Curiosidades

Oasis domina plateia em show nostálgico e enérgico em SP

Irmãos Gallagher apresentaram-se para 68 mil pessoas no Estádio do Morumbis, 16 anos após o fim da banda; hoje será última apresentação da turnê de reencontro, ingressos estão esgotados

Agência O Globo - 23/11/2025
Oasis domina plateia em show nostálgico e enérgico em SP
- Foto: Reprodução / Instagram

Foi com a mensagem “This is not a drill” (do inglês, “isso não é uma simulação”) piscando, em vermelho, nos grandes telões que cobriam o Estádio do Morumbis, na Zona Oeste paulistana, que o Oasis encaminhou seu retorno aos palcos paulistanos. Sua última passagem pela cidade tinha ocorrido em 2009, pouco tempo antes da banda ter seu fim decretado sob a mira de mais uma briga entre os irmãos, que seguiram se desentendendo ao longo do tempo. Neste 2025, porém, eles decidiram deixar as desavenças de lado para comandar uma bem-sucedida turnê baseada em hits nostálgicos e competência ao reapresentar o próprio repertório. Em São Paulo, felizmente, a receita de sucesso se repetiu.

Foi por volta das 21h05 que os irmãos Noel e Liam Gallagher filamente brotaram do backstage de mãos dadas, erguidas, como campeões de boxe, para ganhar os olhos da multidão de 68 mil pessoas que os aguardavam, em polvorosa.

Liam logo arremassoou o primeiro par de maracas em direção à plateia antes mesmo de percorrer os trechos de “Hello”, "Acquiesce", "Morning Glory" e “Some Might Say”, a comissão de frente que inaugurou as cerca de duas horas de apresentação. O duo de irmãos, vale dizer, encerra amanhã no mesmo Morumbis a turnê mundial que teve datas no Reino Unido, EUA, Canadá, México, Ásia e Austrália.

Todas as faixas iniciais, como previsto, faziam parte do álbum “(What's the Story) Morning Glory?”, lançado há 30 anos e que, apesar do tempo, não se mostrou uma tarefa grande demais para ser “reprisado” pelos irmãos Gallagher nesta noite em São Paulo. Estava lá, por exemplo, o vocal malandro e rasgado de Liam, sem dificuldade de soar áspero nas horas certas — e, como era de se esperar, portando a postura desafiadora que lhe é particular, cantando com os braços cruzados para trás e o corpo pendente em direção ao microfone.

O público reagiu com emoção, apesar de ainda distrair-se bastante para filmar as grandes canções. Um dos momentos de pura conexão entre plateia e banda, porém, se deu quando Liam pediu para que a multidão fizesse o tal “Pozan” — tipo de comemoração herdada do futebol em que a multidão fica de costas para o palco e começa a pular. No original, é preciso que desconhecidos deem os braços numa grande onda humana. Em São Paulo, porém, não foi bem assim que funcionou, mas mesmo a tentativa permitiu que um visual impressionante, cheio de energia caótica, tomasse conta do estádio. Foi, portanto, o início perfeito para “Cigarettes & Alcohol” — uma primeiras das faixas do álbum “Definitely maybe”, de 1994, brotar no repertório.

Por falar em futebol, os olhares mais atentos notaram um totem em escala humana do treinador Pep Guardiola, hoje a frente do Manchester City, time de futebol e grande paixão dos irmãos, estratégicamente localizado no palco.

Os Gallagher, por sua vez, foram econômicos nas interações, não conversaram um com o outro e mesmo as trocas de olhares pareciam raras. No desenho do palco, Liam apareceu mais centralizado e se permitia ser captado performando pelas câmeras (como, por exemplo, quando fingiu “benzer-se” com água de uma garrafinha plástica comum). Noel, mais ao lado, empunhava a guitarra e, por vezes o violão, mas mantinha-se mais recuado e menos iluminado.

Noel brilhou, porém, quando apresentou sozinho aos vocais as canções “Talk Tonight” (dedicada às mulheres da plateia), “Half of the World Away” e “Little By Little”, menos explosivas e mais introspectivas. Foi nesse momento em que a plateia rompeu em gritos de “Noel, Noel, Noel!”, que agradeceu timidamente.

O show foi levado com certa reverência pelos fãs. Alguns chegaram a se filmar entrando na arena em pura comemoração por ter consguido um dos concorridos ingressos para ver a reunião dos irmãos. Outros trajavam temas da banda da cabeça aos pés, desde o chapeu tipo “bucket” que remete ao estilo de Liam, até às camisas do City.

Repetindo com exatidão o script da turnê, a banda evidentemente deixou um espaço generoso do setlist para seus sucessos mais arrasadores. A plateia, portanto, pode se entregar aos vocais (e na bonita harmonia de vozes) em “Stand By Me”, “Live Forever” e “Don’t Look Back in Anger” — a última delas com as câmeras dos telões virados para a plateia, justamente para que todos tivessem uma vista privilegiada do mar de mãos e de faces emocionadas. Em “Wonderwall”, Liam demorou a cantar o refrão, preferindo regir o coral de vozes que urrava as célebres estrofes.

Sem dedicar muito tempo a qualquer excesso (o palco mesmo era bastate econômico, sem plataformas elevadas ou exagero de leds, apenas bons telões no teto e atrás da banda), os britânicos economizaram na conversa e fizeram sua homenagem ao país por meio da camisa da Seleção Brasileira trajada por Paul "Bonehead" Arthurs. Há alguns meses, o músico chegou a deixar algumas datas da tour por conta de um tratamento de câncer de próstata, mas marcou presença no Brasil. Na Argentina, onde se apresentaram na semana passada, a banda tinha exibido imagens de Maradona (1960-2020) no telão ao som de "Live Forever".

Para acabar só faltava mesmo a levemente psicodélica “Champagne supernova” a deixa para que um show de fogos anunciasse o fim da jornada. Amanhã, para outros 68 mil fãs, o Oasis volta para o palco do Morumbis. Depois dessa data o futuro para eles é incerto. Definitivamente um talvez.