Economia
Ganho com práticas sustentáveis na lavoura vai além da receita com produção
Administradores de propriedades sustentáveis dizem que não é caro e nem difícil para agricultores
As discussões sobre práticas sustentáveis na produção de alimentos estão no dia a dia dos produtores rurais, mas muitos ainda deixam essas ações em segundo plano. Afinal, o agro sustentável é para qualquer produtor? Os campeões da sustentabilidade dizem que sim.
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Donos e administradores das propriedades rurais mais sustentáveis do país garantem que, ao contrário do que diz o senso comum, não é caro e nem difícil adotar boas práticas ambientais, sociais e econômicas.
— Um dos meus objetivos é desmistificar que é caro e difícil atuar com sustentabilidade — afirma Juliana Rezende, que produz café no Cerrado Mineiro.
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A agricultora foi uma das vencedoras da sétima edição Prêmio Fazenda Sustentável, iniciativa da Globo Rural que destaca os esforços de sustentabilidade de propriedades rurais de todo o país.
Em uma área de 63 hectares na cidade de Monte Carmelo (MG), Juliana e a família apostam no aproveitamento de 100% dos resíduos da produção do grão. A casca que seria descartada, por exemplo, é triturada e vira adubo.
A boa gestão da água tornou-se pilar para as boas práticas da Fazenda Santa Bárbara, especialmente porque o cultivo de café na região sofreu com problemas climáticos nas três últimas safras.
Assim como Juliana Rezende, em Cristalina (GO), o produtor João Batista do Amaral cuida da natureza como faz com suas plantações de alho e cebola, seus dois principais cultivos. A sustentabilidade das lavouras é certificada desde 2007.
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As cinco fazendas do grupo têm excedente de mata nativa e reflorestamento.
— Sustentabilidade não se faz em uma safra, um ano ou em uma geração, apenas — destaca Amaral.
Em Rondonópolis (MT), uma enorme reserva ambiental convive com lavoura de plantio direto e integração lavoura-pecuária na área de 3,6 mil hectares da Fazenda Verde, a principal propriedade de João Basso, agricultor gaúcho que comprou terras em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em 1970.
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Espécies nativas
O local já recebeu certificado internacional, válido até 2025, por cumprir mais de 106 indicadores de sustentabilidade na produção de soja. Mas os ganhos com a preservação ambiental vão além da receita com as lavouras. A fazenda mantém uma urna funerária com cerâmica de mais de 4 mil anos que indica a presença de povos pré-colombianos no local.
Com o mesmo ímpeto de preservação, na cidade baiana de Caravelas, o produtor Hudson Laviola quer transformar os cem hectares de área produtiva em agrofloresta. Hoje, o gado da propriedade convive com palmeiras nativas como açaí e juçara, além de frutas, como o cacau.
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Ainda neste ano, a Fazenda Anauá deve produzir 1,6 milhão de mudas de árvores de espécies nativas em seus biomas originais. Algumas delas estão em risco de extinção.
Além disso, 80% da água utilizada na irrigação das mudas nos viveiros são reutilizadas a partir de uma bomba d’água movida à energia eólica.
— Temos a maior riqueza do planeta. O que a gente precisa é incentivo para continuar — diz Laviola, que é filho de produtor e atualmente gerencia os negócios da família.
Também na Região Nordeste, a Fazenda Amway Nutrilite, é destaque na produção de vitamina C. Na área de cerca de 1,3 mil hectares que fica na Serra da Ibiapaba, em Ubajara (CE), o cultivo de acerola, agrião e eclipta alba é atrelado à preservação dos recursos hídricos.
Por meio do monitoramento da umidade do solo por sensores e análise climática em tempo real, define-se, com precisão, a quantidade de água a ser aplicada em cada cultivo. O método de irrigação por gotejamento, por exemplo, ajudou a reduzir o uso de água em 60%.
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— As boas práticas agrícolas ajudam a preservar os recursos naturais, a construir um solo saudável, rico em vida e matéria orgânica. Tudo isso, combinado com tecnologia e agricultura de precisão, trouxe eficiência e robustez à nossa cadeia de produção — diz Talita Adeodato, gerente agrícola da fazenda.
Outra aposta é no adubo verde e na redução de defensivos químicos. Nos pomares de acerola há, ainda, uma combinação perfeita com as colmeias de abelhas nativas. Os insetos polinizam as plantações e melhoram a qualidade do fruto.
"Quem trabalha no campo acredita na agricultura sustentável”, diz Joaquim Duran, gerente de operações da fazenda. “Além de acreditar, precisamos compartilhar nossas conquistas. A troca de ideias vai nos fazer melhorar". (Com reportagem de Rafael Walendorff, Lázaro Thor Borges, Venilson Ferreira e Juniel Lehy) .
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