Alagoas
Bienal do Livro de Alagoas: com Meio do Céu, Ubiratan Muarrek leva o Brasil ao divã
Autor paulista e a escritora Adriana Lomar participam da mesa “Assombrados pela Escravidão”, no dia 3 de novembro, às 14h
Depois de atravessar São Paulo, Rio, Lisboa, Recife e Brasília, Meio do Céu — o mais recente livro de Ubiratan Muarrek, publicado pela Assírio & Alvim — chega agora à Bienal do Livro de Alagoas, onde o autor participa da mesa “Assombrados pela Escravidão”, no dia 3 de novembro, às 14h, ao lado da escritora e pesquisadora Adriana Lomar.
No centro da conversa: o Brasil que ainda não se libertou da própria herança, o país fragmentado entre o riso e o colapso — e a possibilidade de uma nova linguagem nascer do choque entre o Nordeste profundo e o olhar de um autor paulista que o escolheu como território estético, ético e afetivo.
Em Meio do Céu, Muarrek transforma o diálogo entre Greta e Sofitel, uma negra e uma branca, recifenses em Londres no dia da queda do Concorde em 2000, em metáfora da modernidade em queda livre. No Suplemento Pernambuco, o livro foi descrito como “um voo arriscado sobre as ruínas do século XXI”, uma narrativa que devolve ao leitor o desconforto e a beleza do país em sua vertigem.
Escrito em forma de peça teatral, sem narrador, o texto faz da língua brasileira um campo de batalha — e da tragicomédia, uma forma de resistência.
A presença de Muarrek na Bienal alagoana reafirma seu mergulho no Nordeste como método criativo. Além de Meio do Céu, o autor desenvolve a série documental Crianças do Cariri, com produção da Miração Filmes e direção de Sérgio Roizenblit, que será filmada a partir de 2026 para a TV Brasil. A produção revisita o universo mítico e arqueológico do Cariri, narrado pelas próprias crianças do sertão.
Entre o real e o onírico, a série propõe um novo imaginário nordestino — uma fábula contemporânea sobre infância, ancestralidade e futuro.
Outro desdobramento desse ciclo é a peça Mãe Coragem, escrita para a atriz Fátima Patrício, uma adaptação brechtiana ambientada em Canudos, onde o desespero e a fé se confundem sob o sol sertanejo.
Esse conjunto de obras — literária, teatral e audiovisual — faz do autor paulista um cartógrafo das fraturas brasileiras, de olho no passado e escrevendo para o futuro.
“O Nordeste não é meu cenário, é meu método. Escrever nele e a partir dele é escrever sobre o futuro”, afirma Muarrek. “O português recifense, com sua música e violência, virou o campo onde testei os limites da literatura.”
Como observa o dramaturgo Léo Lama, Meio do Céu “explicita o choque entre o trágico e o cômico, até que um se torne o espelho do outro”. E a poeta Tatiana Eskenazi vê na obra “uma mistura entre Esperando Godot e O Auto da Compadecida, onde a comédia é o disfarce mais perigoso da tragédia”.
Com trajetória marcada pela experimentação — autor dos romances Corrida do Membro (2007) e Um Nazista em Copacabana (2016), semifinalista do Prêmio Oceanos — Muarrek reafirma em Meio do Céu sua aposta na tragicomédia como lente política e moral do presente:
“Nas raízes da comédia há uma capacidade de perigo muito mais ameaçadora do que qualquer sentimento gerado pela tragédia. Tempos ameaçadores pedem arte ameaçadora — não arte ameaçada.”
Em Maceió, Meio do Céu pousa como um espelho turbulento do país — onde o riso, o colapso e a linguagem ainda disputam o direito de dizer o Brasil.
Serviço
Ubiratan Muarrek em mesa “Assombrados pela Escravidão” - Bienal Internacional do Livro de Alagoas
03 de novembro, às 14h
Mais sobre Ubiratan Muarrek
Formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), pós-graduado em Mídia e Comunicação pela London School of Economics e em Dramaturgia pelo Célia Helena, Ubiratan Muarrek é escritor, jornalista e produtor de cinema. É colunista do jornal Público Brasil (Lisboa). Autor dos romances Corrida do Membro (2007) e Um Nazista em Copacabana (2016) — semifinalista do Prêmio Oceanos de 2017 —, Muarrek aposta na tragicomédia como chave para interpretar o Brasil contemporâneo.
FICHA
Título: Meio do Céu
Autor: Ubiratan Muarrek
Edição: 2024
Editora: Assírio & Alvim
Páginas: 210
Classificação: Literatura / Teatro
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