Poder e Governo

‘A única coisa estável no Brasil é a instabilidade’, afirma Bernardo Mello Franco, que lança livro sobre governo Bolsonaro

Colunista do GLOBO apresenta ‘Arquitetura da destruição’, diário da era Bolsonaro, no dia 19

Agência O Globo - 16/11/2025
‘A única coisa estável no Brasil é a instabilidade’, afirma Bernardo Mello Franco, que lança livro sobre governo Bolsonaro
Bernardo Mello Franco - Foto: Reprodução / Instagram

O colunista Bernardo Mello Franco, do GLOBO, revisita o passado recente do país para propor uma nova leitura dos textos publicados entre a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, e a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. Essas colunas agora estão reunidas no livro “Arquitetura da destruição: Um diário da era Bolsonaro, do palanque à condenação”, da Autêntica Editora, formando um diário da escalada autoritária do período.

A obra percorre momentos-chave dos anos Bolsonaro: a campanha de 2018, marcada por tensão e violência; a facada que acabou blindando Bolsonaro de críticas; a pandemia, enfrentada por um governo que, segundo o autor, "brigou com a verdade durante a maior crise sanitária da história"; e o "sequestro" de símbolos nacionais, como a bandeira.

— Quem se debruçar sobre essas páginas verá que, desde 2018, já identificávamos na candidatura de Bolsonaro um projeto claramente autoritário, que inevitavelmente provocaria uma crise institucional — afirma o colunista.

No entanto, Mello Franco ressalta que nem mesmo quem acompanhava de perto o tema previa a dimensão dos bastidores revelados pelas investigações:

— Era esperado que Bolsonaro tentasse um golpe para permanecer no poder caso fosse derrotado em 2022, mas ninguém sabia ao certo como isso ocorreria. Até eu me surpreendi com os detalhes da conspiração que vieram à tona: o “Punhal Verde e Amarelo”, o plano para matar Lula…

Cerco à imprensa

O período, relembra Mello Franco, foi marcado pelo cerco à imprensa, especialmente por ataques ao jornalismo profissional e, em particular, às mulheres jornalistas. Ele destaca ainda que a mídia precisou se organizar para obter dados confiáveis sobre a pandemia.

— Governantes autoritários, de esquerda ou de direita, veem a imprensa como inimiga. Um dos episódios mais graves foi quando o governo ordenou ao Ministério da Saúde que escondesse os dados de mortos na pandemia. Os principais veículos tiveram que criar um consórcio para apurar os números por conta própria — recorda.

O título do livro foi inspirado em uma coluna de Mello Franco publicada no fim de 2019. Naquele ano, Bolsonaro declarou: “O Brasil não é um terreno aberto, onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa”.

Para o autor, a frase não era apenas retórica, mas sim um verdadeiro programa de governo.

— Ele queria capturar órgãos de controle, esvaziar instâncias de participação popular, demolir os pilares da Constituição de 1988. Nenhum analista definiu tão bem o governo Bolsonaro quanto o próprio Bolsonaro.

No livro, o colunista aponta que a extrema direita fincou raízes duradouras no país. Para 2026, ele enxerga um campo conservador sem um candidato natural, mas lembra que, na política, o improvável costuma comandar o roteiro.

— Em 2014, um candidato morreu num acidente aéreo. Em 2018, outro levou uma facada. Em 2022, o presidente colocou a polícia nas ruas para tentar impedir pessoas de votar. Na política, aprendemos que a única coisa estável no Brasil é a instabilidade.

No Rio, o lançamento de “Arquitetura da destruição” será na próxima quarta-feira, às 19h, na Livraria da Travessa de Botafogo, com bate-papo entre o autor e o sociólogo Celso Rocha de Barros. Estão previstos lançamentos também em São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, sempre com a presença do colunista.