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Após prisão de Bacellar, nova família ascende na política: Delaroli assume presidência da Alerj interinamente, e partido faz planos para 2026

Em seu primeiro mandato, Guilherme Delaroli (PL) não imaginava que, dois dias após festejar o aniversário, receberia de “presente” o mais alto posto na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj)

Agência O Globo - 07/12/2025
Após prisão de Bacellar, nova família ascende na política: Delaroli assume presidência da Alerj interinamente, e partido faz planos para 2026
Rodrigo Bacellar - Foto: Reprodução / Instagram

Nascido em São Gonçalo, criado em Maricá e sexto deputado estadual mais votado do Rio em 2022 — com votação massiva em outra cidade, Itaboraí —, Guilherme Delaroli (PL) fez 50 anos na última segunda-feira. Em seu primeiro mandato, ele não imaginava que, dois dias após festejar o aniversário, receberia de “presente” o mais alto posto na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj): a cadeira da presidência, que era ocupada por Rodrigo Bacellar (União), preso na última quarta-feira. Interino no cargo, o parlamentar vem de mais um clã político que emerge num estado que já viu outras famílias dominarem, primeiro, redutos locais, para depois expandirem suas fronteiras.

Caso Rodrigo Bacellar:

Mensagens:

O atual mandachuva da Alerj é irmão de Marcelo Delaroli (PL), prefeito de Itaboraí, reeleito para o cargo, em 2024, com mais de 90% dos votos válidos. O deputado também é pai do vereador João Delaroli (PL), atual presidente da Câmara Municipal de Itaboraí. E a marca dos Delaroli na cidade da Região Metropolitana fluminense já aparece para além das urnas. A Maternidade Helena Delaroli, nome da avó do prefeito e do deputado, por exemplo, foi inaugurada em maio de 2023.

Apoio de Altineu

A ascensão do clã começou com Marcelo. Após ser derrotado em algumas eleições municipais em Maricá — onde seu pai, José Delaroli, foi vereador por quatro mandatos —, ele conquistou a suplência para deputado federal em 2014. Em 2017, tomou posse no cargo. No ano seguinte, teve o nome indicado pelo PL para ser candidato a vice-governador na chapa com o senador Romário, mas os dois não foram eleitos.

Dois anos depois, viu uma oportunidade de coligação em Itaboraí, onde iniciaria a escalada num município que, nas últimas décadas, teve outras famílias tradicionais, como os Cáffaro, os Soares e os Salles, se revezando no poder. O “forasteiro” conseguiu desbancar os ex-prefeitos Sérgio Soares e Dr. Sadionel, com 39,3% dos votos válidos. Na eleição seguinte, avançou com o rolo compressor, alcançando os 93,79% dos votos.

Já Guilherme Delaroli, PM da reserva, começou a ficar conhecido quando foi coordenador geral de projetos da prefeitura controlada pelo irmão. Nesse rastro, conseguiu vencer a primeira eleição da qual participou como candidato. Foi em Itaboraí que o deputado estadual conquistou quase metade dos 114.155 votos que o elegeram para seu debut na Alerj. Além da influência familiar, ele teve o empurrão do deputado federal Altineu Côrtes, presidente estadual do PL. E contou com outro padrinho de peso: o governador Cláudio Castro (PL).

Nesse cenário, nos últimos anos a família Delaroli tem contado com cofres abertos do estado para obras em Itaboraí. Só na Avenida Vinte e Dois de Maio, principal via da cidade, o governo do Rio fez um investimento de R$ 260 milhões. As reformas devem terminar em meados do ano que vem, às vésperas da eleição de 2026. O projeto inclui conversão de redes, reestruturação da pavimentação, serviços de duplicação de faixas em alguns trechos, recapeamento do asfalto existente e até implementação de ciclovia e ciclofaixa. Já a prefeitura implementou em 2023 o projeto Laranjinha, com tarifa zero nos ônibus municipais.

Caso TH:

No caso de Guilherme Delaroli, embora tenha ingressado na política pelo PL, ele não é considerado um bolsonarista radical. A família, evangélica, lhe deu base eleitoral, mas ele mostrou força ao prometer obras, principalmente, de asfaltamento em Itaboraí, além de ter bom trânsito com prefeitos e lideranças de cidades vizinhas.

Na Alerj, além da vice-presidência, está em seis comissões: Segurança Pública e Assuntos de Polícia; Obras Públicas; Constituição e Justiça; Minas e Energia; Normas Internas e Proposições Externas Públicas; e Redação. Costuma defender as categorias de policiais e bombeiros e tem boa relação com figuras-chave do governo Castro, como Douglas Ruas, filho do prefeito de São Gonçalo, Capitão Nelson, e atual secretário das Cidades.

Em meio ao maior terremoto político recente da Alerj, Guilherme tem aproveitado essa curta temporada como interino para exibir força política, consolidar alianças e tentar se firmar como um nome de projeção no tabuleiro estadual. Desde que Bacellar foi preso, o interino vem adotando uma estratégia de institucionalidade calculada. Na sessão de quinta-feira passada, abriu os trabalhos sem citar a prisão do presidente afastado — uma tentativa de manter “a ordem na casa”, segundo aliados.

A postura discreta foi acompanhada de gestos simbólicos de força. Guilherme levou ao plenário uma comitiva de apoiadores, incluindo seu irmão, prefeito de Itaboraí, e o prefeito de São João de Meriti, Léo Vieira, além de outros nomes da sua base. A movimentação foi interpretada nos bastidores como um recado direto de que pretende exercer o cargo com autonomia e não aceitará tutelas enquanto permanecer na presidência.

Segundo articuladores, o deputado busca mostrar que, mesmo que sua estadia na cadeira seja temporária, sua influência não é. Ele manteve a agenda da Casa funcionando — deliberou sobre projetos, convocou reuniões, fez promessas a servidores e reforçou que, caso siga no comando, vai priorizar a pauta da segurança pública, uma de suas bandeiras. A movimentação, afirmam integrantes da Mesa Diretora da Alerj, já mira 2026. O deputado quer ampliar seu alcance político e trabalha para consolidar uma imagem de gestor capaz e articulador confiável.

Marcelo Delaroli dá pistas do que vem pela frente. Diz ao GLOBO que a família vem sendo sondada sobre a eleição para o governo do estado.

— Eu não quero ser governador, não. Não tenho a menor vontade. Se fosse há seis anos, até pensava nisso, mas hoje não tenho vontade alguma — afirmou o prefeito. — A especulação existe. O partido quer que a gente avance em outro cargo que não seja só deputado estadual. Não é o que a gente quer, mas algumas lideranças querem que a gente entre nesse desafio.

De olho no Palácio

Quando questionado se a articulação seria para o governo do Rio, ele confirma:

— Sim, para o governo. A direita... O partido quer muito isso.

Ele reforçou que o deputado Altineu Côrtes é hoje o parlamentar que mais direciona recursos para Itaboraí e que tem uma boa relação com Cláudio Castro:

— A gente se dá muito bem. Eu o conheci na reeleição. Antes disso, ele já estava ajudando a Região Metropolitana e Itaboraí de maneira especial. Trabalhei muito pela eleição dele. Ele gosta muito da nossa família; a esposa dele gosta muito da minha esposa. Temos uma relação boa.

Esse entrosamento, segundo aliados, garante apoio a Guilherme Delaroli em um momento único na história da Alerj. Seu irmão, no entanto, não esquece que a situação é delicada. Por isso, deixou um conselho:

— A primeira coisa que eu disse foi: falar pouco. Ele está no olho do furacão, e qualquer palavra errada pode complicar um processo que, por enquanto, está tranquilo.