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'Vim pedindo dinheiro': mãe viaja de Belém ao Rio para reconhecer corpo do filho morto em operação policial

Na porta do IML, ela torcia para não ter que embarcar de volta com o caixão fechado, sem poder ver o filho, que tinha 30 anos

Agência O Globo - 01/11/2025
'Vim pedindo dinheiro': mãe viaja de Belém ao Rio para reconhecer corpo do filho morto em operação policial
- Foto: Reprodução / Agência Brasil

Nas primeiras horas da manhã de quinta-feira, Ana Claudia Almeida, de 47 anos, desembarcou no Rio de Janeiro vinda de Belém do Pará. Era a segunda vez, em cinco anos, que ela fazia essa viagem desde que seu filho se mudou para a capital fluminense. Arlan João de Almeida havia deixado o Pará fugindo do sistema penitenciário, após uma saída temporária para visitar a família. Agora, Ana veio para levar o corpo do filho de volta para casa.

Em meio à dor da perda, Ana precisou pedir dinheiro emprestado ao irmão para custear a passagem aérea e contou com a compreensão da supervisora na escola pública onde trabalha como merendeira para justificar sua ausência.

— Vim pedindo dinheiro emprestado só para ver meu filho, levar ele de volta para casa. Paguei uns R$ 3.500 de passagem. Deixei meu trabalho, a sorte é que tenho uma chefe que entende a minha dor — relatou Ana.

Na porta do IML, ela revelou a esperança de não precisar retornar ao Pará com o caixão lacrado, sem poder se despedir do filho, que completaria 31 anos na próxima segunda-feira.

— Parece que vão me entregar uma encomenda. Estou vivendo uma segunda perda. E, olha, não passo a mão na cabeça dele, nunca passei. Ele era errado, estava fazendo coisa errada. Sou trabalhadora, nunca peguei nada de ninguém. Não queria essa vida para ele. É muito triste — desabafou.

Dois filhos mortos

Ana Claudia é mãe de quatro filhos: duas meninas e dois meninos. O mais velho e o mais novo morreram após se envolverem com o crime.

— Quando descobri, foi uma tristeza. Conversava muito com eles, dizia que a gente não precisa disso pra sobreviver. Mas a mãe é sempre a última a saber. O que mais me entristece é que ele morreu para defender o crime, não foi pela mãe, por um irmão ou pelos filhos. Ele estava aqui foragido e se manteve lá (no Complexo da Penha) para não ser preso — lamentou Ana Claudia.