A política alagoana voltará a ter um nome histórico no plenário da Câmara dos Deputados. A ex-senadora Heloísa Helena, que já foi vice-prefeita de Maceió, deputada estadual, candidata à Presidência da República e uma das vozes mais influentes da Rede Sustentabilidade, assumiu nesta terça-feira, 16 de dezembro, o mandato de deputada federal pelo Rio de Janeiro. Ela é a primeira suplente do deputado Glauber Braga (Rede-RJ), suspenso pela Mesa Diretora por seis meses — punição que transfere temporariamente a cadeira para a suplente.

O retorno de Heloísa Helena, após anos afastada do Congresso, ocorre em um cenário institucional incomum e repleto de limitações operacionais, decorrentes justamente da natureza da punição a Glauber, que não implica cassação nem perda de estrutura administrativa.

Gabinete herdado e pouca autonomia administrativa

Por permanecer como titular, mesmo suspenso, Glauber Braga mantém formalmente o controle da estrutura do gabinete. Assim, Heloísa Helena assumirá o mandato trabalhando com a equipe nomeada pelo deputado suspenso, sem poder substituí-la ou reestruturar o quadro de servidores.

A situação, incomum no Parlamento, impõe restrições reais ao funcionamento típico de um mandato: qualquer mudança administrativa seria juridicamente travada e politicamente sensível, já que o titular reassumirá ao final do período.

Sem emendas: cota já havia sido esgotada

Outro obstáculo concreto será a impossibilidade de apresentar emendas parlamentares. Glauber Braga já havia utilizado toda a cota anual antes da suspensão, inviabilizando que Heloísa Helena destine recursos para municípios ou projetos no curto período em que estará no exercício do mandato.

Sem instrumentos financeiros, a ex-senadora deve concentrar sua atuação em temas de debate nacional — como direitos humanos, educação, saúde, fiscalização de recursos públicos e democracia — áreas nas quais construiu uma marca histórica.

Mandato de seis meses que, na prática, vira quatro

Embora a suspensão seja de seis meses, o mandato útil será de cerca de quatro meses, devido ao recesso parlamentar. O cronograma será: Posse em 18 de dezembro; Recesso legislativo em janeiro; Retomada das atividades em fevereiro; Fim da suspensão em abril.
Mesmo reduzido, aliados afirmam que Heloísa Helena possui energia política e experiência suficientes para transformar esse período em uma atuação intensa e de grande visibilidade.

Uma trajetória marcada por combatividade e expressão nacional

Heloísa Helena é uma das figuras mais emblemáticas da política contemporânea brasileira. Professora, sindicalista, líder de movimentos populares e parlamentar histórica, sempre se destacou pela independência, coragem e discurso incisivo.
Em 2006, quando concorreu à Presidência da República, obteve votação expressiva, consolidando sua reputação nacional como uma das vozes mais autênticas da política progressista.

Seu retorno à Câmara é visto como uma oportunidade para que uma nova geração — e parte da atual — reencontre a figura combativa que marcou o debate nacional nas décadas de 1990 e 2000.

Repercussões em Alagoas e no Rio de Janeiro

Embora assuma como suplente pelo Rio de Janeiro, sua presença inevitavelmente repercutirá em Alagoas, onde sua história política foi construída. Heloísa Helena permanece como uma referência entre: servidores públicos, movimentos sociais, lideranças femininas e parte do eleitorado progressista.

Na Rede Sustentabilidade, sua atuação tende a fortalecer debates internos e reforçar a identidade do partido num momento de redefinição estratégica.

Mesmo com limitações regimentais, Heloísa Helena retorna ao Congresso com capital político, memória pública e legitimidade histórica — ativos suficientes para marcar presença, provocar debates e ocupar espaço mesmo em um mandato curto.