Poder e Governo
Messias vai focar em senadores da direita e do centrão e tenta reforçar perfil técnico para amenizar escolha política de Lula
Escolhido para STF tentará se colocar como conciliador para reduzir resistência
Com foco em diminuir resistências ao seu nome no Senado, o advogado-geral da União, Jorge Messias, focará a primeira fase da investida na Casa em parlamentares da direita e do Centrão, setores onde há maior dificuldade de aderência ao seu nome. Nas conversas com parlamentares, Messias vai se colocar como um ministro que terá perfil de conciliação, técnico, na tentativa de amenizar o tom político da escolha de Lula.
Aliados afirmam que, embora não vá citar isso diretamente, a intenção de Messias será deixar implícito que terá perfil diferente do ministro Flávio Dino. Indicado por Lula em novembro de 2023, Dino tem resistências no Congresso por sua atuação nos processos do âmbito das emendas parlamentares. Dino e Messias não são próximos e disputaram a indicação de Lula em 2023. Ambos vão compor a Primeira Turma do STF.
Uma leitura feita no entorno de Messias é de que o temor do Senado de que o AGU, ao se tornar ministro do STF, passe a agir politicamente contra os senadores e endosse o enfrentamento institucional, prejudique Messias. Por isso, o terceiro indicado de Lula ao Supremo deve adotar um discurso de caráter institucional com acenos à defesa de prerrogativas do Congresso. A intenção de Messias é procurar os 81 senadores. Para ser aprovado, precisa de 41 votos no plenário.
A estratégia de Messias junto aos parlamentares mais resistentes ao seu nome será a de reforçar que sua carreira foi construída na administração pública federal e mais distante da militância política. Servidor público de carreira, Messias foi procurador do Banco Central e procurador da Fazenda Nacional. Ao se envolver no movimento sindical das carreiras da AGU, atuou no Ministério da Educação, na gestão de Aloizio Mercadante, onde foi secretário de Regulação.
No governo Dilma Rousseff, foi subchefe de Assuntos Jurídicos da Presidência da República.
O AGU também deverá reforçar que trabalhou quatro anos no Senado no gabinete de Jaques Wagner, hoje líder do governo Lula na casa, um dos seus principais aliados, e que passou a ter relação com vários senadores. Embora Rodrigo Pacheco tenha sido o favorito da Casa para a vaga de Luis Roberto Barroso, Messias deverá destacar que não tem desafetos no Senado e que seu gabinete na AGU já era aberto para receber os parlamentares.
Outro trunfo, na visão do seu entorno, será enfatizar as manifestações públicas contrárias ao ativismo político já feitas por Messias. O eixo do discurso junto aos senadores é de Messias vai se apresentar como um construtor de pontes no Supremo. No final de 2023, Messias foi um dos responsáveis por aproximar Lula e Barroso, quando o ministro assumiu o comando da Corte. Na época, Messias e o ministro Cristiano Zanin trabalharam para que Lula e Barroso deixassem para trás as rusgas do passado, ligadas a postura de Barroso durante os processos da Lava-Jato.
Aliados do AGU argumentam que o perfil de Messias está mais próximo de Cristiano Zanin, primeiro ministro indicado por Lula no terceiro mandato, que tem atuação mais discreta, do que Dino, considerado um integrante da Corte mais político, por já ter sido governador do Maranhão e senador.
Integrantes do governo avaliam, porém, que Messias deverá chegar a Corte com uma liderança por ter contato com os onze ministros, entre os quais os dois indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, André Mendonça e Kássio Nunes. Mendonça inclusive tem ajudado Messias.
Levantamento do GLOBO feito nas horas seguintes à oficialização entre os 27 titulares da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) reforçou necessidade de Messias buscar votos juntos ao Centrão e a direita.
Até o momento, três senadores se manifestaram a favor de Messias e outros três já disseram que votarão contra.
O nó para o advogado-geral da União, no entanto, está no campo dos que se declaram indecisos e entre aqueles que optaram por não se manifestar publicamente em sua defesa.
Três senadores revelaram que não sabem se vão apoiar Messias, entre eles dois nomes do MDB com os quais o governo conta: Eduardo Braga (AM) e Veneziano Vital do Rêgo (PB). Além disso, parlamentares também próximos ao Palácio do Planalto, casos de Renan Calheiros (MDB-AL) e Otto Alencar (PSD-BA), que preside a CCJ, disseram que não vão responder.
Parlamentares que fazem o mapa de votos de Messias na CCJ dividem o colegiado em três blocos. Há um formado pelos senadores de PT, PSB e PDT, com cinco integrantes. Fora desse núcleo, o advogado-geral da União já angariou os apoios do senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) e Eliziane Gama (PSD-MA), o que, em tese, estabelece um patamar de sete votos "garantidos".
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