Economia
Banco Central deve cortar Selic em 0,50 ponto percentual, mas mercado vê ciclo de redução menor
Copom levará taxa básica para patamar de 12,25%, o menor desde março de 2022. Exterior negativo e incertezas fiscais adicionam cautela
O Comitê de Política Monetária (Copom) deve voltar a reduzir a Selic em 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira, conforme sinalizado. Ainda assim, a percepção dos agentes de mercado é que o espaço para acelerar o ritmo de cortes diminuiu, com a taxa terminal podendo ser mais alta do que o incialmente previsto.
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Caso a redução se confirme, a Selic irá para o patamar de 12,25%, o menor desde março de 2022.
A leitura de que a política monetária nos Estados Unidos seguirá restritiva por mais tempo já vinha gerando pressão sobre as taxas de juros futuros locais. A recente piora na percepção fiscal, com sinalizações sobre a possibilidade de alteração na meta de déficit público no próximo ano, e expectativas de inflação ainda acima do centro da meta também devem influenciar no rumo dos juros.
No último boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo Banco Central do Brasil (BC) com as expectativas medianas do mercado, a estimativa para a Selic ao fim de 2023 seguia em 11,75%. No entanto, ocorreu elevação na projeção para 2024, que passou de 9% para 9,25%.
— Devemos ver um comunicado mais hawkish (favorável à retirada de estímulos) do que o da última reunião. Especulava-se uma aceleração do corte de juros, o que, a meu ver, não há mais espaço. Será um comunicado mais contundente, colocando a questão da desaceleração econômica global. E o Banco Central destaca a questão fiscal em suas comunicações para que se possa manter uma política monetária com esse atual patamar de corte de juros — disse o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti.
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Incertezas fiscais
O sócio da Legend, Ricardo Faria, destaca que ao iniciar o ciclo de corte de juros, o BC colocou a ancoragem das expectativas de inflação, a evolução do hiato do produto (medida de ociosidade da economia) e a dinâmica da inflação como fatores que poderiam influenciar o processo de cortes.
Para ele, caso a meta fiscal seja alterada em 2024, a tendência é que ocorra impacto negativo nas expectativas de inflação.
As metas de inflação são de 3,25% em 2023 e 3% em 2024, 2025 e 2026, com tolerância de 1,50 ponto percentual para cima ou para baixo.
— Algum desses três pilares pode gerar uma reversão dessas expectativas, fazendo com que o Banco Central tenha que ser cauteloso mais à frente. Em 2024, ele vai entender como ficou essa configuração no fiscal, porque, de alguma forma, isso vai gerar mais ou menos dinheiro na economia. Se a meta for alterada e tivermos um contingenciamento menor, podemos ter mais dinheiro rodando na economia, o que pode fazer com que a política monetária tenha que agir – disse Faria.
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Na avaliação do estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, o recente debate sobre a meta não altera o ritmo de cortes em 0,50 ponto percentual, mas contribuiu para uma taxa terminal mais elevada.
— Influencia no debate da taxa terminal do ciclo, dado que uma percepção de piora fiscal eleva a taxa de juros neutra (aquela que nem estimula nem deprecia a atividade) da economia. O BC na última reunião já voltou a trazer um pouco a questão fiscal para o debate e isso deve continuar, com a necessidade de conter os déficits públicos. Mas não vejo com potencial para mudar o balanço de riscos no curto prazo.
Inflação melhor
Para analistas, as surpresas positivas com a inflação corrente dão maior tranquilidade ao Copom. Além disso, apesar da recente deterioração das condições externas, com o início inclusive da guerra no Oriente Médio, a taxa de câmbio permaneceu em patamar próximo a R$ 5 e os preços do petróleo não dispararam.
— Os dados de inflação de curto prazo têm vindo favoravelmente. A dinâmica estrutural para a taxa de câmbio está mais favorável, com uma balança comercial positiva e fluxo de investimentos diretos que contribuem para o processo de apreciação do câmbio. Mas caso se comece a falar sobre incertezas no âmbito fiscal, isso pode gerar mais instabilidade no câmbio — afirma Faria.
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Diferencial de juros
Para o sócio da Legend, a indicação de novos nomes do governo para as diretorias do BC, substituindo componentes tidos como mais conservadores não deve impactar o ritmo de cortes.
— Dentro do conjunto de possibilidades, foram nomes bem escolhidos. Acredito que foram bem recebidos pelo mercado.
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Ele avalia que mais à frente o diferencial de juros da economia brasileira em relação aos Estados Unidos pode ser um ponto de atenção. Nesta quarta-feira, o Federal Reserve, BC americano, também se reúne, com expectativa de que manutenção das taxas;
— Se os EUA tiverem uma taxa de curto prazo e mais longa beirando os 5% e se a Selic for para níveis de um dígito, terão investidores que vão pensar duas vezes se vale a pena correr o risco de estar no Brasil. Mas vai depender também de como o mercado, em termos de taxa nominal, enxerga a dinâmica do fiscal. Se o fiscal tiver bem organizado, poderíamos buscar taxas nominais mais baixas, mesmo com os juros altos nos EUA.
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