Curiosidades
Estilo art déco comemora 100 anos com exposição em museu parisiense que lançou a estética para o mundo
Capital parisiense as artes decorativas dos Anos Loucos com coleções de joias, mobiliário, vestidos e desenhos
Em 1925, a “Exposition internationale des arts décoratifs et industriels modernes”, em , consagrava um novo estilo. O art déco, como viria a ser chamado no futuro, rompia com as curvas e conchas do art nouveau, privilegiando uma geometria reta e limpa e materiais incomuns. A riqueza se fazia discreta. O “estilo 1925”, como era então conhecido, viajou o mundo e deu forma a vestidos, joias, cerâmicas, mobiliário e projetos arquitetônicos em cidades como , , e o .
Bénédicte Savoy:
Louvre:
Ainda influente e amada um século depois, a estética volta ao seu berço com a exposição “1925-2025. Cent ans d’Art déco”, em cartaz até 26 de abril no Musée des Arts Décoratifs, em Paris. Reunindo mais de 1.200 obras, revisita seu nascimento, apogeu e permanência.
— Nosso acervo de art déco é um dos maiores do mundo — diz Mathurin Jonchères, assistente de conservação do museu e um dos responsáveis pela curadoria. — Entre 1906 e 1922, o museu abrigou o salão da Société des Artistes Décorateurs, que teve influência decisiva sobre o movimento. Em 1966, fomos o primeiro a empregar o termo art déco em sentido científico, ao organizar a exposição “Le style 1925”.
A exposição de 1925 recebeu 15 milhões de visitantes e reuniu 21 artistas de países europeus.
— As peças, que transformavam o marfim, as madeiras exóticas e o jade em símbolos de sofisticação e exclusividade, só estavam ao alcance dos afortunados. Esse elitismo foi criticado na época, mas ajudou a construir o mito do art déco como a expressão máxima do refinamento francês — conta Jonchères.
O impacto no Brasil pode ser visto em diversas fachadas das cidades brasileiras, no formato de portões, janelas e letreiros. Ícones do estilo incluem o edifício Itahy, em Copacabana; o Banco de São Paulo, no centro histórico da capital paulista; ou o Palacete Jeha, em Belo Horizonte. As ruas de Paris têm espaços como o Palácio da Porte Dorée, o cinema do Grand Rex, as piscinas do Molitor e o interior do café La Coupole.
O estilo perdeu força ao longo do século XX, mas renasceu com colecionadores e decoradores como Jacques Grange, um dos primeiros a combinar móveis art déco com peças contemporâneas.
— Muitos criadores de hoje retomam técnicas como a marchetaria de palha, a laca ou o galuchat — observa o curador. — Outros preferem referências mais sutis, reinterpretando motivos e formas de maneira pessoal.
Embaixada francesa: estilo total
Na exposição de 1925, um grupo de decoradores concebeu o projeto de uma embaixada francesa no pavilhão do país. O objetivo era apresentar o art déco como um estilo total, unindo arquitetura e mobiliário. Os ambientes incluíam um escritório-biblioteca de Pierre Chareau com um teto em cúpula e um quarto de André Groult repleto de materiais exóticos (mobiliário coberto de pele de arraia e uma cômoda ornamentada com amazonita).
A nova exposição sublinha o papel dos desenhos para a preservação do projeto, exibindo o salão e a sala de jantar (foto) realizadas por Henri Rapin. Ainda na decoração, a mostra dá grande destaque à obra de Jacques-Émile Ruhlmann. Embora não tenha participado da embaixada, ele é considerado o mais audacioso dos ensembliers do art déco, muitas vezes comparado a Riesener, o luxuoso marceneiro de Luís XVI.
O icônico Expresso do Oriente
Criado em 1883 para ligar Paris a Istambul, o Expresso do Oriente se consolidou como um símbolo do art déco e do luxo, um verdadeiro “mundo em movimento”. Com seus veludos de Gênova, couro de Córdoba e tapeçarias da famosa manufatura Gobelins, virou cenário de filmes e livros, como “Assassinato no Expresso do Oriente”, de Agatha Christie, e “Expresso do Oriente”, de Graham Greene. A decoração original era assinada por nomes do art déco como René Lalique e René Prou.
A curadoria da exposição recriou um vagão inteiro do icônico trem, adaptando-o para o século XXI. Conciliando o cuidado artesanal e as inovações contemporâneas, a peça busca honrar a estética art déco original, como mostra na foto acima esta suíte projetada pelo arquiteto Maxime d’Angeac, atual diretor-artístico do Expresso do Oriente (agora administrado pelo Grupo Accor).
Joias e funcionalidade
O art déco começa a ganhar destaque na joalheria na virada do século XX. Com linhas retas e ângulos agudos, suas formas enfatizam a funcionalidade e a elegância gráfica. Inspirada pelo cubismo, o futurismo e o construtivismo, a nova estética exalta o ritmo da era industrial. Isso se reflete na escolha de materiais inusitados para a época, como o metal cromado, o alumínio e o aço inoxidável. A
Autor do broche de ouro e prata da foto acima, Jean Desprès (1889-1980) privilegiou a matéria “bruta” às pedras preciosas a partir dos anos 1930. Ele é considerado um dos artistas mais inovadores do movimento e chegou a ter obras recusadas por serem “modernas” demais. Mas sua produção também encantou celebridades como a cantora e dançarina Josephine Baker.
Pintura para vestir
A casa de moda parisiense Marguerite Pangon participou da exposição original de 1925 com diversos objetos. O vestido de veludo de seda da foto foi tingido por batik — um método javanês que Madame Pangon (1872-1969) importou de forma pioneira para a França. A técnica conferia às suas roupas uma textura visual rica, com padrões complexos e coloridos. Com um trabalho próximo da pintura, ela se via mais como uma “artista-decoradora” do que como uma costureira.
Cartier e exotismo
Montado em 1927 pela Cartier com design de Maurice Couët, o relógio acima ilustra o fascínio pelo exotismo oriental. A peça usa um contraste de cores caro ao art déco: a base de ônix negro polido se contrapõe à grande superfície de jade branco esculpido.
Ela também é um exemplar dos chamados “pêndulos misteriosos”. Surgida em 1912, a proeza técnica da Cartier fez sensação ao criar uma ilusão de ótica em que os marcadores parecem flutuar (nesse caso, movimentando-se por um cristal de rocha transparente). A exposição conta com nada menos do que 80 peças da Cartier (entre colares, nécessaires, diademas e documentos de arquivo), que refletem a evolução dos gostos da elite.
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