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Repercussão da série 'Tremembé' impulsiona buscas por livro proibido sobre penitenciária

Autor de 'Diário de Tremembé', Acir Filló, denuncia censura e afirma que obra foi banida por expor interesses de detentos influentes

Agência O Globo - 05/11/2025
Repercussão da série 'Tremembé' impulsiona buscas por livro proibido sobre penitenciária
- Foto: Reprodução

A estreia da série "Tremembé" em uma plataforma de streaming reacendeu o interesse pelo livro proibido "Diário de Tremembé — O presídio dos famosos", escrito pelo ex-prefeito e jornalista Acir Filló. A obra, que relata o cotidiano e os bastidores da penitenciária de Tremembé, voltou a ser um dos temas mais buscados na internet, apesar de permanecer sob embargo judicial desde 2019. Mas, afinal, por que o livro segue totalmente banido?

Relatos de dentro da prisão

O livro "Diário de Tremembé" foi redigido por Acir Filló enquanto ele cumpria pena na P2 de Tremembé, após ser condenado a quase 20 anos por corrupção. No relato, o jornalista detalha suas interações com detentos célebres, como Cristian Cravinhos, Gil Rugai, Lindenberg Alves, Mizael Bispo de Souza e Guilherme Longo.

Em 2019, a juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, da Vara de Execuções Criminais de Taubaté, determinou a suspensão da publicação, alegando violação à privacidade dos detentos e inclusão de "informações ou fatos não legítimos ou reportados".

Segundo a magistrada, o livro seria um conjunto de "fofocas" e, dos vários detentos mencionados, apenas três teriam dado autorização formal — sendo que dois deles acusaram o autor de distorcer relatos e inserir informações não verídicas.

O desembargador João Morenghi, relator do processo no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), afirmou à época que a medida não configurava censura, mas sim proteção à imagem dos presos, todos sob tutela do Estado. "Não se discute que qualquer tipo de censura é nefanda e deplorável. Porém, conforme bem demonstrado pela magistrada, no caso concreto se verifica também o direito da preservação da imagem dos detentos retratados, os quais estão sob guarda estatal", declarou.

Desde então, o livro desapareceu de livrarias, bibliotecas e sites. Com a repercussão da série, internautas demonstram interesse renovado pela obra. "Agora estou com fome desse livro", comentou um usuário do X. Vale lembrar que a série do Prime Video é inspirada em outro título, "Tremembé: o presídio dos famosos", do autor do blog "True crime".

Posicionamento de Acir Filló

A defesa de Acir Filló sustenta que a proibição do livro se deu devido à exposição de manobras de detentos famosos para obter vantagens — entre elas, a denúncia de que os problemas de saúde e a prisão domiciliar de Roger Abdelmassih teriam sido uma fraude. Já a Justiça alega que Filló não tinha permissão para escrever a obra dentro do sistema penal.

— Meu livro foi proibido porque mexeu com poderosos, inclusive Roger Abdelmassih. Ele continua poderoso mesmo preso. Meu livro foi censurado por isso — afirmou Acir Filló, após a repercussão da série "Tremembé".

O jornalista segue buscando a liberação judicial do livro e reforça que não pretende desistir.

— Estou recomeçando a batalha. É inadmissível censurar um livro em um país que diz viver num Estado Democrático — diz. — Nenhum dos personagens me processou. Tenho autorizações. O Supremo Tribunal Federal já pacificou a questão de biografias. Estamos vivendo como se fosse nazismo, queimando livros. A penitenciária de Tremembé só existe com aquela estrutura porque o Estado dá privilégios para manter presos famosos calados, para não denunciarem a falência do sistema. É um acordo velado. Os criminosos notórios recebem melhores empregos na prisão, possibilidade de circular em todas as dependências e até atendimento médico externo sem pedir.