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‘A mata cheira a morte’: comunidade vive luto após ação policial que deixou mais de 100 mortos

Tia de jovem morto relata clima de tristeza, indignação e medo entre moradores do Alemão e da Penha após megaoperação

Agência O Globo - 31/10/2025
‘A mata cheira a morte’: comunidade vive luto após ação policial que deixou mais de 100 mortos
Foto: © Folhapress / Daniel Marenco

A dor que tomou conta dos complexos do Alemão e da Penha após a megaoperação que deixou mais de uma centena de mortos no Rio continua ecoando entre os becos e vielas. Josélia Calixta, tia de Gustavo, de 22 anos — um dos mortos na ação —, descreve um cenário de tristeza e indignação.

— Ninguém ri, ninguém escuta uma música, porque se eu não perdi alguém, outro perdeu. Se eu não perdi um amigo, outra pessoa perdeu — relata Josélia.

Segundo ela, o clima na comunidade é de luto coletivo, sentimento que se repete no pátio do Instituto Médico Legal (IML), onde famílias aguardam a liberação dos corpos:

— Aqui vocês vão ver caras e caras inchadas de tanto chorar. Mas ainda tem muita gente desaparecida — afirma.

Josélia conta que, desde a operação, a vida na comunidade parou. Enquanto as autoridades falam em “enfrentamento histórico” ao crime organizado, os moradores enfrentam o trauma e o medo de andar pelas ruas.

— A mata cheira a morte — repete Josélia, descrevendo o ambiente sombrio na região.

Ela relata que o sobrinho será enterrado ainda hoje e que ele era muito querido por todos. A família, segundo Josélia, sempre alertou sobre os riscos daquela vida, mas Gustavo fez suas próprias escolhas e deixa três filhos, entre eles um bebê de apenas sete meses.

— Ninguém está negando o envolvimento deles. Mas estamos acusando de não darem chance para serem presos. E mesmo assim, morto, a gente ainda deveria ter o direito de encerrar nosso luto com dignidade. Estamos há dias tentando encerrar isso e essa espera não acaba — desabafa a tia.

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