Política

Clara Charf, militante histórica e viúva de Marighella, morre aos 100 anos

Ativista dedicou a vida à luta pelos direitos humanos, igualdade de gênero e resistência à ditadura militar. Fundadora da Associação Mulheres Pela Paz, Clara deixa legado de coragem e compromisso social.

03/11/2025
Clara Charf, militante histórica e viúva de Marighella, morre aos 100 anos
- Foto: Reprodução

A militante histórica Clara Charf, viúva do guerrilheiro Carlos Marighella, faleceu na madrugada desta segunda-feira, 3, em São Paulo, aos 100 anos. Internada e entubada há alguns dias, sua morte foi confirmada por Vera Vieira, diretora-executiva da Associação Mulheres Pela Paz, entidade fundada e presidida por Clara.

“Muita tristeza. Clarinha morreu de causas naturais. Estava hospitalizada há alguns dias, entubada”, declarou Vieira. “Clara deixa um legado de lutas pelos direitos humanos e pela equidade de gênero”, acrescentou.

Clara ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) aos 21 anos, onde conheceu Marighella. Ao longo da vida, dedicou-se às causas populares, à luta feminista e integrou a Ação Libertadora Nacional (ALN), organização de resistência armada criada em 1967 por Marighella em oposição à ditadura militar iniciada em 1964.

O jornalista Mário Magalhães, biógrafo de Marighella, destacou: “Ela foi uma das mulheres mais fascinantes, generosas e destemidas que o Brasil conheceu. Não era corajosa confrontando fracos, mas fortes, poderosos. Dedicou a vida a ajudar quem precisava. Um dia, vão se espalhar escolas, bibliotecas, ruas, praças e pontes com seu nome”.

Após o assassinato de Marighella por agentes da ditadura, em 1969, Clara exilou-se em Cuba, onde viveu na clandestinidade e trabalhou como tradutora. Retornou ao Brasil em 1979, após a promulgação da Lei da Anistia. Em 1982, foi candidata a deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), ao qual permaneceu filiada.

Em nota, o PT lamentou a perda de uma de suas fundadoras: “Nascida em 17 de julho de 1925, Clara completou 100 anos neste ano. Foi um século dedicado à liberdade, à justiça social, ao enfrentamento ao fascismo e à defesa intransigente dos direitos humanos. Sua história se confunde com a própria história da resistência democrática brasileira”.

O partido também ressaltou sua atuação no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e na presidência da Associação Mulheres Pela Paz, criada por ela em 2003, referência na luta contra a violência de gênero e na promoção do protagonismo feminino.

A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também se manifestou: “Clara enfrentou com coragem a repressão, a ditadura e o exílio, mantendo e espalhando a esperança na construção de um mundo mais justo”.

Clara e Marighella mantiveram um relacionamento entre 1948 e 1969. Ela faleceu na véspera do aniversário de morte do companheiro, assassinado em 4 de novembro.

Até a publicação desta reportagem, a família ainda não havia divulgado informações sobre velório e sepultamento.