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Estudo revela que Neandertais usavam ocre como 'lápis' para desenhar e marcar superfícies

Pesquisa indica que hominídeos já demonstravam pensamento simbólico ao manipular pigmentos há mais de 70 mil anos

Sputnik Brasil 31/10/2025
Estudo revela que Neandertais usavam ocre como 'lápis' para desenhar e marcar superfícies
Foto: © Foto / d’Errico et al., Sci. Adv. 11, eadx4722

Um novo estudo aponta que os Neandertais utilizavam ocre — pigmento mineral rico em ferro — não apenas para funções práticas, como o curtimento de peles e tingimento de roupas, mas também para fins simbólicos, como desenhar e marcar superfícies.

A descoberta reforça a hipótese de que esses hominídeos detinham pensamento simbólico e habilidades cognitivas avançadas.

A pesquisa, liderada por Francesco d’Errico, da Universidade de Bordeaux (França), analisou 16 fragmentos de ocre com até 70 mil anos, encontrados em sítios arqueológicos na Crimeia e na Ucrânia. Por meio de microscopia eletrônica e varredura por raios X, os cientistas examinaram a composição e as marcas nas superfícies para compreender como o material era manipulado.

Entre os achados mais relevantes está um fragmento de ocre amarelo da Idade Micoquiana (entre 130 mil e 33 mil anos atrás), cuidadosamente raspado até adquirir a forma de um "lápis". A análise revelou que a ponta foi reafiada e reutilizada diversas vezes, o que sugere uso intencional como instrumento de marcação.

"O formato deliberado e o reuso de bastões de ocre, os motivos gravados e as evidências de ferramentas preservadas apoiam a conclusão de que ao menos parte desses materiais estava envolvida em atividades simbólicas", escreveram os pesquisadores no artigo publicado na revista Science Advances.

Outros fragmentos apresentaram superfícies polidas, fraturas e sinais microscópicos de desgaste repetido, características compatíveis com o uso prolongado como instrumentos para marcar superfícies.

De acordo com os autores, essas descobertas contribuem para uma compreensão mais aprofundada dos comportamentos culturais e simbólicos dos Neandertais, aproximando-os ainda mais dos primeiros Homo sapiens.