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Descontentamento em Palmeira: carnaval sem brilho, esvaziado e salários de contratados atrasados

Redação 13/02/2024
Descontentamento em Palmeira: carnaval sem brilho, esvaziado e salários de contratados atrasados
Praça da Independência, carnaval de 2024 - Foto: Whatsapp

A cidade de Palmeira dos Índios, tradicionalmente conhecida por suas festas vibrantes de carnaval, este ano enfrenta uma realidade desoladora que vai além da falta de folia. A Tribuna do Sertão tem sido inundada por denúncias preocupantes: cerca de 1.500 prestadores de serviços contratados pela prefeitura local ainda aguardam o pagamento de seus salários. Este cenário de incerteza financeira contrasta agudamente com a imagem do prefeito Júlio Cezar, que, distante das dificuldades enfrentadas por seus munícipes, desfruta de momentos de lazer fora da cidade, acompanhado de sua família e da tia Júlia. Nenhum vereador também se fez presente ao QG da folia.

O descontentamento se acentua com a realização de um carnaval considerado por muitos como insuficiente e de baixo orçamento, limitando-se a atrações locais. Este fato coloca Palmeira dos Índios em desvantagem em relação a outras cidades alagoanas como Piranhas, Olho D'Água das Flores, São José da Laje, Campo Alegre, São Sebastião, Piaçabuçu e União dos Palmares, apenas para citar alguns, onde a festa popular se apresenta com toda sua efervescência tradicional. A ausência de figuras emblemáticas do carnaval, como o próprio prefeito, o Rei Momo, a rainha e Zé Pereira, bem como a tradicional passagem das chaves da cidade, rompe com uma tradição carnavalesca que vinha sendo honrada há mais de 50 anos.

O Secretário de Cultura de Palmeira dos Índios Cássio Júnior compartilhou em suas redes sociais um momento do carnaval, onde poucas pessoas estão dançando diante do palco instalado na Praça da Independência. O vídeo onde o prefeito foi marcado, não foi repostado pelo próprio.


SEM DINHEIRO NÃO DÁ

Uma das denunciantes, que preferiu manter-se anônima, expressou sua frustração à Tribuna do Sertão: "É carnaval, e os contratados de Palmeira estão sem salário. Será que sai na quarta-feira de cinzas ou só no final do mês? Sem falar no desconto de 50 reais todo mês, além da previdência, que eles alegam que desconta 50 a mais agora por causa do aumento na taxa de contribuição. Ótimo, dia 15 chegando e os servidores sem salário. Cadê a folha unificada que ele prometeu? A falta de respeito é imensa e quem reclama já sabe, é rua."


Indagada como o jornal poderia ajudar, ela falou: "Se ele não pagar ao menos a população vai ter conhecimento. Os credores acham que a pessoa que não quer pagar e não acreditam que não recebemos já que o prefeito vai a rádio dizer que já pagou todo mundo".


Sem dinheiro, o folião não pode brincar o carnaval, nem honrar seus compromissos e se recolhe as suas casas para no máximo assistir a folia pela televisão.

Este cenário levanta questionamentos profundos sobre a gestão municipal do prefeito-imperador Julio Cezar e o compromisso com a transparência e o bem-estar dos trabalhadores que sustentam os serviços essenciais da cidade. Ele deseja se manter no poder através de sua tia Julia – numa espécie de terceiro mandato. Mas o descontentamento popular e a aparente desconexão entre as prioridades da administração municipal e as necessidades de sua população lançam uma sombra sobre o que deveria ser uma das mais alegres épocas do ano. A expectativa agora gira em torno de respostas e ações concretas por parte da prefeitura de Palmeira dos Índios para resolver estas questões pendentes e restaurar a confiança de seus munícipes.

ENTRE A ABUNDÂNCIA DE RECURSOS E A ESCASSEZ DE CELEBRAÇÃO


Em meio a uma atmosfera de descontentamento e questionamentos, emerge uma interrogação que ecoa pelas ruas de Palmeira dos Índios: por que a festa mais emblemática da cultura brasileira não recebeu os investimentos necessários para sua celebração à altura? Apesar de ser uma das maiores cidades de Alagoas, com uma população estimada em 73 mil habitantes, onde apenas 10% viajam para curtir a festa em outros municípios, Palmeira dos Índios vivenciou um carnaval que deixou a desejar, especialmente quando comparado ao esplendor observado em outras localidades.

A cidade, conhecida por seu potencial econômico significativo, com recursos que ultrapassam a marca de R$100 milhões provenientes da Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL), além de empréstimos milionários destinados a investimentos e sobras de recursos destinados ao combate da COVID-19, levanta indagações sobre as decisões de alocação de seus fundos. Tais recursos, somados à renda própria oriunda de impostos e ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM), apontam para uma capacidade financeira que, em teoria, permitiria uma celebração carnavalesca memorável.

Nas cidades vizinhas, o carnaval é uma festa prestigiada com grande expressividade, um momento de alegria e união que atrai tanto locais quanto visitantes. No entanto, em Palmeira dos Índios, apenas cerca de 10% da população opta por viajar para participar das festividades em outros municípios, o que ressalta a importância e a expectativa de um carnaval local forte, capaz de reter seus cidadãos e oferecer a celebração que merecem.

A falta de investimento adequado no carnaval deste ano não apenas privou a população de Palmeira dos Índios de sua mais célebre manifestação cultural, mas também levantou questionamentos sobre as prioridades da gestão municipal. Em um contexto onde a transparência e a eficiência na aplicação dos recursos públicos se fazem essenciais, a comunidade questiona as razões que levaram a uma celebração abaixo das expectativas, especialmente diante da abundância financeira reportada.


SAUDOSISMO DOS VELHOS CARNAVAIS

O ex-vereador Geraldo Ribeiro, no alto de seus 83 anos, lembrou via whatsapp com um olhar saudoso, relembrando os dias de glória dessa festa tão brasileira, quando a cidade era animada ao ritmo da escola de samba de Tonho Cabeleira. Esta figura carismática, com sua marcante escola de samba, era a alma das festividades, percorrendo ruas e bairros, visitando famílias e espalhando felicidade por onde passava.

"À você, Tonho, nossa gratidão por toda a animação dessa saudosa escola", expressa Ribeiro, em uma homenagem ao entusiasmo e ao comprometimento de Tonho Cabeleira, que com sua arte e paixão, mantinha viva a essência do carnaval em Palmeira dos Índios. No entanto, um passeio pela cidade durante o carnaval deste ano revela um quadro desalentador: as ruas, antes cheias de vida e cor, agora estão silenciosas, e os blocos, que antes eram a alma da festa, hoje são apenas uma recordação.

Geraldo Ribeiro e Tonho Cabeleira: saudosos carnavais

Geraldo Ribeiro recorda com afeto os carnavais de antigamente, quando a festa se fazia de casa em casa, uma tradição que reunia amigos e famílias em um autêntico compartilhar de cultura e amizade. Nomes como Maninho, Dirceu Sousa, Dr. Adalberto da Caixa, Raimundo Lessa, Beto Tampinha, Noé Simplício, Edval Gaia, Carlinhos Augusto, Geraldo Sampaio, Helio Teixeira, Ivan Barros, Gileno Sampaio com o Bloco “Os cangaceiros” e tantos outros, são mencionados como os protagonistas desses encontros festivos, que reforçavam os laços da comunidade e enriqueciam o tecido social de Palmeira dos Índios.

Atualmente, a nostalgia por esses tempos é alimentada pela televisão, assistindo aos carnavais do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador e além. Essa distância entre o presente e os gloriosos dias de festa local serve como um lembrete doloroso do que foi perdido e do potencial para reconstrução. Este relato não é apenas uma viagem pela saudade, mas também um apelo para que as novas gerações de Palmeira dos Índios possam um dia experimentar a magia do carnaval tal como foi vivenciada.

Este cenário deixa uma lacuna não apenas na tradição cultural da cidade, mas também na confiança dos munícipes na gestão de seus recursos. A população de Palmeira dos Índios merece respostas claras e ações concretas que não apenas esclareçam as decisões tomadas para este carnaval, mas que também assegurem que festividades futuras reflitam o rico potencial cultural e econômico da cidade. Afinal, o carnaval, mais do que uma festa, é uma expressão da identidade e do espírito comunitário de um povo.