Variedades
Sindicatos de artistas saem em defesa de Taís Araújo; treta que começou em 'Vale Tudo'
Sete sindicatos de artistas divulgaram nessa quinta-feira, 13, uma nota conjunta em defesa de Taís Araújo após as declarações de Hugo Gross, ator e presidente do Sindicatos dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões de Rio de Janeiro, o Sated-RJ. Na ocasião, ele criticou a denúncia da atriz ao compliance da Globo após as alterações de Manuela Dias em sua personagem de Vale Tudo.
O Estadão entrou em contato com a assessoria de Taís Araújo e com a emissora, sem retorno até o momento da publicação desta reportagem. O espaço segue em aberto.
Hugo disse, em entrevista ao Metrópoles, sobre a denúncia de Taís: "Está reclamando de negros, porque não teve papel para negro. Hoje, qualquer coisa, é que o negro não teve chance ... Qualquer coisinha 'ah, porque o negro não tem voz'. Ninguém está pensando mais nisso, isso já passou milhões de anos atrás."
O comunicado dos Sateds de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Paraíba e o Sindicato dos Profissionais da Dança de Dança do Rio de Janeiro (SPDRJ) alegou não compactuar com as alegações de Hugo: "Taís posicionamentos e críticas despropositadas ignoram uma realidade amplamente comprovada: a de que artistas e técnicos negros continuam a enfrentar barreiras significativas de acesso, visibilidade e reconhecimento profissional, além de comprovadamente receberem salários e cachês inferiores aos de profissionais não negros." "É lamentável que o dirigente do Sated/RJ utilize um espaço público e de visibilidade para direcionar críticas a artistas, em vez de cobrar responsabilidade das estruturas empresariais e das produções que perpetuam a exclusão e a desigualdade."
Entenda o caso
O caso começou durante a exibição de Vale Tudo, em uma discussão entre Manuela Dias, autora da adaptação, e Taís Araújo, que interpretou Raquel no folhetim, sobre os rumos da personagem. Em uma entrevista à Quem publicada em 27 de agosto, Taís demonstrou insatisfação com a narrativa de Raquel, quando a protagonista voltou a vender sanduíches na praia: "Esse momento de a Raquel voltar a vender sanduíche na praia, eu recebi com um susto. Porque não era a trama original. Para mim, a Raquel ia em uma curva ascendente."
"Como espectadora, eu tinha a expectativa de ver uma mulher negra em outra narrativa. Quando peguei para fazer a Raquel, pensei: 'É a cara do Brasil. Ela vai ter uma ascensão social a partir do trabalho'. Quando isso não aconteceu, confesso que fiquei triste", completou.
O Metrópoles afirmou que uma denúncia foi feita pela atriz ao compliance da Globo e entrevistou o presidente do Sated-Rj e ator Hugo Gross, que é branco, sobre o assunto, em 5 de novembro. "Está reclamando de negros, porque não teve papel para negro. Hoje, qualquer coisa, é que o negro não teve chance. Vale Tudo teve três negros protagonistas. Tem que parar com isso, a vida não é isso. Qualquer coisinha 'ah, porque o negro não tem voz'. Ninguém está pensando mais nisso, isso já passou milhões de anos atrás."
Ele citou uma suposta falta de humildade por parte da atriz: "A gente tem que parar de humanizar essa história de qualquer coisa é negro. Hoje tem um movimento a favor disso que nem deveria ter, porque negro e branco é tudo igual." "Dentro da compliance Não vai dar nada. Não existe perseguição racial. As pessoas estão banalizando isso. O ator não tem sexo, não tem cor. Ele leva alegria e faz você pensar. É isso que tem que ter. E principalmente: humildade!", completou.
Veja o pronunciamento completo dos sindicatos
"Os SATEDs - Sindicatos dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Paraíba e o SPDRJ - Sindicato dos Profissionais da Dança de Dança do Rio de Janeiro; no mês da consciência negra, vêm a público manifestar seu posicionamento diante das recentes declarações feitas pelo presidente do SATED/RJ ao portal Metrópoles, as quais contestam a legitimidade das denúncias de racismo feitas pela atriz Taís Araújo em relação aos procedimentos de compliance da Rede Globo.
Os SATEDs são entidades estaduais autônomas, cada uma com seus princípios, histórico e gestão. O SATED/SP, PR, SC, RS, PE, PB e o SPDRJ não compactuam com discursos que negam, banalizam ou desconhecem a existência do racismo estrutural e institucional no Brasil e, sobretudo, no setor audiovisual. Tais posicionamentos e críticas despropositadas ignoram uma realidade amplamente comprovada: a de que artistas e técnicos negros continuam a enfrentar barreiras significativas de acesso, visibilidade e reconhecimento profissional, além de comprovadamente receberem salários e cachês inferiores aos de profissionais não negros.
Um sindicato existe para proteger trabalhadoras e trabalhadores, e não para persegui-los ou desqualificá-los. É dever histórico e prerrogativa das entidades sindicais lutar contra abusos de poder e desigualdades impostas por contratantes, produtoras e empresas do setor, e não deslegitimar as vozes daqueles que denunciam injustiças. É lamentável que o dirigente do SATED/RJ utilize um espaço público e de visibilidade para direcionar críticas a artistas, em vez de cobrar responsabilidade das estruturas empresariais e das produções que perpetuam a exclusão e a desigualdade.
O papel de um sindicato é estar ao lado da classe trabalhadora, na defesa de condições dignas de trabalho, de remuneração justa e do respeito à diversidade. Cabe às entidades representativas promover o diálogo e a transformação social, e não reforçar narrativas preconceituosas ou relativizar o sofrimento de seus representados.
Os SATEDs acima citados e o SPDRJ reafirmam o compromisso com a construção de espaços e oportunidades de trabalho mais plurais, éticos e inclusivos, em que o talento e o profissionalismo sejam reconhecidos independentemente de cor, credo, gênero, origem ou condição social. Seguiremos atuando com firmeza e solidariedade junto às trabalhadoras e trabalhadores da arte e da técnica, combatendo toda forma de preconceito e abuso, de qualquer origem. Racismo é crime."
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