Poder e Governo

Planalto explora envolvimento de ex-ministro de Bolsonaro em esquema do INSS para reduzir desgaste ao governo Lula

José Carlos Oliveira, ex-ministro da Previdência, foi alvo de busca e apreensão e está usando tornozeleira eletrônica

Agência O Globo - 14/11/2025
Planalto explora envolvimento de ex-ministro de Bolsonaro em esquema do INSS para reduzir desgaste ao governo Lula
O ex-presidente Jair Bolsonaro - Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil

Diante do desgaste provocado pela prisão do ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, o governo Lula busca dividir o ônus político com a gestão anterior de Jair Bolsonaro. Para isso, aposta nas acusações contra o ex-ministro da Previdência, José Carlos Oliveira, como parte de sua estratégia. Oliveira foi alvo de mandado de busca e apreensão na última quinta-feira e passou a utilizar tornozeleira eletrônica.

Segundo a investigação da Polícia Federal (PF), há indícios de que Oliveira recebeu uma suposta propina de R$ 100 mil. Conforme decisão do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro teria exercido um papel "estratégico" para o "funcionamento e blindagem" do esquema de fraudes no INSS.

De acordo com a apuração, quando ocupava o cargo de diretor de benefícios do INSS — antes de se tornar ministro —, Oliveira também "autorizou o desbloqueio e repasse" de R$ 15,3 milhões à Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer).

A entidade é suspeita de operar uma rede de empresas fantasmas para lavar dinheiro desviado por meio de descontos irregulares na folha de pagamento de aposentados.

Para auxiliares do presidente Lula, o foco das investigações em Oliveira contribui para amenizar o impacto político e reforça a avaliação de que o momento mais crítico do desgaste já foi superado, especialmente após as revelações do primeiro semestre.

O discurso oficial busca minimizar a repercussão negativa da prisão de Stefanutto e da suspeita de que ele recebia propina mensal de R$ 250 mil da mesma Conafer, uma das entidades investigadas pela PF.

Apesar da prisão de Stefanutto, aliados do governo avaliam que o andamento das investigações demonstra que o esquema não pode ser atribuído a uma única gestão.

Na ótica do Palácio do Planalto, a operação da PF desta quinta-feira reforça que o esquema estava ativo durante o governo Bolsonaro.

Auxiliares do presidente destacam que os investigados pela PF se revezaram em cargos no INSS ao longo de diferentes governos, sendo servidores de carreira que ocuparam funções variadas em diversas gestões do órgão.

O governo também tenta capitalizar politicamente o fato de que prisões e afastamentos só estão ocorrendo agora, sob a gestão Lula. Ministros apostam que as próximas fases da operação vão evidenciar que os envolvidos estão sendo investigados e punidos, e que as apurações seguiram mesmo após a diminuição do noticiário.

Outro ponto ressaltado pela estratégia governista é que os valores descontados indevidamente estão sendo devolvidos aos beneficiários prejudicados pela fraude.

Na última quarta-feira, o governo assinou um termo aditivo homologado pelo STF, prorrogando por mais três meses o prazo para que beneficiários contestem descontos indevidos.

O prazo, que se encerraria nesta sexta-feira, foi estendido até 14 de fevereiro de 2026. Até o momento, o INSS já ressarciu cerca de 3,7 milhões de segurados, entre aposentados e pensionistas, totalizando uma devolução de R$ 2,5 bilhões.