Economia

'Ficou comigo o ônus de reportar algo dessa magnitude', diz ex-CEO da Americanas que revelou rombo

CPI das Americanas ouve nesta terça-feira o executivo Sérgio Rial, que ficou no cargo por apenas nove dias e revelou problemas na empresa

Agência O Globo - GLOBO 22/08/2023
'Ficou comigo o ônus de reportar algo dessa magnitude', diz ex-CEO da Americanas que revelou rombo
Reunião da CPI das Americanas - Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Americanas começou a ouvir nesta terça-feira o depoimento do ex-CEO da empresa Sergio Rial, que revelou a fraude contábil da empresa.

- Depois de meses, tudo ficou mais claro. A dívida bancária era um pedaço de algo maior, que será comprovado pelas autoridades. Ficou comigo o ônus de reportar algo dessa magnitude de uma empresa de 90 anos - afirmou Rial.

O executivo relatou como um "soco no estômago" o momento em que foi avisado e entendeu o que havia acontecido com a contabilidade da companhia:

- No dia 4 de janeiro, dois diretores vieram pra mim, havia um desconforto em explicar o que tinha acontecido. Achava que fosse dívida bancária. Foi quando os diretores me disseram que a dívida não foi reportada. A empresa tinha um patrimônio de R$ 16 bilhões e uma dívida de R$ 36 bilhões. Foi um soco no estômago. Informei os departamentos necessários e comecei as diligências.

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Rial foi CEO da companhia por nove dias e decidiu renunciar no dia 11 de janeiro. Na época, disse que a empresa tinha “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões nos balanços de 2022 e de anos anteriores. Após isso, a companhia entrou com pedido de recuperação judicial e passou a ser alvo da Justiça.

Na CPI, Rial justificou que fez as revelações em uma conversa no BTG, limitada a um público fechado, porque ainda procurava uma solução junto com investidores e se distanciou quando viu que a empresa pediu recuperação judicial.

- A conversa do dia 12 foi aberta, aconteceu no BTG porque ele tinha uma estrutura melhor. Eu não queria ver a implosão da empresa, queria que os bancos e os acionistas de referência encontrassem uma solução, mesmo eu não ficando na empresa. Dado o estado de choque do mercado, eu percebi (que não haveria solução) e me afasto - disse.

Além de Rial, a CPI convocou Flávia Carneiro, ex-superintendente de Controladoria da varejista, mas ela conseguiu um habeas corpus e não deve falar. A executiva fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, segundo os colunistas do GLOBO Lauro Jardim e Malu Gaspar.

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Além de ter sido superintendente de controladoria da Americanas, Flávia era egressa da B2W, braço digital da varejista. Em fevereiro, ela foi afastada de suas funções e depois desligada da Americanas.

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- Olhando a apresentação do Leonardo (atual CEO), você vê uma fraude multidimensional. Com as duas delações feitas, deverá haver elementos contundentes do que se fazia na empresa.

O requerimento dos depoimentos foi de autoria do deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), relator da CPI. Ao justificar o convite a Rial e a convocação para Flávia Carneiro, o deputado do MDB escreveu que a ida deles "é essencial para o esclarecimento dos fatos ocorridos e para o bom andamento dos trabalhos desta comissão".