Economia

Secretário do Tesouro reconhece dificuldade em atingir a meta de 2024, mas diz que não há discussão sobre mudança

Rogério Ceron deu a declaração antes da fala de Lula, que afirmou que dificilmente o governo irá cumprir a meta de zerar o resultado primário no ano que vem

Agência O Globo - GLOBO 27/10/2023
Secretário do Tesouro reconhece dificuldade em atingir a meta de 2024, mas diz que não há discussão sobre mudança

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, admitiu, nesta sexta-feira, que será difícil atingir a meta de déficit primário (despesas menos despesas, descontados os juros da dívida) zero em 2024, prevista novo arcabouço fiscal. No entanto, ele afirmou que não se cogita, dentro do governo, uma mudança na estimativa da área econômica.

-- Houve uma piora do cenário externo nas últimas semanas. Os indicadores apontam para uma desaceleração econômica no Brasil, e acompanhamos os impactos, mas continuaremos busca por melhor resultado fiscal possível em 2024 -- disse Ceron, ao comentar o resultado das contas do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) de setembro.

As declarações do secretário do Tesouro foram dadas momentos antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que o o governo não deve cumprir a meta de zerar o déficit primário nas contas públicas em 2024. Após a fala de Lula, a Ibovespa fechou em forte queda e dólar subiu.

— Eu acho que muitas vezes (o mercado) é ganancioso demais e fica cobrando uma meta que ele sabe que não vai ser cumprida. Então sei da disposição do Haddad, da minha disposição. O que eu quero dizer é que nós dificilmente chegaremos à meta zero — disse Lula, em café com jornalistas.

Ceron disse que a equipe econômica acompanha as pressões na atividade econômica para 2024, principalmente no cenário externos. Ele acrescentou que, internamente, indicadores sinalizam uma desaceleração econômica.

- Estamos acompanhando esses impactos, e dando os melhores subsídios para os minitros tomarem as melhores decisões. Não estou sinalizando que há ou não perspectiva de alteração, apenas destacando um cenário desafiador -- afirmou.

-- Precisamos ser serenos para enfrentarmos esse cenário com a técnica e a transparência necessária. Por isso é importante termos metas arrojadas, porque sempre há risco de surpresas no caminho --- completou.

Ele enfatizou que a meta de déficit zero em 2024 continua sendo perseguida. Disse que os técnicos estão fazendo um processo de análise acurada dos impactos. Paara 2023, ele citou novas pressões nas despesas primárias, como a antecipação das parcelas de compensação do ICMS aos estados e compensações de fundos de participação aos governos estaduais e municipais.

-- Para 2023, ainda não dá para cravar o efeito das medidas aprovadas no Congresso, que impactam o resultado primário -- disse o secretário.

Em setembro, o governo central registrou superávit primário de R$ 11,5 bilhões, o melhor resultado para o mês desde 2010, quando o saldo ficou positivo em R$ 25,94 bilhões, em valores nominais.No acumulado do ano, no entanto, as contas estão no vermelho em R$ 93,73 bilhões. O resultado do mês também foi puxado por receitas atípicas, como R$ 26 bilhões de dinheiro "esquecido" em fundos de PIS/Pasep.