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PMs envolvidos em abordagem que acabou com morte de entregador, na Zona Norte do Rio, não usavam câmeras corporais

Caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital e pela Corregedoria da PM

Agência O Globo - 10/11/2025
PMs envolvidos em abordagem que acabou com morte de entregador, na Zona Norte do Rio, não usavam câmeras corporais
- Foto: Reprodução

A Polícia Civil não vai contar com imagens de câmeras corporais que ajudem a esclarecer as circunstâncias em que o entregador Andrew Andrade do Amor Divino, de 29 anos, levou um tiro na nuca, na madrugada de sexta-feira, ao passar por um cerco policial dirigindo um carro, na Pavuna, na Zona Norte do Rio. Apontados como responsáveis pela abordagem ao veículo, dois policiais militares, lotados no 41ªBPM(Irajá), estavam sem o equipamento. As câmeras, que deveriam estar acopladas nas fardas dos militares, ficaram em uma viatura usada pela dupla.

'Mãe, a polícia matou o meu pai':

'Desculpa não traz o pai dos meus filhos de volta':

A informação foi revelada pelo RJTV e confirmada por O GLOBO, nesta segunda-feira. A Delegacia de Homicídios da Capital(DHC) investiga o crime. Já a Corregedoria da PM apura porque os dois policiais não estavam usando as câmeras no momento em que o carro dirigido por Andrew foi atingido por um disparo. Em uma nota, a Polícia Militar admitiu que um dos agentes foi o responsável pelo tiro. O documento diz que os policiais faziam um patrulhamento, próximo ao Complexo do Chapadão, quando homens em três motocicletas passaram atirando em direção aos PMs. Na sequência, segundo o comunicado, um condutor de veículo não obedeceu a uma ordem de parada e avançou o cerco policial. Um dos militares fez um disparo que acertou o motorista. Ele foi levado para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, mas não resistiu ao ferimento e morreu.

A família do rapaz contesta a versão e diz que Andrew não era bandido. Dayane Nicácio Carvalho, de 25, mãe de dois filhos do entregador, disse que o marido voltava de uma comemoração, no carro de um vizinho, com o som alto e os vidros fechados. E que ele não teria ouvido o comando dos policiais. A última troca de mensagens entre os dois foi pouco antes da meia-noite.

— Às 23h59(de quinta-feira) perguntei se ele já estava vindo, e ele respondeu que já estava chegando. Meia hora depois, aconteceu tudo. Toda vez que via uma viatura, ele parava. Era habilitado, o carro estava em dia. Não tinha por que fugir.

Violência:

Quando soube do ocorrido, ela foi até a 39ªDP(Pavuna), mas não havia registro do caso. De lá, seguiu para o Hospital Getúlio Vargas, onde recebeu a confirmação de que o marido havia sido baleado.

— Pedi para não mentirem para mim. Perguntei se ele estava bem, e o policial disse que o estado era grave. Quando puxaram o nome dele, viram que não tinha nada. O policial virou para mim e falou: “Me desculpa”. Mas desculpa não traz o pai dos meus filhos de volta.

Segundo relatos da esposa e de amigos e familiares, Andrew era mototaxista e entregador, e recentemente consertava celulares em casa, na comunidade. O casal estava junto havia oito anos. Dayene conta que eles tinham acabado de comprar uma casa com o dinheiro de um empréstimo feito no banco.

'Vamos provar a inocência dele':

— A gente tinha acabado de começar a pagar a nossa casinha. Simples, mas nossa. E agora eu não sei como vai ser. No começo, a gente não tinha nada. Uma cadeira de carro no lugar do sofá, uma TV velha e uma cama de solteiro. Mas ele nunca deixou faltar comida. Saía de casa com chuva, com frio, para trabalhar. Ele montava a bancada com as ferramentas para consertar celular na mesa, porque a gente não tinha dinheiro para abrir uma lojinha. Era nossa renda. Tenho como provar que meu marido era trabalhador — diz Dayene.

Nas redes sociais, amigos e vizinhos defenderam Andrew, dizendo que ele era “honesto, tranquilo e querido”. Um grupo com quem ele treinava muay thai em um projeto social publicou vídeo em sua homenagem, pedindo justiça.

Em nota, a PM disse que um dos agentes fez o disparo. O documento diz ainda que a corporação instaurou um procedimento para apurar as circunstâncias do fato.

"A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, de acordo com os policiais militares que realizavam patrulhamento próximo ao Complexo do Chapadão, na madrugada desta sexta-feira (07/11), ocupantes de três motocicletas passaram e efetuaram disparos contra os agentes. Na sequência, o condutor de um veículo, que não obedeceu à ordem de parada, avançou pelo cerco policial. Um dos agentes efetuou um disparo, vindo a ferir o motorista. Ele foi socorrido pela equipe ao Hospital Getúlio Vargas, mas não resistiu aos ferimentos. Ocorrência registrada na DH. O comando da unidade instaurou um procedimento para apurar as circunstâncias do fato. Os policiais foram afastados dos serviços operacionais."