“A vida do pobre não tem poesia”, foi com essa frase, do livro Quarto de Despejo, da escritora mineira Carolina Maria de Jesus, que Pedro Lope da Silva, de 84 anos, estudante da Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJAI) do município de Maceió, deu início à roda de conversa que ocorreu, na manhã nesta sexta-feira (19), na sede do MP Comunitário, no bairro do Vergel do Lago. A iniciativa faz parte do projeto Expresso Leitura, que ganhou recentemente o apoio do Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL), e foi idealizado pela Defensoria Pública Estadual.

Quinzenalmente, MPAL e DPE reúnem alunos do EJAI e pessoas em situação de rua para esse encontro literário que, além de promover o incentivo à leitura, também tem o objetivo de realizar discussões que envolvam temáticas sociais. E para este novo dia de atividades, o livro escolhido foi uma publicação datada de 1960, Quarto de Despejo: Diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, uma obra de forte impacto social. Ao narrar em primeira pessoa a realidade da fome, da exclusão e da desigualdade vividas nas periferias de São Paulo, o livro se tornou um instrumento de denúncia e conscientização, que segue sendo atual e necessário, mesmo após seis décadas da sua publicação.

“Eu tenho 84 anos de idade e sou aluno do EJAI. Tem sido um sonho descobrir o universo da aprendizagem. Hoje tenho a consciência de que ler e escrever nos permite transformar o mundo. E não quero isso apenas para mim, não. Gostaria que todos aqueles que são da classe humilde pudessem receber o apoio necessário para irem à escola. E, para além de sentar numa carteira escolar, que também pudessem ter a oportunidade de debater um livro que é tão importante para quem vive na vulnerabilidade”, afirmou seu Pedro.

Debates e próximos encontros

A leitura e o debate sobre a obra estimularam reflexões profundas acerca da cidadania, da dignidade humana e da luta contra as desigualdades sociais durante toda a manhã desta sexta-feira. “Discutir Quarto de Despejo é muito mais do que falar de literatura, é revisitar uma obra que dá voz a quem historicamente foi silenciado. O relato de Carolina Maria de Jesus continua nos interpelando a refletir sobre pobreza, direitos humanos e justiça social. Trazer esse debate para perto da comunidade é reafirmar o papel transformador do conhecimento e reforçar o compromisso do Ministério Público com a promoção da cidadania e da igualdade”, defendeu a promotora de Justiça Alexandra Beurlen, titular da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos.

A professora Pastora Maria dos Santos também elogiou a iniciativa: “Esse é o tipo de ação que nos faz pensar sobre a importância da leitura como prática capaz de promover inclusão, gerar empatia e abrir caminhos para a superação de barreiras sociais e culturais”, disse ela.

Alunos da Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJAI) e pessoas em situação de rua se envolveram intensamente na leitura e nas discussões, refletindo sobre a realidade narrada na obra e estabelecendo paralelos com as desigualdades ainda existentes na sociedade. O encontro possibilitou diálogos e desabafos sobre temas como vulnerabilidade social, preconceito racial e a luta por dignidade e cidadania.

A iniciativa também contou com a presença da equipe do MP Comunitário, composta por assistente social, psicóloga, estagiárias e outros colaboradores. O projeto Expresso Leitura foi idealizado pela Defensoria Pública do Estado de Alagoas e conta com o apoio do Ministério Público do Estado de Alagoas e da Secretaria Municipal de Educação. O próximo encontro ocorrerá dentro de 15 dias. 

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