Pedro Bial abriu o coração em entrevista à repórter Maria Fortuna e falou sobre etarismo, saúde mental e longevidade criativa.

Você já sentiu o peso do etarismo?

Sim. Existe uma certa 'sem cerimônia', principalmente nas redes sociais. As pessoas se permitem dizer coisas que jamais diriam pessoalmente, como chamar de velho, de forma pejorativa. Não tenho problema com a palavra 'velho', mas há uma tentativa de tratar como 'tio', de forma velhusca. Ainda assim, não posso me queixar. Minha geração está vivendo essa nova velhice. Vamos continuar produtivos, criativos. Sinto que o melhor que tenho para dar é agora. Passei uma vida inteira para poder contribuir de maneira mais importante, mais aberta e franca. Aos 67 anos, estou impressionado com o gás e a vontade de fazer que nem quando era menino.

Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil são exemplos, aos 80 anos, de vitalidade e criatividade.

Paulinho da Viola também. Estou me cuidando. Assim como Isabel, também fui viciado em tabagismo. Faz 20 anos que não fumo, mas fumei muito e isso prejudicou bastante meu pulmão.

E sobre o álcool?

Hoje bebo muito pouco, só uma taça de vinho. Já bebi muito, minha geração pegou pesado.

Como lida com a ansiedade e o excesso de informação? Usa remédios para dormir?

Hoje não uso mais remédio nenhum para dormir. Já usei. Quer dizer... uso antidepressivo desde sempre. Parece que, depois de certa idade, é preciso reequilibrar a química do corpo, pois perdemos naturalmente alguns elementos necessários para funcionar bem. Estou convicto de que o Tai Chi vai me salvar. Mas o que realmente me salva é o amor da minha mulher e dos meus filhos. Eles são, de fato, o sentido da vida.

Falando em antidepressivo, você enfrentou a depressão?

Na virada do século, de 2000 para 2001, tive uma depressão. Foi o único evento na minha vida, mas tenho um pezinho ali. Quando percebo a melancolia se aproximando... Às vezes, a melancolia é bem-vinda, pois permite que certos sentimentos aflorem, que você visite partes de si mesmo que não visitaria se não estivesse triste. Mas, quando percebo, já me antecipo, com terapia.