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Uberização, CLT demonizada e Venezuela: como foi a 1ª fase da Fuvest

Prova da USP abordou temas atuais do mercado de trabalho, conflitos internacionais e interdisciplinaridade, além de registrar abstenção acima da média histórica.

23/11/2025
Uberização, CLT demonizada e Venezuela: como foi a 1ª fase da Fuvest

A primeira fase da Fuvest 2026, vestibular da Universidade de São Paulo (USP), realizada neste domingo, 23, trouxe questões de interpretação sobre o mercado de trabalho brasileiro, destacando temas como a “uberização” das relações laborais e a recente “demonização” de empregos regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) entre crianças e adolescentes.

Nesta edição, 111.480 candidatos se inscreveram para disputar 8.147 vagas em um dos processos seletivos mais concorridos e tradicionais do País.

Segundo o diretor executivo da Fuvest, Gustavo Monaco, a abstenção atingiu 9,17%, índice superior ao dos anos anteriores. Em 2024, por exemplo, a abstenção foi de 7,48%, a mais baixa da história do exame. Monaco atribuiu o aumento ao fato de a prova ter sido aplicada durante um feriado prolongado.

O diretor informou ainda que as notas de corte da primeira fase devem ser divulgadas entre os dias 1º e 2 de dezembro. O gabarito já foi publicado no domingo.

Ao todo, o exame contou com 90 questões de múltipla escolha e, segundo Monaco, priorizou a interdisciplinaridade, conforme já havia sido anunciado.

A professora Vera Lúcia Antunes, coordenadora pedagógica do Objetivo, avaliou que as questões interdisciplinares envolveram áreas como Geografia, Sociologia, Filosofia e Literatura, promovendo conexões entre diferentes campos do conhecimento. Ela destacou o diálogo entre disciplinas e o Inglês, especialmente com Biologia.

Para Vera Lúcia, as questões de Geografia exploraram temas atuais e conflitos internacionais, como a região de Nagorno-Karabakh, na fronteira entre Armênia e Azerbaijão, o Oriente Médio e a tentativa de anexação de Essequibo, na Guiana, pela Venezuela.

O professor Vinicius Beltrão, gerente de Ensino e Inovações Educacionais no SAS Educação, ressaltou que a prova foi bem contextualizada, exigiu pensamento crítico e atualizou discussões sobre meio ambiente e questões sociais, mantendo, porém, elementos clássicos da Fuvest.

“Houve resolução de problemas envolvendo logaritmos, questões sobre funções, massa molar e até sobre o Renascimento, elementos que remetem à tradição da Fuvest, apesar do esforço cada vez mais explícito de promover uma prova interdisciplinar”, analisou Beltrão.

Entre as leituras obrigatórias, apenas Nebulosa, de Narcisa Amália, não foi contemplada nas questões da primeira fase. A obra mais citada foi Caminho de Pedras, de Rachel de Queiroz.

Beltrão destacou que a articulação entre os livros e os temas abordados enfatizou o papel da mulher na sociedade, não apenas no Brasil, mas também em países africanos de língua portuguesa e no contexto global.

Para Vera Lúcia, memorizar apenas o resumo das obras não era suficiente. “Exigia realmente a capacidade de leitura, interpretação e o repertório cultural do aluno”, afirmou.

O papel dos professores na conscientização dos alunos sobre as diferenças sociolinguísticas do Brasil também foi abordado, assim como uma questão que mencionava Verdade Tropical, livro de memórias do cantor Caetano Veloso.