A vice-prefeita de Palmeira dos Índios, Sheila Maria Duarte, anunciou oficialmente sua desfiliação do Partido dos Trabalhadores (PT), legenda na qual militou por mais de duas décadas. Em nota pública divulgada neste domingo, Sheila afirmou que a decisão foi tomada “com gratidão e serenidade”, ressaltando que deixa o partido, mas mantém os valores éticos e democráticos que marcaram sua trajetória

Na carta, a vice-prefeita recorda seus 21 anos de militância petista, período em que atuou como vereadora, candidata a prefeita e, atualmente, como vice da prefeita Luísa Duarte. O texto expressa reconhecimento ao partido por sua formação política e por ter sido o espaço onde “aprendeu o valor da solidariedade e da justiça social”.

“Encerrar um ciclo também é um ato de respeito à própria história. Acredito que este é o momento certo para abrir novos caminhos, mantendo intacta a coerência que sempre norteou minha trajetória”, escreveu Sheila Duarte na nota.

Bastidores políticos: crise interna e divergências

Nos bastidores, entretanto, a decisão da vice-prefeita tem forte carga política e pessoal. Fontes ligadas ao diretório municipal do PT afirmam que Sheila deixou o partido insatisfeita com o desgaste crescente em torno do processo de demarcação das terras indígenas Xukuru-Kariri, tema que domina o debate político em Palmeira dos Índios.

A vice-prefeita teria avaliado que o apoio público de lideranças petistas à homologação das terras poderia afetar sua imagem política, diante da repercussão negativa entre pequenos produtores rurais do município.

Além disso, vazou a informação de que Sheila teria enviado uma mensagem por aplicativo ao deputado federal Paulão (PT-AL) — aliado histórico e seu principal parceiro político no município — manifestando contrariedade à fala do parlamentar na Câmara Federal, onde ele defendeu celeridade na homologação das terras indígenas.

Conflitos internos

no diretório municipal

Outro fator que teria pesado na decisão de Sheila Duarte foi a disputa interna pelo comando do PT em Palmeira dos Índios. Seu marido, Pedro Paulo Duarte, é o presidente do diretório municipal, e embora permaneça no partido, a vice-prefeita decidiu se desligar da legenda.

Na última eleição do Processo de Eleição Direta (PED), a chapa de Pedro Paulo venceu por margem apertada, e a oposição conseguiu indicar nomes para a executiva muni-cipal. Esses membros, segundo aliados, vêm se contrapondo publicamente às posições políticas do casal, tornando as reuniões internas “tensas e pouco produtivas”.

Apoio a Júlio Cezar e

o reposicionamento político

Outro motivo determinante para a saída foi o compromisso político assumido por Sheila com o ex-prefeito Júlio Cezar (PSD), de quem foi vice na chapa que elegeu sua tia, Luísa Duarte, em 2024. Júlio, que atualmente se prepara para disputar uma vaga na Câmara Federal, conta com o apoio declarado da vice-prefeita.

A fidelidade política ao ex-prefeito colocou Sheila em situação desconfortável dentro do PT, já que o partido deverá lançar ou apoiar um candidato próprio nas eleições de 2026. Com a provável migração de Júlio Cezar para o PSD, partido coordenado pelo governador Paulo Dantas, a vice-prefeita ficaria sem justificativa partidária para não seguir o candidato petista — o que poderia gerar conflitos internos e cobranças formais.

Assim, para manter sua liberdade política e preservar vínculos locais, Sheila Duarte decidiu encerrar seu ciclo no PT, abrindo caminho para apoiar abertamente Júlio Cezar e reposicionar-se no cenário municipal.

O que diz a nota oficial

Em sua nota pública de desfiliação, Sheila reforça que sua decisão “não é um rompimento com os valores que aprendeu no PT”, mas sim “um novo caminho” dentro da coerência que sempre guiou sua vida pública.

“Continuarei a defender um Brasil mais justo, igualitário e solidário, e a apoiar as políticas e lideranças que caminham nesse sentido”, escreveu a vice-prefeita, concluindo com agradecimentos à militância petista e ao povo de Palmeira dos Índios.