Economia

Cemig e Copasa: federalização traz risco de descontinuidade na gestão e perda de eficiência, dizem analistas

Estatais teriam ainda pequena relevância no total da dívida pública de MG, que é de R$ 160 bi

Agência O Globo - GLOBO 23/11/2023
Cemig e Copasa: federalização traz risco de descontinuidade na gestão e perda de eficiência, dizem analistas
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Arquivo

A federalização das estatais mineiras Cemig, Copasa e Codemig, se confirmada, poderá resultar em descontinuidades na gestão das empresas, com perda de eficiência, avaliam analistas ouvidos pelo GLOBO.

Há dúvidas ainda sobre o quão representativa seriam as participações que o estado de Minas Gerais passaria a deter nas empresas e a respeito do quanto seria pago aos atuais acionistas.

Nesta quinta-feira, as ações de Cemig e Copasa apresentam volatilidade, após terem apresentado fortes quedas no dia anterior.

O que causou esse tombo

O movimento ocorre após o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), sinalizar que pode federalizar empresas do Estado como forma de pagar sua dívida pública com a União. Antes, ele vinha anunciando que essas companhias seriam privatizadas.

No caso da Copasa, os analistas apontam haver ainda questões relacionadas à própria operação, uma vez que, por se tratar de uma empresa de saneamento, seria necessário o estabelecimento de acordos com os municípios atendidos pela estatal.

A proposta havia sido feita pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Na véspera, os papéis preferenciais da Cemig (CEMIG4, sem direito a voto) fecharam em queda de 9,7% e as ações ordinárias da Copasa (CSMG3, com direito a voto) caíram 2,8%.

Na manhã desta quinta-feira, o desempenho mais fraco continuava, embora em menor magnitude. Por volta de 12h, Cemig PN subia 0,09% negociada a R$ 11,36 e Copasa ON caía 0,33%, cotada a R$ 18,11.

Mudança 'muito negativa'

Em relatório, analistas do Itaú BBA avaliam uma potencial federalização como “muito negativa” para Cemig e Copsa, pois o processo resultaria em uma mudança na equipe de gestão e nos planos estratégicos dessas empresas.

“A Cemig e a Copasa possuem uma equipe de gestão muito boa, que tem conseguido implementar mudanças para melhorar a eficiência das empresas, apesar da restrições de serem empresas estatais”, escrevem os analistas, em relatório.

O Itaú BBA ainda destaca que a Cemig vendeu ativos não essenciais e tem sido “responsável” na alocação de capital. O banco observa desafios à frente como as negociações políticas na Assembleia Legislativa de Minas Gerais e no Congresso Nacional, além possível análise do acordo pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Pequena fração da dívida de MG

Os analistas do BTG Pactual também questionam a relevância da Cemig e da Copasa diante da dívida que Minas Gerais possui com a União. Isso porque, segundo o banco, o estado possui 51% das ações ON da Cemig, mas apenas 18% do seu capital total.

Nas contas do BTG, isso se traduziria em R$ 6,36 bilhões, levando em conta o fechamento de ontem. Em relação à Copasa, o estado detém participação de 50,03%, o que se traduz em R$ 3,46 bilhões. O banco não tem estimativas para a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig)

“Assim, no total, somam menos de R$ 10 bilhões de reais, cerca de 6% da dívida pendente do estado”, destacam.

Nos cálculos da XP, as participações do Estado também parecem pequenas na renegociação. Usando os valores de mercado da Cemig e da Copasa, a corretora estima um montante de R$ 8,2 bilhões, contra um valor de dívida de aproximadamente R$ 160 bilhões.

Para o BTG, poderia haver valor estratégico para a União em controlar uma concessionária de energia do porte da Cemig, especialmente após a privatização da Eletrobras.

E os acionistas?

A transferência de controle geraria direito de tag along aos acionistas. Esse instrumento protege principalmente o pequeno investidor e garante ao detentor de ações ordinárias a opção de vender seus papéis e receber, pelo menos, 80% do valor por ação embolsado pelos vendedores na transação.

Nesse caso, o instrumento protegeria os acionistas minoritários da Copasa e aos detentores de ações com direito a voto da Cemig. Os detentores de papéis da PN da Cemig não teriam esse direito.

As ações ON da Copasa têm 100% de tag along e as da Cemig, 80%.

Pelos cálculos do BTG, a preços correntes, o governo federal poderá ter que pagar aos detentores do CMIG3 quase R$ 3,57 bilhões devido aos seus direitos de tag along de 80%.