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Fotógrafo William de Moura morre aos 74 anos no Rio após trajetória marcante no fotojornalismo e no surfe

Carioca de Santa Teresa, que trabalhou no GLOBO, foi pioneiro na fotografia de surfe no país e autor de registros do cotidiano e da história cultural do Rio

Agência O Globo - 24/11/2025
Fotógrafo William de Moura morre aos 74 anos no Rio após trajetória marcante no fotojornalismo e no surfe
Fotógrafo William de Moura morre aos 74 anos no Rio após trajetória marcante no fotojornalismo e no surfe - Foto: Reprodução

O fotógrafo William de Moura, que trabalhou no GLOBO e um dos pioneiros dos ensaios visuais em revistas de surfe no país, morreu neste domingo, aos 74 anos. Carioca de Santa Teresa, fez aniversário em 31 de agosto e deixa uma trajetória reconhecida por colegas e admiradores pelo olhar sensível, pela versatilidade e pela capacidade única de transformar o cotidiano em imagem.

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Segundo a família, William de Moura morreu em decorrência de um câncer agressivo no abdômen, descoberto em setembro deste ano. Ele havia deixado o Jornal O GLOBO em 2009.

A filha mais velha, Flavia Moura, contou que o pai não estava envolvido em nenhum projeto recente e vivia uma fase tranquila:

— Viveu a aposentadoria dele com muita alegria.

Ela afirmou que a perda é dolorosa, mas trouxe algum alívio diante do sofrimento enfrentado nos últimos meses:

Morte na trilha:

— O impacto não é positivo para ninguém. Mas, sabendo que ele estava em sofrimento, a gente entende que talvez tenha sido melhor para ele.

O enterro será nesta segunda-feira, às 10h, em Jaconé, em Saquarema.

A notícia da morte mobilizou amigos e profissionais que caminharam ao lado dele nas redações e nas praias cariocas. Um colega de profissão resumiu assim a perda:

— Que triste. O brother era uma cara maneiro, ligado à natureza. Nunca vou me esquecer de nossas disputas de corrida na areia, que nunca aconteceram — eram sempre uma disputa “de boca”, como ele costumava dizer. Apaixonado pelos filhos e netos. Fica aqui a homenagem.

Chuvas de verão:

De Santa Teresa às redações: o início de um olhar

Nascido e criado em Santa Teresa, bairro onde viveu até os 14 anos, William era filho de dona Nair, dona de casa, e de seu Juvêncio, motorista do embaixador americano. Foi pelas mãos do pai que chegou ao universo dos jornais: adolescente, começou como laboratorista no Jornal O Dia, onde descobriu a fotografia e a edição de imagens — áreas que viriam a moldar sua carreira.

Ainda jovem, ficou entre os três primeiros colocados em um concurso de fotografia promovido pela Prefeitura do Rio sobre o Jardim Botânico. A vitória reforçou a certeza do caminho que queria seguir.

De acara nova:

O pioneiro do surfe

Apaixonado pelo mar, William se aventurou no surfe numa época em que o esporte ainda engatinhava no Brasil. Deixou o universo estritamente urbano para registrar aquilo que mais o movia: as ondas. Seu talento o levou às maiores revistas especializadas do país, como Realce, Fluir e The Best of Peace, onde atuou tanto como fotógrafo quanto como editor de imagem. Foi nesse período que consolidou seu pioneirismo na fotografia de surfe, ganhando respeito entre atletas e profissionais do setor.

O destaque no universo esportivo abriu as portas para o Jornal O GLOBO, onde ingressou por promoção. Ali, expandiu seu repertório e passou a circular entre múltiplas editorias.

Joia de Burle Marx:

Um fotógrafo do Rio

William foi um profissional de muitos mundos. Cobriu celebridades, gastronomia, futebol, basquete, música, natureza, vida urbana e esportes radicais. Seu trabalho transitou do jornalismo diário às peças publicitárias, chegando também ao mercado internacional. Produziu ainda fotografia artística — um acervo descrito pelos que o conheciam como “capaz de enganar o leitor, sem saber se é retrato ou pintura”.

Entre os registros marcantes do cotidiano carioca, estão imagens que atravessam gerações. Em 24 de dezembro de 1988, fotografou Dona Zica, sambista da Mangueira, acompanhada dos netos, assistindo ao capítulo de "Vale Tudo" em que a vilã Odete Roitman é assassinada — cena que voltaria a repercutir quase quatro décadas depois, com a gravação do remake.

Em 27 de março de 1995, registrou Romário, então jogador do Flamengo, provocando o adversário Renato após vencer duas partidas de futevôlei na Praia de Ipanema.

No dia 3 de agosto de 1996, fotografou Edmundo durante sua apresentação oficial como atleta do Vasco.

Essas e outras imagens se somam a um legado que ajudou a contar a história do Rio — por meio de um olhar atento, sempre carregado de humanidade e movimento.

Legado de sensibilidade

William de Moura deixa filhos, netos, amigos e admiradores. Deixa também um acervo que atravessa décadas e revela a pluralidade de um fotógrafo que nunca se limitou a um tema. Do mar às redações, das ondas às grandes personalidades, da arte ao cotidiano, fez de cada imagem uma forma de estar vivo — e de fazer o Rio viver através dele.