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Como uma 'humilde' couve em jade conquistou palácios e turistas?Conheça o tesouro que se tornou patrimônio da Cidade Proibida na China

Escultura minúscula virou símbolo cultural e estrela do Museu do Palácio Nacional em Taipé

Agência O Globo - 18/11/2025
Como uma 'humilde' couve em jade conquistou palácios e turistas?Conheça o tesouro que se tornou patrimônio da Cidade Proibida na China
Foto: CC BY-SA 2.0 / AK Rockefeller / China Indusry

O que faz milhões de turistas enfrentarem longas filas para ver… uma couve? A pergunta parece despretensiosa, mas conduz a uma história que mistura arte imperial, disputa e até diplomacia internacional, elementos que transformaram uma pequena escultura de jade em uma das obras mais famosas da Ásia.

Vão nos substituir?

No Museu do Palácio Nacional, em Taipé, Taiwan, o fenômeno gira em torno da Couve de Jadeíte — uma escultura de apenas 19 centímetros, talhada em tons naturais de verde e branco, que parece ter sido recém-colhida do campo. Criada por um artista desconhecido, a peça impressiona pela textura minuciosa e pelos insetos esculpidos entre as folhas, resultado do uso habilidoso das imperfeições naturais da pedra.

Símbolo de fertilidade e disputa cultural

Segundo a CNN, a couve ganhou fama duradoura não apenas pela técnica, mas pelos significados que carrega. Associada à pureza feminina, fertilidade e prosperidade, a obra teria integrado o dote de uma consorte do imperador Guangxu, no fim do século XIX. Embora historiadores questionem parte dessa narrativa, o simbolismo ajudou a obra a conquistar o imaginário popular — a ponto de inspirar pelúcias, miniaturas e produtos diversos dentro e fora da loja do museu.

Tal como grande parte do acervo de Taipé, a escultura integrou a Cidade Proibida, em Pequim, antes de ser transferida para Taiwan durante a Guerra Civil Chinesa. Outras instituições chinesas, como o Museu do Palácio de Pequim e o Museu de Tianjin, também abrigam couves de jade. Mas nenhuma tornou-se tão célebre quanto esta, exibida desde 1928 e convertida em ícone nacional — mesmo sem o título oficial de Tesouro Nacional.

Documentos sobre sua origem são escassos. Pesquisadores apontam que pouco se sabe sobre quem encomendou, esculpiu ou primeiro a preservou. Após a queda da dinastia Qing, em 1912, a peça foi encontrada dentro de um vaso na Cidade Proibida. Em 1968, virou selo nacional em Taiwan — impresso mais de 3,5 milhões de vezes — e consolidou sua imagem no cotidiano da população.

Para especialistas entrevistados pela CNN, a popularidade supera o valor histórico. Enquanto parte do público a considera um “tesouro dos tesouros”, alguns curadores observam que a obra se equipara a muitas outras esculturas da dinastia Qing. Ainda assim, ela integra o trio apelidado por guias turísticos de “hotpot de couve com porco”, ao lado da Pedra em Forma de Carne e do vaso ritual Mao Kung Ting.

A fama, porém, cobra seu preço. O museu reforça a segurança constantemente — um cuidado necessário em uma ilha sujeita a sismos. Nas raras ocasiões em que viaja para exposições internacionais, a peça segue em contêiner especial, escoltada por polícia e funcionários até o aeroporto. Antes de 2024, sua última saída do país havia sido em 2014, quando visitou o Japão.

Este ano, no centenário do Museu do Palácio, a Couve de Jadeíte foi enviada à República Checa, junto com mais de 130 artefatos, em um gesto interpretado por Pequim como “ação separatista”. Taiwan rebateu, chamando a iniciativa de simples intercâmbio cultural. A exposição em Praga segue aberta mesmo após um email anônimo ameaçar incêndios e ataques caso o evento continuasse — situação que levou museu e autoridades checas a reforçar a segurança.

Para o curador da mostra, Ondřej Crhák, ouvido pela Radio Prague International, a viagem tem significado histórico. É a primeira vez que a couve aparece na Europa, e, considerando seu papel na cultura chinesa e no imaginário taiwanês, descreveu-a como “uma oportunidade rara”.