Economia

Banco Central deve cortar Selic em 0,50 ponto percentual

Copom levará taxa básica para patamar de 12,25%, o menor desde março de 2022. Exterior negativo e incertezas fiscais adicionam cautela

Agência O Globo - EXTRA 01/11/2023
Banco Central deve cortar Selic em 0,50 ponto percentual
Banco central - Foto: Leonardo Sá/Agência Senado

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve voltar a reduzir a Selic em 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira, conforme sinalizado. Ainda assim, a percepção dos agentes de mercado é que o espaço para acelerar o ritmo de cortes diminuiu, com a taxa terminal podendo ser mais alta do que o incialmente previsto.

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Caso a redução se confirme, a Selic irá para o patamar de 12,25%, o menor desde março de 2022.

A leitura de que a política monetária nos Estados Unidos seguirá restritiva por mais tempo já vinha gerando pressão sobre as taxas de juros futuros locais. A expectativa é que o Fed, o banco central americano, mantenha os juros inalterados nesta quarta-feira.

A recente piora na percepção fiscal, com sinalizações sobre a possibilidade de alteração na meta de déficit público no próximo ano, e expectativas de inflação ainda acima do centro da meta também devem influenciar no rumo dos juros.

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No último boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo Banco Central do Brasil (BC) com as expectativas medianas do mercado, a estimativa para a Selic ao fim de 2023 seguia em 11,75%. No entanto, ocorreu elevação na projeção para 2024, que passou de 9% para 9,25%.

— Devemos ver um comunicado mais hawkish (favorável à retirada de estímulos) do que o da última reunião. Especulava-se uma aceleração do corte de juros, o que, a meu ver, não há mais espaço. Será um comunicado mais contundente, colocando a questão da desaceleração econômica global. E o Banco Central destaca a questão fiscal em suas comunicações para que se possa manter uma política monetária com esse atual patamar de corte de juros — disse o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti.

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Incertezas fiscais

O sócio da Legend, Ricardo Faria, destaca que ao iniciar o ciclo de corte de juros, o BC colocou a ancoragem das expectativas de inflação, a evolução do hiato do produto (medida de ociosidade da economia) e a dinâmica da inflação como fatores que poderiam influenciar o processo de cortes.

Para ele, caso a meta fiscal seja alterada em 2024, a tendência é que ocorra impacto negativo nas expectativas de inflação.

As metas de inflação são de 3,25% em 2023 e 3% em 2024, 2025 e 2026, com tolerância de 1,50 ponto percentual para cima ou para baixo.

— Algum desses três pilares pode gerar uma reversão dessas expectativas, fazendo com que o Banco Central tenha que ser cauteloso mais à frente. Em 2024, ele vai entender como ficou essa configuração no fiscal, porque, de alguma forma, isso vai gerar mais ou menos dinheiro na economia. Se a meta for alterada e tivermos um contingenciamento menor, podemos ter mais dinheiro rodando na economia, o que pode fazer com que a política monetária tenha que agir – disse Faria.

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Na avaliação do estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, o recente debate sobre a meta não altera o ritmo de cortes em 0,50 ponto percentual, mas contribuiu para uma taxa terminal mais elevada.

— Influencia no debate da taxa terminal do ciclo, dado que uma percepção de piora fiscal eleva a taxa de juros neutra (aquela que nem estimula nem deprecia a atividade) da economia. O BC na última reunião já voltou a trazer um pouco a questão fiscal para o debate e isso deve continuar, com a necessidade de conter os déficits públicos. Mas não vejo com potencial para mudar o balanço de riscos no curto prazo.

Inflação melhor

Para analistas, as surpresas positivas com a inflação corrente dão maior tranquilidade ao Copom. Além disso, apesar da recente deterioração das condições externas, com o início inclusive da guerra no Oriente Médio, a taxa de câmbio permaneceu em patamar próximo a R$ 5 e os preços do petróleo não dispararam.

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— Os dados de inflação de curto prazo têm vindo favoravelmente. A dinâmica estrutural para a taxa de câmbio está mais favorável, com uma balança comercial positiva e fluxo de investimentos diretos que contribuem para o processo de apreciação do câmbio. Mas caso se comece a falar sobre incertezas no âmbito fiscal, isso pode gerar mais instabilidade no câmbio — afirma Faria.

Diferencial de juros

Para o sócio da Legend, a indicação de novos nomes do governo para as diretorias do BC, substituindo componentes tidos como mais conservadores não deve impactar o ritmo de cortes.

— Dentro do conjunto de possibilidades, foram nomes bem escolhidos. Acredito que foram bem recebidos pelo mercado.

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Ele avalia que mais à frente o diferencial de juros da economia brasileira em relação aos Estados Unidos pode ser um ponto de atenção. Nesta quarta-feira, o Federal Reserve, BC americano, também se reúne, com expectativa de que manutenção das taxas;

— Se os EUA tiverem uma taxa de curto prazo e mais longa beirando os 5% e se a Selic for para níveis de um dígito, terão investidores que vão pensar duas vezes se vale a pena correr o risco de estar no Brasil. Mas vai depender também de como o mercado, em termos de taxa nominal, enxerga a dinâmica do fiscal. Se o fiscal tiver bem organizado, poderíamos buscar taxas nominais mais baixas, mesmo com os juros altos nos EUA.