Variedades
Com shows lotados, mas fora dos festivais, Guilherme Arantes diz: 'Não tenho como competir com o pop do Jão'
Músico, que faz show no Teatro Municipal do Rio, diz que seria uma honra comemorar 50 anos de carreira no Rock in Rio, dividindo o palco com artistas como Belo, Sandy e Mano Brown
Colecionador de hits que já embalaram inúmeros personagens de novelas e conhecido por suas composições sofisticadas, Guilherme Arantes, de 70 anos, não é figura tão presente na TV ou em festivais de música. Mas o artista segue lotando plateias com seus shows, o que vai se repetir neste sábado (9), no palco do Teatro Municipal do Rio, às 20h, no projeto “Mestres da canção’’. Na entrevista a seguir, concedida por telefone, ele fala de como se sente reconhecido por seu público e de como lida com o atual cenário cultural brasileiro: “Não posso competir com o pop do Jão, por exemplo, que é maravilhoso, mas que faz um show para grandes plateias, uma experiência. Guilherme Arantes não é experiência, é um clássico’’, resume.
Apesar de você ser um artista que não está sempre na mídia, o Teatro Municipal do Rio está com lotação máxima para o seu show. É sempre assim?
É um reencontro com o público do Rio e acho que vendeu tudo, o que é uma honra para mim. Mostra que as pessoas me prestigiam. Tenho uma boa recepção sempre. E compartilho essa realidade com outros colegas, como Oswaldo Montenegro e Almir Sater, por exemplo, que têm os shows lotados e não estão num circuito de entretenimento que é poderoso no Brasil. Um modelo que ganhou força desde os anos 90, com a inclusão de novos gêneros como o sertanejo, o pagode, o axé. São shows coletivos, com grandes produções, muitos artistas em um mesmo festival. Não estou fazendo uma crítica, mas esse é o modelo que se estabeleceu. Só que eu tenho uma obra com personalidade e um público leal. Meu estilo é bem peculiar.
Por falar em festivais, você nunca foi convidado para o Rock in Rio?
Não aconteceu. Talvez por uma questão de estilo, de curadoria. Eu sei que não sou um artista de massa, e aí o pessoal não tem muita ideia do que poderia acontecer. Vai que eu tomo uma vaia? Essa pode ser uma preocupação. Mas não é algo que me provoque qualquer sentimento de exclusão. Acho que tudo tem a hora certa para acontecer. E se isso se concretizar, será uma honra. Djavan, que também tem um público muito dele, uma carreira independente, participou. Em 2026, completo 50 anos de carreira, e poderia até apontar quem estaria no palco comigo, um monte de gente canta minhas músicas.
Quem estaria?
Maria Rita, Vanessa da Mata, Ana Carolina, Rogério Flausino, Péricles, Nando Reis, Sandy, Belo e até Mano Brown... Uma quantidade inacreditável de artistas. Fica a ideia! A verdade é que o pop hoje tem pré-requisitos bem diferentes da minha geração de 80, que incluía os Paralamas, o Kid Abelha, o Lulu Santos. Mas eu tenho uma ótima execução em rádios, um segmento nobre com público qualificado.
Você já esteve em tantas trilhas sonoras de novelas. Por que te vemos pouco na TV?
Em abril estarei no “Altas horas’’, já está agendado. O que acontece é que a febre dos talk shows virou uma armadilha. Antes, tínhamos os grandes festivais, depois vieram os programas de auditório como Chacrinha e até o Globo de Ouro. Você cantava com playback, mas cantava. Atualmente, o talk show prioriza a fala, a opinião, e não a música. Os espaços foram se fechando pra nós. Fico pensando no quanto uma Marina Sena, que me agrada bastante e que é muito promissora, tem que batalhar. Porque na minha época a gente tinha o Chacrinha toda semana. Ela está começando a brilhar, mas esses jovens artistas lutam com dificuldade.
Sua relação com a nova geração de artistas é boa?
Não estou soterrado pelo passado, eu estou no presente. Semana que vem me apresento com Roberta Campos, gravei com AnaVitória... Sou bem recebido por artistas do sertanejo, do pagode. Belo gravou uma versão de “Um dia, um adeus’’ que foi sucesso. Isso faz de mim um artista universal. Mas eu não posso competir com o pop do Jão, por exemplo, que é maravilhoso, mas que faz um show para grandes plateias, uma experiência. Guilherme Arantes não é experiência, é um clássico.
Sente-se reconhecido pela trajetória que construiu até aqui?
Acho que estou muito longe de perder a relevância. “Amanhã’’, por exemplo, foi tocada na posse presidencial junto com “Trenzinho caipira’’, de Heitor Villa-Lobos. Nas minhas plateias, tem educador, professor, pedagogo... Eu quero surpreender esse público de qualidade. Não tenho mais 30 anos e todo aquele apelo. Hoje tenho é que fazer músicas inacreditavelmente bonitas que me coloquem numa prateleira especial, que desafiam a mecanização da cultura. Eu tenho que ser o melhor que eu posso ser, uma credibilidade para prezar. Como vou me inserir no mundo de hoje? Para mim é esse o caminho.
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