Poder e Governo
Cúpula da PF vê novo texto de Derrite como ameaça ao orçamento da corporação
Relatório destina recursos de bens apreendidos exclusivamente ao Fundo Nacional de Segurança Pública, gerando críticas da Polícia Federal e de órgãos do governo
O novo relatório do projeto Antifacção, elaborado pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), continua a gerar insatisfação na cúpula da Polícia Federal (PF). Segundo integrantes do governo, a proposta tende a "descapitalizar" a corporação.
A principal crítica recai sobre o trecho que determina a destinação de verbas provenientes de bens apreendidos ao Fundo Nacional de Segurança Pública, sempre que houver participação da PF em investigações contra facções criminosas.
Para a Polícia Federal, a medida retira recursos fundamentais para o financiamento da instituição. A equipe do diretor-geral, Andrei Passos Rodrigues, ainda analisa o texto em detalhes, mas já ressalta a ausência de outros fundos no relatório, como o Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-fim da Polícia Federal (Funapol), o Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) e o Fundo Nacional Antidrogas (Funad).
Integrantes do Ministério da Justiça e da Secretaria de Relações Institucionais também manifestaram preocupação.
O entendimento é que o parecer promove uma realocação de recursos provenientes de apreensões relacionadas ao tráfico de drogas, tirando-os do Fundo Nacional Antidrogas (Funad) para direcioná-los ao Fundo Nacional de Segurança Pública. Conforme o Ministério da Justiça, essa destinação ao Funad está prevista na Constituição, o que tornaria a alteração proposta inconstitucional. Entre janeiro e outubro, o Funad recebeu R$ 272 milhões, dos quais cerca de R$ 45 milhões foram destinados à PF.
Na quinta versão do relatório, apresentada nesta terça-feira, Derrite determina que os bens apreendidos sejam destinados "ao Fundo de Segurança Pública do respectivo Estado ou do Distrito Federal, quando o delito estiver sendo investigado pelas autoridades locais; e, quando houver participação da Polícia Federal, ao Fundo Nacional de Segurança Pública".
Ao justificar a medida, o relator criticou o que chamou de "manifestação midiática" do governo em relação às críticas sobre os trechos referentes à PF em versões anteriores do relatório.
“Em um primeiro momento, optou-se, após pedido de representantes da Polícia Federal, em encaminhar os ativos apreendidos ao Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-Fim da Polícia Federal (FUNAPOL). Contudo, tendo em vista a manifestação midiática do Governo Federal de que isso poderá prejudicar as contas públicas e outros investimentos, em simetria ao que é feito com os estados, previu-se o encaminhamento do quinhão cabível à Polícia Federal ao Fundo Nacional de Segurança Pública”, justificou Derrite.
Na versão anterior do parecer, o deputado previa que os bens apreendidos seriam destinados “ao Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades Fim da Polícia Federal (Funapol), quando o delito estiver sendo investigado pela Polícia Federal”.
Técnicos do Ministério da Justiça, no entanto, argumentam que esses recursos deveriam ser direcionados ao Funad, que também financia a PF, já que o fundo recebe verbas do combate ao narcotráfico.
Com a exclusão de outros fundos e a retirada da Funapol, a Polícia Federal afirma que seu financiamento permanece comprometido.
O quinto relatório de Derrite também prevê que órgãos como Receita Federal e Banco Central possam executar, administrativamente, medidas de retenção, apreensão e destinação de bens ilícitos sem necessidade de decisão judicial específica. A mudança permite que procedimentos de perdimento ocorram com base em normas internas e legislação própria, mesmo antes de sentença penal.
Essa alteração, que reforça o papel da Receita Federal, foi solicitada diretamente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A expectativa é que o projeto seja votado ainda nesta terça-feira pela Câmara dos Deputados.
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