Economia

Um olho fora e outro dentro do balcão: o segredo para o empreendimento que acabou de abrir não acabar por fechar

Conhecimento do mercado que se quer atingir e controle do fluxo de caixa são fundamentais

Agência O Globo - GLOBO 30/10/2023
Um olho fora e outro dentro do balcão: o segredo para o empreendimento que acabou de abrir não acabar por fechar

Pôr uma ideia em prática demanda esforço e cuidados para evitar a falência, que assola três em cada dez microempresas no país. Especialistas apontam que o conhecimento de pontos-chave do negócio, do mercado consumidor e do fluxo de caixa é fundamental.

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O processo, para a gerente de Conhecimento e Competitividade do Sebrae Rio, Margareth Carvalho, deve começar no planejamento de qual produto ou serviço será ofertado. Margareth avalia que, antes de tudo, o potencial empreendedor deve se preocupar com a inteligência de mercado. Compreender quais as tendências no setor, o que já é produzido por concorrentes e o que o público-alvo busca. Essa procura pode ser facilitada, entre outras ferramentas, pelo portal do Sebrae no site inteligenciademercado.rj.sebrae.com.br/.

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O próximo passo é pensar em qual será a inovação que o novo empreendimento pode trazer ao mercado.

— Tem que entregar algo que ainda não exista. O que vou olhar nos meus concorrentes? O que vou comunicar para meus potenciais consumidores? — explica a coordenadora do curso de Administração da ESPM, Frederike Mette. — Sem o diferencial, o risco de fracassar é muito maior, porque aí está concorrendo com quem já oferece o mesmo serviço ou produto.

O empreendedor deve fixar a atenção no que busca o consumidor. O reitor do Ibmec e doutor em Administração Samuel Barros reforça que deve ficar delimitada a diferença entre o desejo do cliente e o do empresário:

— Sua necessidade pode não ser a do mercado. Às vezes, o empreendedor quer investir em algo que sente falta, mas não quer dizer que seja uma carência do consumidor.

Preço é determinante

O futuro empresário deve acompanhar e entender o comportamento do fluxo de caixa e a precificação do item ofertado. São processos que devem ser feitos com cautela para garantir a saúde financeira — um dos principais motivos de falência das pequenas empresas nos primeiros anos.

No cálculo do valor do produto ou serviço, Frederike recomenda que muitos fatores sejam colocados na ponta do lápis: custos embutidos no bem ou serviço, pagamento de mão de obra, manutenção das plataformas de divulgação (como sites ou assinaturas business em redes sociais) e estratégia de comunicação. Tudo isso sem deixar de lado a margem de lucro. A conta ainda deve levar em consideração quanto o cliente está disposto a pagar sem que se comprometa a saúde financeira do negócio.

Ao colocar de pé o empreendimento, Samuel Barros, do Ibmec, recomenda que a empresa tenha uma “caução” para eventuais oscilações de caixa e gastos fora do cronograma sem arriscar falir. Para microempreendedores, que somam a maior parte dos pequenos negócios no país, ele recomenda uma reserva financeira de três a seis meses da média do fluxo de caixa.

— Quando estamos falando de uma empresa de serviços, é um volume muito pequeno de caixa porque não tem estoque, o que dificulta esse processo. Caso seja uma empresa que trabalhe com a venda de produtos, é um volume maior.

Como morrem as pequenas empresas

O Mapa de Empresas, divulgado pelo governo federal, mostra que foram fechadas 736 mil empresas no Brasil no primeiro quadrimestre de 2023. O número representa um aumento de 34,3% em comparação com o mesmo período de 2022.

Esse número é puxado pelo fechamento de micro e pequenas empresas, que hoje representam mais de 93% dos negócios em funcionamento no país. Os mais prejudicados são os microempreendedores: três em cada dez fecharam as portas nos primeiros cinco anos de negócio, de acordo com pesquisa do Sebrae de 2020.

Entre os principais motivos do fechamento, especialistas apontam a desistência frente às adversidades e a má gestão financeira.