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Guerra no Oriente Médio, 1 ano: Ex-reféns israelenses tentam transformar dor em luta para trazer os que restam para casa

Aos longo dos meses, pouco mais de 100 cativos foram libertados e voltaram para Israel por acordo de cessar-fogo e operações no enclave; para alguns deles, nada é mais como antes

Agência O Globo - 08/10/2024
Guerra no Oriente Médio, 1 ano: Ex-reféns israelenses tentam transformar dor em luta para trazer os que restam para casa
Pulitzer 2024 premia cobertura jornalística da guerra em Gaza e escritora mexicana - Foto: Reprodução / internet

Em 7 de outubro, Chen Goldstein-Almog esteve entre os cerca de 250 reféns levados para a Faixa de Gaza , junto com seus três filhos mais novos. Agora ela está entre os mais de 100 cativos que voltaram para casa. O New York Times acompanhou mais de uma dúzia de ex-reféns durante várias semanas, enquanto eles tentavam reconstruir suas vidas, faziam campanha pelo retorno dos que ainda permanecem em Gaza e lamentavam os que foram mortos.

Guerra no Oriente Médio, 1 ano:

Gaza:

Chen, de 49 anos, perdeu seu marido, Nadav, e sua filha mais velha, Yam, de 20 anos, nos ataques.

Chen e seus três filhos sobreviventes foram mantidos, em sua maioria, em um quarto em um apartamento em Gaza, segundo contou ao Times durante uma entrevista no ano passado. Mas ela disse que os captores fortemente armados também os levaram para vários apartamentos, túneis, uma mesquita e até mesmo um supermercado destruído.

Ela conversava com seus sequestrados, às vezes várias horas por dia, disse, talvez porque já foi assistente social e saiba como manter as pessoas em conversas longas e profundas. Essa era sua única maneira de tentar garantir, segundo Chen, que ela e as crianças estariam seguras.

Vídeo:

'Trovões lembram os bombardeios'

Enquanto os sequestradores levavam Danielle Alony, de 45 anos, e sua filha Emilia, de 6, de um lugar para outro, "usávamos tudo o que podíamos encontrar para transformá-lo em um jogo", contou Danielle.

— Mas havia muitas horas tediosas de pura incerteza e eu precisava manter Emilia ocupada o tempo todo — disse.

Na maior parte do tempo, Emilia desenhava. Depois que Sapir Cohen, que estava sendo mantida em cativeiro com Danielle e Emilia, contou sobre seu parceiro desaparecido, Emilia fez um desenho do futuro casamento deles. Sapir disse à menina que o desenho seria colocado nos convites.

Danielle disse que, desde que foi libertada, "Emilia tem notado as pessoas que portam armas — está mais sensível a barulhos que a fazem lembrar de certos sons, como os trovões, que a lembram dos bombardeios."

Destinos etiquetados

Keren Munder, de 54 anos, e seu filho, Ohad, foram mantidos reféns por 49 dias, a maior parte deles, segundo afirmam, em um hospital.

Ohad fez 9 anos lá. No dia de seu aniversário, os sequestradores transferiram algumas outras crianças feitas reféns para que ficassem na pequena sala de exames. Ele estava feliz por estar perto de mais meninos, contou, mas as meninas menores choravam "muito".

Entenda:

O pai de Keren continua refém, fato marcado por uma etiqueta preta em sua caixa de correio no kibutz Nir'Oz. .

'Matariam se eu a deixasse'

Quando os combatentes atacaram Mia Leimberg, de 17 anos, e sua mãe, Gabriela, de 60, Mia se agarrou à sua cadela, Bella.

— Eu sabia que eles a matariam se eu a deixasse — contou.

Elas e a tia de Mia, Clara Marman, também de 60 anos, foram libertadas depois de 53 dias, tendo deixado para trás o parceiro de Clara, Louis Har, de 70, e o irmão, Fernando Simon Marman, de 60.

Os dois homens foram resgatados meses depois em um ataque do Exército israelense.

— Assim que eles disseram nossos nomes, eu me senti a pessoa mais segura da Terra — disse Fernando, em referência à equipe de resgate.

Sob disparo de foguetes do :

Milagre inesperado

Andrey Koslov, de 27 anos, estava entre os quatro reféns resgatados pelas forças israelenses em um ataque no centro de Gaza em junho. As autoridades de saúde do enclave afirmaram que mais de 270 palestinos foram mortos no ataque, enquanto os militares israelenses estimaram o número em menos de 100.

— Foi absolutamente inacreditável, porque não esperávamos nada e um milagre aconteceu conosco — afirmou.

Ele se belisca quase todos os dias, confessou, para verificar se ainda não está sonhando no cativeiro.

Dignidade violada

Amit Soussana, de 40 anos, foi a sexualmente enquanto estava em cativeiro.

— Você está lá com ele e sabe que a cada momento isso pode acontecer novamente — contou ela em uma entrevista ao Times em março, descrevendo o sequestrador que a violou. — Você está completamente dependente dele.

O Hamas negou que seus membros tenham abusado sexualmente dos reféns, mas um relatório das Nações Unidas encontrou "informações convincentes" de que alguns reféns sofreram violência sexual.

Uma realidade alternativa

Margalit Moses, de 78 anos, foi mantida com um grupo de reféns que precisavam de medicamentos. Ela falava com seus sequestrados em árabe, pedindo o que os outros precisavam. Libertada no 49º dia, ela se despediu dos guardas e os convidou para tomar um café "quando a paz chegar".

— Agora que ouvi as histórias de terror dos que voltaram. Entendo que fui mantida em condições que outros não tiveram — observou.

'Nada é mais o mesmo'

Itay Regev, de 19 anos, e Moran Stela Yanai, de 40, foram sequestrados no festival de música Nova. Itay foi levado junto com sua irmã, Maya, e outro homem, Omer Shem-Tov. Moran foi levada sozinha depois de quebrar a perna ao tentar fugir.

— Nada mais é o mesmo desde que voltei — afirmou entre lágrimas. — Sinto que estou em uma missão para trazer todos de volta.

— Eu preferiria esquecer tudo o que aconteceu conosco — disse Itay, acrescentando: — Tudo o que quero é que Omer e todos os outros retornem.

'Foi como dar a luz novamente'

Raz Ben-Ami, de 57 anos, foi sequestrada com seu marido, Ohad, que permanece em Gaza. Até ser libertada, após 54 dias, ela não sabia o destino de suas três filhas. Quando soube que elas estavam seguras, ela disse que "foi como dar à luz a elas novamente".

— Não me importo com minha casa, nada disso importa. A única coisa importante é que Ohad volte — disse, acrescentando: — Ainda é difícil para mim imaginar nossa vida depois disso.

Trauma transformado em luta

Uma das maneiras pelas quais os ex-reféns tentaram retomar o controle foi fazendo campanha para que os outros reféns fossem libertados. Mesmo antes de seus retornos, o principal local de protesto em , , ficou conhecido como Hostages' Square (Praça dos Reféns). Atualmente, os ex-reféns costumam liderar as reuniões no local.

As imagens de Sapir Cohen, de 29 anos, sequestrada na garupa de uma motocicleta foram divulgadas em todo o mundo.

— Estávamos dentro de Gaza muito rapidamente. As ruas estavam cheias de gente aplaudindo as pessoas que me sequestraram. Todos se aproximaram de mim, todos queriam me tocar, me bater — relembrou.

Mas durante seus 55 dias de cativeiro, sua pergunta mais urgente era sobre seu parceiro, Sasha Troufanov, de 28 anos, que também foi sequestrado.

— Perguntei a todos os reféns que conheci nos túneis se eles haviam visto Sasha. Nenhum deles disse que tinha visto — contou.

Ainda assim, ela afirmou que "isso não faz com que eu perca minha esperança".

— Acredito que ele está vivo e que voltará — afirmou.