Política
Das invasões com os sem-teto ao Planalto, relembre a trajetória de Boulos, novo ministro de Lula
Ex-líder do MTST substitui Márcio Macêdo na Secretaria-Geral da Presidência

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nomeou Guilherme Boulos (PSOL) como novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Aos 43 anos, o parlamentar substitui no cargo Márcio Macêdo, ex-vice-presidente e tesoureiro do PT nacional. Deputado federal pelo estado de São Paulo, Boulos é professor, psicanalista, escritor e ativista.
De olho em 2026,
Malu Gaspar:
A chegada ao Planalto é o mais novo capítulo de sua carreira política, iniciada como militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Ainda hoje, a trajetória de duas décadas no movimento social serve de munição para adversários políticos, que citam invasões de propriedades e atos violentos para atrelarem a ele a pecha de "extremista".
Num dos episódios mais conhecidos, em janeiro de 2017, o então líder do MTST foi detido em meio a uma reintegração de posse de terreno ocupado no bairro São Mateus, na Zona Leste de São Paulo. Boulos foi detido por desobediência judicial e incitação à violência e levado ao 49º DP. Ele passou cerca de 10 horas na delegacia antes de ser liberado mediante assinatura de termo circunstanciado.
Na época, o delegado José Francisco Rodrigues Filho justificou que Boulos poderia ter impedido o confronto das pessoas com a Polícia Militar, que teria envolvido pedras e rojões. O deputado, em contrapartida, reclamou que a prisão teria motivação política. A PM era subordinada ao então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ainda no PSDB, hoje vice de Lula.
Em 2016, o MTST realizou ato na Avenida Paulista, em São Paulo, em repúdio à aprovação da PEC do Teto de Gastos pelo Congresso. O grupo atirou fogos de artifício, pedras e paus no prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e entrou em confronto com seguranças portando cassetetes. Boulos declarou, na época, que os danos na fachada do prédio eram "muito pouco" perto dos danos que a Fiesp estaria causando ao povo.
Em meio à corrida pela prefeitura de São Paulo, no ano passado, Boulos rebateu a participação no ato e a fama de radical. Disse que seu papel era defender "com unhas e dentes" os manifestantes, mesmo quando protestos desandavam para a violência, mas que com o tempo se dispôs mais ao diálogo. A disputa municipal, da qual saiu derrotado, consolidou a ascensão política e partidária do ex-militante.
Logo na estreia em corridas eleitorais, em 2018, Boulos se lançou à Presidência. Com Lula preso em Curitiba, imaginou que herdaria parte de seu eleitorado mais à esquerda. Terminou num frustrante décimo lugar, com 0,58% dos votos válidos. Foi o pior desempenho da história do PSOL, que já havia disputado o Planalto com Heloísa Helena (2006), Plínio de Arruda Sampaio (2010) e Luciana Genro (2014).
Dois anos depois, Boulos se reapresentou como candidato a prefeito de São Paulo. Com apenas 17 segundos no horário eleitoral, apostou nas redes sociais, empolgou os jovens e chegou ao segundo turno com Bruno Covas (PSDB). Recebeu 40,6% dos votos, resultado que impressionou o padrinho político e o credenciou para voos mais altos.
Em 2022, o psolista ensaiou se lançar ao governo de São Paulo. Foi dissuadido por Lula, que o convenceu a apoiar Fernando Haddad (PT) em troca de uma recompensa na eleição seguinte. O acordo se mostraria amplamente vantajoso para Boulos. Ele foi o deputado federal mais votado do estado e acumulou forças para disputar a prefeitura novamente. Lula cumpriu o combinado e forçou o PT a um sacrifício inédito. O partido abriu mão de lançar candidato próprio na maior cidade do país.
Além de montar a chapa, o presidente se empenhou para que Boulos tivesse condições reais de competir. Na convenção que oficializou a candidatura, derramou-se em elogios ao pupilo, a quem chamou de “predestinado”. Com alguma resistência, o candidato aceitou vestir terno, aparar a barba e abrandar o discurso sobre temas como drogas e aborto. Foi ao segundo turno por apenas 56 mil votos e acabou vencido pelo candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB).
Volta à 'esquerda raiz'
Desde a derrota na disputa pela prefeitura de São Paulo, no ano passado, Boulos tomou a frente das mobilizações e dos enfrentamentos do bloco político. Depois de investir na imagem de moderado durante a campanha, em busca do voto dos eleitores de centro, o parlamentar voltou à "esquerda raiz". Assumiu a artilharia contra adversários do governo Lula no Congresso, nas redes sociais e em São Paulo, se cacifando para assumir o lugar de Macedo na pasta responsável pela articulação com os movimentos sociais.
Durante a corrida municipal, ele modulou falas sobre temas como a descriminalização das drogas e o regime político da Venezuela, apontado como ditatorial. Ao final da disputa, participou até de uma live com o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), derrotado no primeiro turno, e afirmou não ser “movido por mágoas”, após ter sido acusado pelo adversário de ser usuário de cocaína.
A partir da derrota para Nunes, Boulos passou a sinalizar o retorno às raízes com um discurso mais à esquerda. No Congresso, o deputado atua como defensor de pautas caras ao governo, como a isenção do Imposto de Renda (IR) para os que recebem até R$ 5 mil, e à sua bancada, como a proposta do fim da escala 6x1, apresentada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL).
Desde abril, circulavam internalmente rumores de que ele poderia substituir Macedo, em uma costura prevista para se concretizar após a eleição de Edinho Silva para a presidência do PT, em julho. Na frente, no entanto, o governo precisou lidar com o tarifaço anunciado pelo presidente americano, Donald Trump.
Em resposta, investiu no discurso de soberania nacional, também replicado por parlamentares governistas, como Boulos. Em paralelo, o deputado manteve a frente de disputa com o bolsonarismo, tido como o articulador da punição americana.
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