Poder e Governo
Bolsonaro diz ao STF em audiência após prisão que ‘alucinação’ de escuta e ‘paranoia’ motivaram tentativa de romper tornozeleira
Ex-presidente atribuiu atitude a medicamentos e negou intenção de fuga
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou em audiência de custódia no Supremo Tribunal Federal (STF) que a "alucinação" de que haveria uma escuta em sua tornozeleira eletrônica e uma "certa paranoia" motivaram a tentativa de romper o equipamento entre a noite de sexta-feira e a madrugada de sábado. Ele teve a prisão preventiva mantida ao fim do depoimento.
A versão de que ele estava em "confusão mental" também foi a justificativa dada por seus advogados, após o ministro Alexandre de Moraes, do STF, cobrar explicações sobre a violação da tornozeleira eletrônica. A defesa usou a situação médica do ex-presidente para solicitar a reconsideração da prisão preventiva.
"Prestados os esclarecimentos necessários, requer-se que estas novas informações sobre o quadro de confusão mental que pode ter sido causado pelos medicamentos ingeridos sejam levadas em consideração para a reconsideração da decisão que decretou a prisão preventiva", escreveram os advogados de Bolsonaro.
A equipe de defesa ainda juntou ao pedido um boletim médico, assinado pelo cirurgião Claudio Birolli e o cardiologista Leandro Echenique, que aponta possível ocorrência de "confusão mental" e "alucinações" possivelmente causado pela combinação de medicamentos.
Ainda na madrugada de sábado, quando agentes estiveram em sua casa após o alerta de dano à tornozeleira, ele havia reconhecido que usou um ferro de solda para tentar se desfazer da tornozeleira, atitude que provocou a ordem de prisão, expedida pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.
Ao STF, Bolsonaro complementou que não teve ajuda de ninguém na iniciativa e que as três pessoas que estavam na sua casa (a filha, um irmão e um assessor) estavam dormindo no momento.
"O depoente afirmou que estava com 'alucinação' de que tinha alguma escuta na tornozeleira, tentando então abrir a tampa", diz a ata da audiência, que durou cerca de uma hora neste domingo.
Entenda os argumentos de Bolsonaro
O ex-presidente disse que agiu sob o efeito de dois remédios, que teriam provocado uma "alucinação" e a "paranoia" de que haveria uma escuta na tornozeleira eletrônica. Sem informal qual deles, o ex-mandatário disse que começou a tomar um dos medicamentos quatro dias antes da ação
Bolsonaro usou um ferro de solda para tentar separar a parte do equipamento que informa a localização da cinta que o liga ao tornozelo. Ele afirmou que sabe usar o ferro por ter feito um curso
Ele disse não se lembrar de outro episódio de "surto dessa natureza"
A filha, o irmão mais velho e um assessor estavam em casa no momento, mas ele disse que não teve ajuda de ninguém
Ele negou que a ação esteja relacionada a uma tentativa de fuga
Em sua fala, o ex-presidente atribuiu sua atitude a remédios que está tomando. "O depoente respondeu que teve uma 'certa paranoia' de sexta para sábado em razão de medicamentos que tem tomado receitados por médicos diferentes e que interagiram de forma inadequada", diz o texto.
Ele controu que está tomando dois medicamentos que, segundo ele, interagiram de forma inadequada. Dois remédios foram citados por ele: Pregabalina, um anticonvulsivo usado para tratar ansiedade; e Sertralina, um antidepressivo.
Bolsonaro ainda afirmou que "não tinha qualquer intenção de fuga e que não houve rompimento da cinta" da tornozeleira, em referência ao pedaço que prende o equipamento ao tornozelo. O ex-presidente acrescentou que sabe usar um ferro de solda, que foi usado na tentativa de danificar o aparelho, porque fez um curso.
Sobre a vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos motivos apontados para a prisão, o ex-presidente destacou que "o local da vigília fica a setecentos metros da sua casa, não havendo possibilidade de criar qualquer tumulto que pudesse facilitar hipotética fuga".
Ao fim da audiência, a juíza auxiliar Luciana Sorrentino homologou o mandado de prisão, já que Bolsonaro não relatou "qualquer abuso ou irregularidade por parte dos policiais responsáveis pelo cumprimento".
O procedimento não tem como propósito discutir o mérito da acusação ou a decisão que justificou a prisão, mas saber se houve respeito aos direitos fundamentais do detido.
Bolsonaro afirmou que estavam em sua casa sua filha, seu irmão mais velho e um assessor, mas que nenhum deles viu sua ação contra a tornozeleira.
O ex-presidente também disse que "começou a mexer com a tornozeleira tarde da noite de sábadoe parou por volta de meia-noite". Na madrugada de sábado, ele havia dado uma versão diferente aos agentes que foram ao local verificar a violação, dizendo eu começou no "final da tarde".
Bolsonaro ainda disse que depois "caiu na razão" e interrompeu a tentativa de danificar a tornozeleira.
Entenda a prisão
Bolsonaro foi preso preventivamente no sábado, por determinação de Moraes. A decisão foi tomada atendendo a pedido da PF, que alegou necessidade de garantia da ordem pública. A corporação afirmou que uma vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, no condomínio onde Bolsonaro estava cumprindo prisão domiciliar poderia levar a um "tumulto" e um "ambiente propício para sua fuga".
"O conteúdo da convocação para a referida 'vigília' indica a possível tentativa da utilização de apoiadores do réu Jair Messias Bolsonaro, em aglomeração a ser realizada no local de cumprimento de sua prisão domiciliar, com a finalidade de obstruir a fiscalização das medidas cautelares e da prisão domiciliar", afirmou Moraes.
O ministro do STF também destacou em sua decisão que Bolsonaro tentou violar sua tornozeleira eletrônica, na madrugada deste sábado. O ato foi admitido pelo próprio ex-presidente aos agentes que foram em sua casa verificar o ocorrido.
"A informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho", escreveu.
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