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Ex-bombeiro é preso acusado de ser 'autor material' de incêndio que deixou 137 mortos e milhares de casas destruídas no Chile

Prisão se soma à de outro bombeiro e um funcionário florestal, que foram presos em maio por sua responsabilidade nos incêndios

Agência O Globo - GLOBO 10/09/2024
Ex-bombeiro é preso acusado de ser 'autor material' de incêndio que deixou 137 mortos e milhares de casas destruídas no Chile

Um ex-bombeiro foi detido na segunda-feira no Chile, acusado de ser um dos autores do incêndio que deixou 137 pessoas mortas e milhares de casas destruídas na cidade turística de Viña del Mar, em fevereiro, anunciou a polícia. Trata-se de Elías Salazar, de 39 anos, que no passado foi bombeiro voluntário e, até sua detenção, era funcionário do Serviço Nacional de Prevenção e Resposta a Desastres (Senapred).

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"Ele é autor material. No dia do incêndio, ele participou e também foi o autor de um dos focos que iniciou o sinistro", explicou Guillermo Gálvez, chefe da Polícia de Investigações da região de Valparaíso.

A detenção de Salazar se soma à de outro bombeiro e um funcionário florestal, que foram presos em maio por sua responsabilidade nos incêndios.

Sobre as motivações que o teriam levado a provocar o incêndio junto com os outros dois detidos, Gálvez afirmou que era o prazer de "participar em emergências".

"De acordo com o que ele manifestou, (...) ele gosta de ser um herói, participando e ajudando uma vez que as emergências ocorrem", afirmou o chefe policial.

O novo detido será apresentado ao tribunal na terça-feira, acusado de incêndio com causa de morte.

No dia 2 de fevereiro, vários incêndios se iniciaram simultaneamente nos arredores de Viña del Mar, 110 km a noroeste de Santiago.

De acordo com as investigações, o incêndio começou com vários focos de fogo simultâneos nas proximidades do lago Peñuelas, na região de Valparaíso, a 35 km de Viña del Mar.

O calor e as intensas rajadas de vento daquele dia, em pleno verão austral, propagaram rapidamente as chamas.

O sinistro provocou 137 mortes e deixou 16.000 desabrigados, segundo números oficiais.

O incêndio no Chile é o segundo mais mortal do mundo neste século.

Desde o início, as autoridades locais apontaram que se tratava de um ato intencional.

Quatro focos

Desde o início, as autoridades locais apontaram que se tratava de um ato intencional.

— Estamos devastados com o ocorrido, é um fato totalmente isolado. Estamos há mais de 170 anos a serviço de Valparaíso e não podemos permitir esse tipo de situação — disse Vicente Maggiolo, comandante do Corpo de Bombeiros da 13ª companhia da cidade de Valparaíso.

Segundo as investigações do Ministério Público, o incêndio teve origem em pequenos focos de fogo simultâneos ocorridos perto do Lago Peñuelas, no porto de Valparaíso, vizinho à cidade de Viña del Mar. O calor e as intensas rajadas de vento daquele dia espalharam rapidamente as chamas.

— Todos nós sabíamos que se tratava de um ataque intencional (…) e hoje podemos ter esse grau de certeza — disse a prefeita de Viña del Mar, Macarena Ripamonti.

Os bombeiros não conseguiram apagar o fogo devido à falta de estradas ou porque ficaram presos nos acessos estreitos da cidade, onde filas de veículos foram carbonizadas.

— Houve aproximadamente quatro focos, equidistantes entre si — acrescentou o promotor especializado em incêndios, Osvaldo Ossandón.

Os elementos que provocaram este incêndio foram encontrados na casa do detido. Também se investiga se ele participou de outros acidentes anteriores, acrescentou Ossandón.

— Este é, antes de mais, um ato de justiça e de reparação para aqueles que perderam a vida no incêndio, para as suas famílias, para aqueles que perderam todos os seus bens, as suas fontes de trabalho e de luta até hoje — afirmou a ministra do Interior, Carolina Tohá.