Economia
Censo IBGE: Santos, cidade mais feminina do país, vive o fenômeno da 'pirâmide da solidão'
Com 54,68% da população do sexo feminino, cidade do litoral de São Paulo tem 100 mulheres para cada 82 homens; proporção de idosos ajuda a explicar a diferença
Todas as quintas-feiras, às sete e meia da manhã, a pedagoga Neuza Motta, de 67 anos, se reúne com um grupo de mais quinze pessoas para praticar tai chi chuan, uma arte marcial chinesa, na orla de Santos. As manhãs na faixa de 7 quilômetros de areia costumam ser movimentadas, com praticantes de corridas, grupos que fazem atividade física e idosos que participam de aulas oferecidas pela prefeitura.
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— Às seis horas da manhã já tem muita gente andando na praia. Tem muita atividade gratuita, gente meditando, gente correndo. Essa oferta diversificada de lazer virou um atrativo para a cidade — diz Neuza, que nasceu e sempre morou em Santos. — Você vê muita gente interagindo na praia. Essa convivência melhora a gente.
No grupo de tai chi chuan da pedagoga, a maior parte dos praticantes tem mais de 60 anos, segundo ela. A maioria é formada por mulheres. Com 1,8 milhão de habitantes, a cidade do litoral de São Paulo chama atenção no censo justamente por essas duas características: a idade e o gênero da população.
Em Santos, 25,3% dos habitantes são pessoas acima dos 60 anos, como mostra o censo de 2022 do IBGE. Mas a cidade chama mais a atenção por outra característica: é o município brasileiro com maior proporção de mulheres. Enquanto a média nacional é de 51,5% de mulheres, em Santos, esse percentual sobe para 54,68%. Para cada 100 mulheres na cidade, há 82,9 homens.
'Pirâmide da Solidão'
A quantidade significativa de idosos santistas é um dos fatores que ajuda a explicar porque os homens são minoria na cidade, segundo Carlos Eugenio de Carvalho Ferreira, coordenador da área de projeção de população da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) de São Paulo.
— Santos passa por um processo de envelhecimento acelerado. Já que a esperança de vida das mulheres é superior à dos homens, essa diferença populacional aumenta à medida que as mulheres sobrevivem. É o que chamamos de 'pirâmide da solidão': nas idades avançadas, a proporção de mulheres é muito maior que a de homens.
Na pirâmide populacional de Santos, essa diferença entre homens e mulheres fica mais evidente conforme o avanço da idade. Na faixa de 85 e 89 anos, por exemplo, são 4.381 mulheres e 1.923 homens na cidade. Isso significa que, para cada 100 idosas nessa etapa da vida, há cerca de 44 idosos.
O pesquisador explica que a 'pirâmide da solidão' é um padrão universal: homens costumam morrer mais cedo que mulheres, por fatores sociais e biológicos. Em Santos, os dados do censo mostram que, em 2010, 54,25% da população era formada por mulheres, enquanto os idosos com idade acima de 60 anos eram 19,4% dos moradores. Conforme a proporção de idosos aumentou, a de mulheres também subiu.
— Santos é uma cidade que já cresceu no passado, mas que nos últimos resultados, mostra uma taxa de crescimento menor. É o mesmo padrão do Estado de São Paulo que, em termos relativos, cresce bem menos do que já cresceu — afirma o pesquisador.
Minoria na política e maioria do funcionalismo
A diferença de gênero na cidade fica evidente também no uso dos serviços públicos. Em 2023, das 795,7 mil consultas realizadas em policlínicas e ambulatórios de especialidades de Santos, 515 mil, ou seja, 64,5%, foram realizadas por mulheres.
Entre os praticantes de atividades esportivas oferecidas pela prefeitura, como o tai chi chuan, cerca de 50% dos alunos tem mais de 50 anos e, em média, 60% dos inscritos são do sexo feminino, de acordo com a Secretaria Municipal de Esportes de Santos.
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Elas são também a maior parte do funcionalismo público. Segundo a Prefeitura, os homens representam 34,6% do quadro de servidores, enquanto as mulheres são 65,4%.
Apesar de serem a maior parte da população santista e de usufruírem mais de serviços públicos, as mulheres são minoria na política da cidade. Em mais de um século, a população elegeu apenas uma mulher como prefeita, em 1988, com a eleição de Telma de Souza (PT). Hoje, a ex-mandatária ocupa uma das duas únicas cadeiras da Câmara de Vereadores de Santos com mulheres, entre 19 homens.
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Na gestão atual, a vice-prefeitura de Santos tem a frente uma mulher — Renata Bravo, que é também secretária da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos da cidade. Ela explica que a demografia do município foi um dos fatores que motivou a prefeitura a criar a pasta, em agosto do ano passado. Hoje, o foco principal está em políticas públicas de empregabilidade e de combate à violência contra mulher.
— Os registros de violência existem em todos os bairros da nossa cidade, infelizmente. Uma das políticas que endereçamos nesse sentido foi a de criação de abrigo sigiloso para mulheres vítimas de violência. — diz Renata, que é também vice-prefeita de Santos.
Segundo a secretaria, 58 mulheres procuraram o serviço de abrigos este ano. Em outra frente, 331 mulheres se inscreveram no curso público de Defesa Pessoal, que formou 2 mil mulheres desde que foi criado.
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