Poder e Governo

Nomeação de ex-vereador condenado por antissemitismo causa mal-estar entre Nunes e comunidade judaica de SP

Adilson Amadeu, nomeado assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais, já foi condenado duas vezes por antissemitismo

Agência O Globo - 23/10/2025
Nomeação de ex-vereador condenado por antissemitismo causa mal-estar entre Nunes e comunidade judaica de SP
Adilson Amadeu (União) - Foto: Reprodução / Instagram

A nomeação do ex-vereador Adilson Amadeu (União) como assessor especial da Secretaria Municipal de Relações Institucionais de São Paulo, na semana passada, tem gerado cobranças na gestão (MDB) por parte da comunidade judaica e questionamentos até mesmo dentro da prefeitura. Isso porque Amadeu já foi condenado duas vezes por antissemitismo.

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STF:

No último dia 15, Amadeu foi indicado ao cargo pelo secretário Alexandre Leite, deputado federal licenciado do União Brasil e filho de Milton Leite, ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo. Nos bastidores, alguns secretários criticaram a escolha e o prefeito passou a ser cobrado diretamente por empresários judeus de diversos setores econômicos e integrantes de entidades judaicas para rever a escolha nos últimos dias, segundo o GLOBO apurou. Ainda de acordo com fontes próximas, o prefeito já sinalizou a esses empresários que pode rever a nomeação, mas até o momento Amadeu segue no cargo.

Em nota, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) lamentaram a nomeação de Amadeu para o cargo. “Amadeu foi duas vezes condenado pela Justiça por antissemitismo e injúria racial, por declarações ofensivas e discriminatórias contra a comunidade judaica. Entendemos que não há espaço no serviço público para pessoas condenadas por crimes de ódio, preconceito e intolerância”, afirmam as entidades.

No mundo político, também houve cobranças explícitas e até mesmo o vice-prefeito, Mello Araujo (PL), se manifestou de forma contrária à chegada de Amadeu na prefeitura. Nas redes sociais, Fábio Wajngarten, ex-assessor e ex-secretário de Comunicação do governo Jair Bolsonaro (PL) criticou Nunes pela nomeação dizendo que "não foi para isso que fizemos incansável campanha".

“Não concordo e espero que o Prefeito quando tomar conhecimento tome providências. Não precisamos disso”, respondeu Mello Araújo, que foi alçado ao cargo de vice por Bolsonaro. Ao GLOBO, Mello disse que fez “colocações sobre o tema”, mas que em meio a tantas contratações “nem sempre sabe quem são as pessoas”.

Alguns secretários da administração municipal, segundo fontes ouvidas pela reportagem, também manifestaram desconforto com a situação e ponderaram que isso cria uma “saia-justa” para o prefeito, ainda que a indicação não tenha vindo dele.

Por outro lado, a nomeação de Amadeu encontra respaldo da família Leite, que mantém forte influência na gestão municipal, e seria uma forma de abrigar o ex-vereador, que está sem cargo após não ter conseguido se eleger em 2024 — atualmente, ele é suplente de vereador e só assumirá caso outros parlamentares do União deixem o cargo.

O GLOBO procurou Amadeu para comentar o caso, mas não recebeu resposta até o fechamento desta reportagem. A Prefeitura de São Paulo também não se manifestou.

Amadeu foi condenado em duas ações diferentes.

— É uma puta duma sem-vergonhice, que eles querem que quebra todo mundo, para todo mundo ficar na mão, do grupo de quem? Infelizmente também os judeus, quando eu até tô respondendo a um processo, porque quando entra Albert Einstein, Grupo Lide é que tem sem-vergonhice grande, sem-vergonhice de grandeza que eu nunca vi na minha vida — declarou na ocasião.

Por este caso, ele foi condenado em primeira e segunda instâncias no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Na ocasião, a defesa do vereador alegou que Amadeu "sempre teve amizade com judeus" e que o áudio em questão foi compartilhado "com amigos de infância e que o seu alvo nunca foram os judeus, e sim a administração pública municipal e estadual, durante a pandemia".

A outra condenação ocorreu em 2022, por Amadeu ter xingado o então vereador Daniel Annenberg de “judeu filho da puta” durante uma votação na Câmara Municipal de São Paulo, em 2019. Neste caso, a condenação foi a um ano e quatro meses de prisão, mas nos dois casos, por ser uma pena menor, ela foi substituída por pagamento de multa e prestação de serviços comunitários.