Poder e Governo
Ex-nora de Lula alvo da PF visitou gabinete de ministro da Educação
Portaria do ministério tem registro de entrada de Carla Ariane Trindade, segundo documento obtido pelo portal Metrópoles
A portaria do Ministério da Educação (MEC) registrou a entrada da ex-nora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Carla Ariane Trindade, com destino ao gabinete do ministro Camilo Santana em julho do ano passado. A visita não está registrada na agenda oficial do titular da pasta. A informação é do portal Metrópoles. Procurado por O GLOBO, o ministério não respondeu aos questionamentos.
Propina como 'café', ex-nora de Lula e políticos presos:
Fraude sem INSS:
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira uma operação para apurar suspeitas de fraudes em licitações no interior de São Paulo. Um dos alvos é Carla Ariane, que foi casada com Marcos Cláudio, filho de Marisa Letícia adotada por Lula, entre os anos de 1991 e 2010. Ela teria sido paga para obter influência no Ministério da Educação.
O registro a que o Metrópoles teve acesso via Lei de Acesso à Informação (LAI) aponta que Carla entrou no MEC às 12h do dia 12 de julho de 2024 e no campo carga/função traz a inscrição “Presidente Lula”. Ela, no entanto, não tem carga oficial no governo.
A agenda do ministro, disponível no site do governo federal, diz que naquele dia Camilo Santana acabou de visitar o hospital da Universidade de Brasília (UnB) entre 9h30 e 11h e que passou para Fortaleza (CE), sem dizer a hora.
Entenda a operação
A operação deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira, 12, para apurar suspeitas de fraudes em licitações no interior de São Paulo envolve políticos, servidores públicos e duas figuras que orbitam a família do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O homem apontou como líder da organização criminosa teria movimentado mais de R$ 125 milhões em uma empresa que venceu editais para conjunto de material didático e kits de robótica para as prefeituras de Sumaré, Limeira, Morungaba e Hortolândia. Cinco pessoas foram presas preventivamente e uma continuação foragida.
A investigação da PF começou há cerca de dois anos. A empresa Life Educacional, que tinha capital social de R$ 300 mil, passou a vencer uma série de licitações na região. Com a quebra do sigilo das contas da empresa e do sócio-administrador, André Mariano, os policiais constataram a existência de um esquema de superfaturamento de produtos, pagamento de propina a agentes públicos e lobistas e lavagem de dinheiro através de empresas de fachadas e doleiros, de modo a ocultar a origem dos valores.
Em alguns casos, o sobrepreço praticado pela empresa era de 35 vezes o preço de aquisição de mercadorias mesmo junto a terceiros. Livros, por exemplo, eram comprados por até R$ 5, somente depois de formalizado o contrato, e revendidos por R$ 60 a R$ 80. Foram gastos um total de R$ 57,6 milhões em Sumaré, R$ 17,9 milhões em Hortolândia e R$ 10,7 milhões em Limeira, “concluindo que, da análise fria das notas fiscais, a Life teria lucrado pelo menos 50 milhões de reais com a venda de livros a essas prefeituras”.
— Geralmente não havia concorrência, e quando havia era simulada — afirma o delegado da PF responsável pelo caso, Guilherme Alves Siqueira.
A PF aponta que pelo menos R$ 16 milhões foram enviados para contas pessoais de Mariano, e uma outra parte para “empresas com fortes compromissos de serem de fachada, e possivelmente gerenciadas por doleiros”. Foram listados 21 CNPJs diferentes. O dinheiro bancou a aquisição de carros de luxo, serviços de blindagem e imóveis, de acordo com a investigação. De um total de R$ 125 milhões movimentados pela Life entre janeiro de 2021 e julho de 2024, apenas 17% foram para pagamento de fornecedores.
Parte do dinheiro enviado aos doleiros depois seria sacado por Mariano em espécie com intermediários, configurando a lavagem de dinheiro. Esses montantes sairiam a propina paga aos servidores das prefeituras, incluindo o vice-prefeito de Hortolândia, Cafu César (PSB), preso nesta quinta-feira, 12. Ele é acusado de receber R$ 2,4 milhões para direcionar contratos. O gestor da empresa usava o termo “café” para se referir ao pagamento de propina nas trocas de mensagens obtidas no inquérito.
A investigação narra que Mariano remetia os valores para essas empresas e, depois de pagar uma taxa aos doleiros, recebia o dinheiro de volta em espécie para distribuir aos demais envolvidos. Uma das provas anexadas aos autos, que estão sob sigilo, mas foram obtidas pelo GLOBO, aponta que ele agendou um encontro na prefeitura de Sumaré poucas horas depois de sacar a quantidade. Uma planilha de controle das transações também foi encontrada com uma das operadoras, segundo a PF.
Na cidade, as suspeitas recuam sobre o ex-secretário municipal de educação, José Aparecido Marin. Ele teve o nome anotado num calendário de reuniões de Mariano e teria direcionado um pregão para a Life, compartilhando documentos antes mesmo destes serem publicados. A PF apura pediu que R$ 549 mil foram pagos em propina ao político. Além dele, a diretora de um centro de formação de educadores e três servidores passou na mira da investigação por transações suspeitas e pela desqualificação de uma empresa concorrente na compra de material didático.
Na cidade de Hortolândia, os beneficiários do esquema seriam, além do vice-prefeito Cafu, os secretários municipais de educação, Fernando Moraes, e de habitação, Rogério Mion. Carla Ariane Trindade, ex-nora do presidente Lula, teria sido paga por Mariano para obter influência no Ministério da Educação, assim como Kalil Bittar, amigo de um dos filhos do petista e irmão de Fernando Bittar, que constava como dono do sítio de Atibaia em escrituras públicas. Kalil e Fernando são filhos do ex-prefeito de Campinas, Jacó Bittar, um dos fundadores da CUT e do PT.
Carla foi casada com Marcos Cláudio, filho de Marisa Letícia adotado por Lula, entre os anos de 1991 e 2010. O casal divorciado deu um neto ao presidente, Thiago Trindade, que é militante do PT. Já Kalil foi sócio de Fábio Luís, o Lulinha, na Gamecorp, empresa produtora de conteúdo de jogos eletrônicos que ficou conhecida por uma investigação, posteriormente arquivada, sobre aportes suspeitos da Oi/Telemar. Ele também apareceu em clipes da Lava Jato usados como prova de que o sítio seria, na verdade, de propriedade do presidente e de sua esposa falecida.
A PF narra um episódio em que Mariano pagou uma viagem para Moraes e participou de agendas com autoridades do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Os pagamentos a Cafu foram feitos através da conta de terceiros, ainda de acordo com a investigação. Carla, por sua vez, teria sido identificada em conversas como “amiga de Paulínia”, por conta de sua moradia na cidade, e também como “nora”. A PF suspeita de sua participação no esquema para influenciar nos rumores de processos em instâncias federais. Kalil seria outro operador de “prospecção de negócios” e recebeu mesada e um carro BMW.
“A investigação indicou práticas sofisticadas de lavagem de dinheiro, com o repasse de valores para empresas de fachada, atuação de doleiros e utilização de criptoativos, tudo com a finalidade de, para além do enriquecimento ilícito diretamente envolvido, repasse de valores a terceiros, em sua maioria funcionários ou agentes públicos, que agiam para garantir a contratação da empresa LIFE por meio fraudulento”, aponta a juíza federal que autorizou a operação, Raquel Coelho Dal Rio Silveira, de Campinas.
Os pedidos de prisão envolvem Mariano, Cafu, Moraes, Marin e dois suspeitos de atuarem como doleiros no esquema, Eduardo Maculan e Abdalla Fares. Todos foram presos, com exceção de Marin. Além disso, a Justiça deferiu o afastamento de servidores, a proibição de manter contato com outros investigados e agentes públicos, a apreensão de passaportes, quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico, bloqueio de valores e busca e apreensão em 44 endereços, incluindo as sedes das prefeituras de Sumaré e de Hortolândia.
O GLOBO tenta contato com a defesa dos envolvidos. O espaço está aberto a manifestações.
Mais lidas
-
1DEFESA NACIONAL
'Etapa mais crítica e estratégica': Marinha avança na construção do 1º submarino nuclear do Brasil
-
2CRISE INTERNACIONAL
UE congela ativos russos e ameaça estabilidade financeira global, alerta analista
-
3ECONOMIA GLOBAL
Temor dos EUA: moeda do BRICS deverá ter diferencial frente ao dólar
-
4REALITY SHOW
'Ilhados com a Sogra 3': Fernanda Souza detalha novidades e desafios da nova temporada
-
5DIREITOS DOS APOSENTADOS
Avança proposta para evitar superendividamento de aposentados