RJ em Foco
Prefeitura já removeu 300 km de cabos deixados para trás por concessionárias; é quase a distância entre Rio e Aparecida
Em comunidades, segurança é desafio e técnicos atuam apenas nas ruas principais; Rocinha tem iniciativa organizada pela Associação de Moradores
O excesso de fios nos postes fez com que a prefeitura do Rio, por meio da Rioluz, iniciasse a Operação Caça-Fios, para retirar cabos sem uso. Nos emaranhados, os fios deixados para trás por operadoras de telefonia e internet são os principais alvos da ação, que já retirou 90 toneladas dos postes em três anos (tempo completado pela iniciativa na última quarta-feira), dos quais 20 toneladas só em 2025. Desde outubro de 2022, são mais de 300 quilômetros de cabos, correspondente a uma viagem de ida e volta do Rio a Cabo Frio ou a Nova Friburgo. Ou quase uma viagem só de ida ao Santuário de Aparecida do Norte, em São Paulo.
Aterros do Rio:
Lixo de comportamento:
A Rioluz é a responsável pelas iniciativas. Desde a criação de um grupo de trabalho, composto ainda por Light, Anatel, operadoras de telefonia e internet, assim como a Secretaria de Conservação (Seconserva), no início do ano, grandes operações semanais também contam com reforço de representantes desses envolvidos, segundo Rafael Thompson, presidente da Rioluz. Se, por iniciativa própria, a companhia conseguia cuidar de 250 metros de uma rua, o reforço permite que o trabalho passe de 600 metros numa operação.
— Com operadoras de telefonia e a Light juntas no processo, dá mais velocidade na identificação do que está inservível. Todas as operadoras de telefonia precisam estar cadastradas na Light e pagar uma taxa para utilização dos postes. Mas, hoje, grande parte dos postes é ocupada por provedores que não pagam nenhum tipo de taxa e vão fazendo essa "porcalhada" na cidade — observa Thompson, que calcula que 99% dos fios retirados são de telefonia e internet. — É um trabalho manual. Seria simples chegar no poste, meter um tesourão e arrancar tudo. Mas tem gente correta, que passa o cabeamento como diz a legislação da Anatel e paga a taxa para a Light.
Os locais de trabalho são identificados diariamente por técnicos. Mas o cidadão também pode acionar, através de redes sociais da Rioluz, indicando pontos que mereçam atenção, assim como acionando uma das onze subprefeituras do Rio (os contatos estão disponíveis no site gbp.prefeitura.rio/subprefeituras), que irão acionar a Rioluz.
Cedae x concessionárias:
Após a retirada, o destino dos fios é a gerência da Rioluz em Marechal Hermes, na Zona Norte. Passados 30 dias, se nenhuma empresa se apresentar como proprietária e buscá-los, eles vão a leilão, ou podem ser doados para entidades. Além de toda a Zona Norte, os principais pontos de atendimento são vias principais da Barra da Tijuca e em partes da Grande Jacarepaguá, como na Estrada do Gabinal.
—Acaba sendo um trabalho que a prefeitura não deveria fazer, porque não é ela que instala esse material. Mas, para evitar qualquer tipo de acidente para o cidadão, temos que remover tudo — completa Thompson.
Atualmente, um projeto de lei na Câmara Municipal, de autoria da vereadora Talita Galhardo (PSDB), está em discussão. O texto prevê que toda a fiação da cidade seja cadastrada junto ao município. O que não estiver no cadastro, que deve ser atualizado mensalmente pelas empresas de energia e telefonia, será considerado clandestino e retirado.
O projeto também estabelece multa de R$ 5 mil "por face de quadra com fiação irregular ou em desuso não removida no prazo". O valor da penalidade será dobrado para cada nova infração. Atualmente, segundo o presidente da Rioluz, a prefeitura não dispõe de meios para multar os infratores.
A Light explica que a rede elétrica ocupa a parte superior dos postes, enquanto os cabos mais abaixo são de outras empresas. Entre as responsabilidades dessas outras companhias estão as de "evitar o acúmulo de fios e os chamados 'rolos de reserva técnica' que costumam causar poluição visual", informa a Light.
Por sua vez, o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (Conexis) argumenta que as operadoras "seguem os padrões estabelecidos em regulamentos e normas técnicas para a instalação de fios e cabos nos postes", além de manter "equipes de prontidão para manutenção permanente e atendimento de eventuais emergências".
Já a Seconserva observa que realiza a fiscalização da estrutura dos postes e da existência de fiação sobre o chão. Em caso de inconformidade, o responsável é notificado a realizar o reparo.
Rocinha: emaranhados cobrem luz do sol
Na Rocinha, maior favela do Brasil, a Associação dos Moradores organiza, há cerca de dois anos, mutirões para retirar emaranhados de fios. Segundo William de Oliveira, diretor de Projetos e Relações Institucionais da entidade, havia muitos problemas causados pelos fios, desde curto-circuito e acúmulo de lixo, até o impedimento de a luz solar entrar em becos e casas.
Diante da dificuldade de encontrar profissionais que topassem realizar a retirada de fios inúteis ("Quando a gente trazia o pessoal aqui, eles falavam 'Caraca! A gente não vai conseguir fazer isso, nunca vi algo assim na vida'", relata o diretor), o jeito encontrado foi recorrer a mutirões: já foram ao menos sete no período. Uma nova retirada dos cabos está prevista para os próximos dias, na Rua Quatro.
— Tinha lugar em que eu passava e nunca via o sol. Sempre passava na sombra e o chão estava sempre molhado. Depois da limpeza, o povo começou a receber o sol, ver o céu e ter o ar livre. Melhorou a iluminação, mas também não fica aquela molhadeira nos becos. Isso passou a ser uma ação não só para retirar o fio, mas também de humanização do local — argumenta William.
Dados do edital:
Concessionárias de telefonia costumam ir à Rocinha dias antes dos mutirões, para identificar os fios em uso. Boa parte dos cabos deixados para trás são de telefonia, alguns de empresas que nem existem mais.
William pontua que nem a prefeitura consegue atuar com seu Caça-Fios dentro da Rocinha, por ser algo que, segundo ele, "ultrapassou todos os limites". Mas o presidente da Rioluz observa que, nas comunidades, como Rocinha, e os Complexos do Alemão e da Maré, a atuação é mais focada em vias principais, onde os veículos da companhia conseguem chegar.
— E (tem também) o risco para o funcionário, porque em muitas dessas comunidades a internet é do tráfico e da milícia — justifica Thompson sobre as limitações enfrentadas nesses locais.
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