Poder e Governo

Pai de ex-diretor da Abin, presidente do Clube Militar critica 'injustas prisões' de generais na trama golpista

Nota assinada por Sérgio Tavares Carneiro faz desagravo a 'respeitados chefes militares'; um dos presos, Heleno, combinou 'infiltração' em campanhas com seu filho

Agência O Globo - 26/11/2025
Pai de ex-diretor da Abin, presidente do Clube Militar critica 'injustas prisões' de generais na trama golpista
Foto: © Foto / Andressa Anholete / SCO / STF

Presidentes de três clubes de militares da reserva divulgaram, nesta quarta-feira, uma nota em que criticam as "injustas prisões" de integrantes das Forças Armadas condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no caso da trama golpista. Entre os signatários está o general Sérgio Tavares Carneiro, presidente do Clube Militar e pai de Victor Carneiro, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O general da reserva Augusto Heleno, um dos militares presos nesta terça-feira, também é citado.

A nota dos clubes militares sustenta que o encarceramento de oficiais de alta patente "levanta preocupações sérias e não pode ser tratado como um ato meramente protocolar". Além de Heleno, foram detidos o general da reserva Paulo Sérgio Nogueira e o almirante Almir Garnier. Já o general Walter Braga Netto, também condenado, cumpria prisão preventiva.

"Torna-se relevante mencionar que as prisões em questão atingem respeitados chefes militares, com passado ilibado, com uma carreira de mais de 40 anos de serviços prestados à nação brasileira, o que deveria ter sido objeto de ponderação em todo o processo e no julgamento", destaca o texto.

O documento foi assinado pelos presidentes de clubes que representam militares da reserva das três Forças Armadas: o Clube Naval, representado pelo almirante Alexandre José Barreto de Mattos; o Clube da Aeronáutica, chefiado pelo brigadeiro Marco Antônio Carballo Perez; e o Clube Militar, ligado ao Exército, presidido pelo general Sérgio Tavares Carneiro.

O general Carneiro é pai de Victor Carneiro, ex-diretor da Abin, promovido ao comando da agência em 2022. Victor precisou se licenciar do cargo à época para concorrer à eleição de deputado federal.

Alexandre Ramagem, também condenado pelo STF no caso da trama golpista, fugiu do país em setembro e está nos Estados Unidos. A Corte determinou a cassação de seu mandato na Câmara dos Deputados.

Victor Carneiro foi citado em uma reunião ministerial de julho de 2022 pelo general Heleno, em episódio que integra o acervo probatório da trama golpista. Na ocasião, Heleno mencionou ter "conversado com o Victor" para "montar um esquema para acompanhar o que os dois lados vão fazer" durante a campanha eleitoral.

"O problema todo disso é se vazar qualquer coisa. Muita gente se conhece nesse meio. Se houver qualquer acusação de infiltração desse elemento da Abin em qualquer um dos lados", afirmou Heleno, antes de ser interrompido pelo então presidente Jair Bolsonaro, que pediu ao general para tratar o assunto "em particular".

A nota dos clubes militares ainda afirma que as penas impostas no caso da trama golpista foram "desproporcionais e desequilibradas, e nem deveriam existir".

"Discordar dessa decisão não significa atacar instituições, mas reafirmar que decisões que afetam diretamente a liberdade de indivíduos devem ser tomadas com total observância ao devido processo legal, especialmente quando há apontamentos relevantes sobre possíveis falhas na análise dos fatos ou na interpretação jurídica aplicada", conclui o texto.