Economia

Governo prepara mercado de carbono com teto de emissão a grande poluidores

Iniciativa visa a ajudar na transição energética e a alcançar a neutralidade de emissões de CO2 até 2050

Agência O Globo - GLOBO 17/08/2023
Governo prepara mercado de carbono com teto de emissão a grande poluidores
Lula - Foto: CanalGOV

O Brasil criará um limite para as emissões de carbono para grandes empresas poluidoras como parte de uma iniciativa de transição verde destinada a ajudar o país a alcançar a neutralidade de CO2 até 2050, de acordo com um dos criadores do plano.

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O projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva incluirá a criação de um mercado regulado de carbono, além de medidas para acabar gradativamente com os subsídios aos combustíveis fósseis e estimular o uso de veículos elétricos no transporte público, disse Rafael Dubeux, que coordena o programa como assessor especial do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

- São mudanças muito profundas que vão envolver todos os setores da economia - disse Dubeux em entrevista na terça-feira, em Brasília.- O plano significa mais empregos, maior PIB e renda para os brasileiros.

O mercado regulado de carbono afetará cerca de 5.000 empresas que emitem anualmente mais de 25.000 toneladas de CO2 equivalente na atmosfera. Setores como siderurgia e cimento, indústria química e fabricantes de alumínio devem enfrentar os efeitos mais imediatos.

O governo ainda não definiu um nível para o teto. Mas planeja reduzi-lo gradualmente a cada ano até que as emissões sejam neutralizadas, disse Dubeux.

- Isso incentiva as empresas a investir em descarbonização e inovação. E haverá uma forte vigilância do mercado. Temos muita preocupação em garantir que o crédito de carbono brasileiro tenha muita credibilidade internacional - afirmou Dubeux.

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Haddad delineou partes do plano na semana passada, referindo-se a ele como uma tentativa de iniciar uma “transformação ecológica” da economia brasileira.

O governo espera enviar o projeto para criar o mercado de créditos de carbono ao Congresso, onde provavelmente enfrentará resistência de conservadores, nos próximos dias.

Outros aspectos do plano, que segundo Dubeux também incluirão concessões, créditos e isenções fiscais para impulsionar a descarbonização, podem vir por meio de decretos presidenciais ou outras medidas.

O Ministério da Fazenda ainda está calculando o impacto que um mercado de carbono regulado teria, mas Dubeux apontou para um estudo da Confederação Nacional da Indústria que estimou aumento de 2 pontos percentuais do PIB e alta de 20% na renda dos mais pobres nos próximos anos.

Novo PAC

As propostas vêm junto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de R$ 1,7 trilhão, que Lula anunciou na sexta-feira passada e incluirá financiamento para projetos de transição energética e outras iniciativas verdes, disseram o presidente e sua equipe econômica no evento de lançamento.

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Embora muitos de seus investimentos sejam sustentáveis, o PAC também inclui financiamento para iniciativas mais controversas, incluindo a ferrovia Ferrogrão - um projeto para transportar grãos por parte da região da floresta amazônica que foi suspenso por questões ambientais. No início deste ano, o Supremo Tribunal Federal permitiu a retomada dos estudos técnicos do projeto.

Os planos refletem os esforços de Lula para equilibrar as necessidades econômicas imediatas com suas promessas de fazer a transição para um futuro mais sustentável, de acordo com Dubeux.

- O Brasil é um país de renda média-baixa na comparação internacional, e um plano de transformação ecológica não pode parar tudo para começar do zero - acrescentou Dubeux. - É um processo de mudança que queremos que aconteça o mais rápido possível.