,95. O dado é o mais atualizado do levantamento feito pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Rio (Abav-RJ), Marcelo Siciliano, considera que antes da pandemia de Covid-19 os preços não eram tão altos, o que permitia um turismo mais inclusivo. Segundo ele, as companhias aéreas estão corrigindo as perdas que registram no período de isolamento social e que derrubaram o faturamento.
— Acredito que os preços vão passar por um período de moderação e podem começar a baixar daqui a algum tempo. Vai haver um equilíbrio, e as passagens internacionais também deverão ficar mais moderadas — opinou Siciliano.
Para ele, o colapso de empresas do segmento, especialmente aquelas que operavam com milhas — como a 123 milhas e a Hurb —, não significa uma crise do setor. Siciliano pondera o cancelamento de pacotes de viagens pode ser explicado por transações que não se baseavam na realidade do setor.
— A empresa aérea não vende bilhetes com mais de um ano de antecedência. Então, como a pessoa poderia pensar em comprar um pacote com essa diferença? A matemática não fecha, e isso ia explodir — concluiu
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