Poder e Governo

Governo se prepara para embate com oposição no Senado para alterar projeto Antifacção

Planalto aposta em mudanças no Senado para reverter pontos considerados negativos do projeto aprovado na Câmara

Agência O Globo - 20/11/2025
Governo se prepara para embate com oposição no Senado para alterar projeto Antifacção
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O Palácio do Planalto avalia que enfrentará críticas por ter se posicionado contra o projeto de lei Antifacção, aprovado na última terça-feira pela Câmara dos Deputados. Ainda assim, o governo pretende reforçar o discurso de que o texto do relator Guilherme Derrite (PP-SP) apresenta falhas e não contribui de forma efetiva para o combate ao crime organizado.

Apesar de alguns aliados defenderem uma negociação para evitar nova derrota no Congresso, o governo, com o aval direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, manteve a posição contrária. A estratégia é buscar vencer o debate político em torno do tema.

O Planalto espera que o Senado realize alterações que aproximem o projeto do texto original elaborado pelo Ministério da Justiça. As primeiras manifestações do relator Alessandro Vieira (MDB-ES) e do presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Otto Alencar (PSD-BA), foram consideradas positivas pelo governo.

A disposição de manter o embate ficou evidente nas declarações do presidente Lula nas redes sociais nesta quarta-feira e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista. Lula afirmou que o texto "do jeito que está, enfraquece o combate ao crime e gera insegurança jurídica". Segundo ele, "trocar o certo pelo duvidoso só favorece quem quer escapar da lei. É importante que prevaleça, no Senado, o diálogo e a responsabilidade na análise do projeto para que o Brasil tenha de fato instrumentos eficazes no enfrentamento às facções criminosas".

Já Haddad destacou que o projeto "asfixia financeiramente a Polícia Federal e enfraquece a Receita Federal no combate ao crime organizado". O ministro também afirmou que o PL "facilita a vida dos líderes do crime organizado".

O texto de Derrite, secretário licenciado de Segurança Pública do governo de Tarcísio de Freitas em São Paulo, foi aprovado com 370 votos favoráveis e apenas 110 contrários. A dificuldade do governo ficou evidente até mesmo em partidos da base: o PSB, por exemplo, se dividiu, com oito votos contrários e sete favoráveis. No PDT, foram 16 votos a favor do projeto de Derrite e apenas um contrário, contrariando a orientação do governo.

Partidos do Centrão, alguns com ministros no governo Lula, como PSD e MDB, também apoiaram fortemente o projeto. No MDB, foram 37 votos favoráveis ao PL Antifacção e apenas um contrário. O PSD foi unânime, com 42 votos a favor do texto relatado por Derrite.

O mesmo cenário se repetiu em outros partidos do bloco, como PP (47 votos favoráveis e apenas um contrário), Republicanos (39 a 1) e União Brasil (54 a 1).

Entre os pontos modificados por Derrite e criticados pelo governo está a desidratação do Fundo Nacional Antidrogas (Funad), que atualmente recebe recursos provenientes da apreensão de bens ligados ao tráfico. O projeto, na prática, redireciona esses recursos para outros fundos, o que prejudicaria o financiamento da Polícia Federal — cerca de R$ 45 milhões do Funad hoje financiam atividades da PF. Além disso, a destinação de recursos ao Funad está prevista na Constituição e, segundo o governo, a mudança proposta seria inconstitucional.

O Planalto também manifesta preocupação com a criação, pelo texto de Derrite, de uma nova norma com tipo penal semelhante ao de organização criminosa, sem revogar a legislação vigente. A avaliação é que isso pode abrir brechas que, na prática, tornem a nova lei inócua.