Curiosidades
Da Perna Cabeluda ao enterro da galinha Rafinha, Thiago Gomide reúne em livro 'causos' reais ou fictícios
Colunista do GLOBO, historiador pesquisou as histórias de 'Tá na História Brasil' durante oito anos
O Rio de Janeiro costuma ser considerado uma cidade para poucos, mas essa máxima, segundo o historiador Thiago Gomide, se estende a todo o Brasil. Em seu novo livro, “Tá na História Brasil”, Gomide reúne relatos curiosos de todos os estados e do Distrito Federal, misturando fatos reais e lendas urbanas que, mesmo sem comprovação histórica, acabam ganhando status de verdade entre a população — e, muitas vezes, se tornam ainda mais engraçadas por isso.
No livro, um dos destaques é a famosa Perna Cabeluda do Recife, lenda urbana que voltou ao debate graças ao filme “O agente secreto”, de Kleber Mendonça Filho. A história da perna misteriosa que atacava moradores à noite surgiu de um conto de Raimundo Carrero, publicado no Diário de Pernambuco em 1976. O relato, claramente fictício, ganhou força com supostos testemunhos populares e repercussão em outros veículos, perpetuando-se como uma “verdade” local.
Gomide, também colunista do GLOBO e da rádio CBN, destaca ainda outros episódios insólitos, como o ocorrido em 1971, em São Luís (MA), quando uma rádio local anunciou uma suposta invasão alienígena, provocando pânico e atitudes inusitadas entre os moradores. A pegadinha, inspirada na transmissão de Orson Welles em 1938, ilustra o quanto as fake news fazem parte da cultura brasileira há décadas.
Sobre esse fenômeno, Gomide comenta: “A gente esbarra com entornos fantasiosos para histórias que já seriam interessantes, mas as pessoas vão agregando fatos não comprovados para tornar tudo ainda mais instigante. É um pulo para a propagação de fake news, um mergulho em histórias que poderiam ser contadas com a graça que têm, mas acabam virando piada ou mentira.”
O historiador também reflete sobre como a fantasia influencia o comportamento político e social do brasileiro: “Quando você começa a fantasiar fatos e personagens, cria figuras distantes da realidade. Isso acontece todos os dias, inclusive com políticos e figuras históricas, que passam a ser vistas como acima da média. Toda ficção vai alterando os rumos sociais e políticos do país.”
Apesar das “fábricas de fatos”, grande parte das histórias do livro é genuína e, segundo Gomide, muitas vezes a realidade supera a ficção. Ele cita como exemplo o caso de John Herald Kennedy, tio de John F. Kennedy, presidente dos EUA, assassinado em São Luís em 1933. O autor do crime foi absolvido duas vezes, graças à má reputação da empresa em que trabalhava e ao apoio popular, gerando até um estremecimento diplomático entre Brasil e Estados Unidos.
O livro também aborda momentos épicos como a emboscada em Angicos (SE), em 1938, que resultou na morte de Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros, além de episódios como o fracasso da Fordlândia (PA) e histórias inusitadas, entre elas o enterro da galinha Rafinha, que reuniu duas mil pessoas em Patos (PB), em 2012, a detenção de um pombo “suspeito de ser subversivo” em Cabo Frio (RJ) e até a improvável visita do terrorista Bin Laden a Foz do Iguaçu (PR).
Com linguagem ágil e sabor de almanaque de curiosidades, “Tá na História Brasil” reforça o fascínio nacional por boas histórias, sejam elas reais ou inventadas. O perigo, alerta Gomide, é acreditar em todas elas.
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