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Grupos armados na Colômbia recrutam uma criança a cada dois dias, aponta levantamento

Relatório revela aumento do aliciamento de menores por facções ilegais; vítimas sofrem violência sexual, ameaças e deslocamento forçado

Sputinik Brasil 20/11/2025
Grupos armados na Colômbia recrutam uma criança a cada dois dias, aponta levantamento
Foto: © Foto / Forças Militares Colombianas

O avanço de grupos armados ilegais na Colômbia tem agravado o recrutamento de crianças e adolescentes, utilizados em combates, tarefas logísticas e vítimas de violência sexual, segundo a imprensa local com base em dados do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses.

Ao menos 15 menores de idade morreram em três atentados a bomba e em um confronto entre a Força Pública e acampamentos do grupo dissidente liderado por Iván Mordisco, conforme revelou o jornal El Tiempo.

Entre as vítimas estavam uma adolescente de 16 anos submetida à violência sexual por integrantes dos grupos ilegais, uma menina de 13 anos e um jovem indígena de 15 anos.

Esses episódios, registrados durante operações militares conhecidas como Beta, reacenderam o debate nacional e internacional sobre a tênue linha entre os princípios do Direito Internacional Humanitário e o uso legítimo da força estatal contra os chamados Grupos Armados Organizados.

De acordo com o ministro da Defesa da Colômbia, todos os membros desses grupos são considerados alvos militares.

Dados da Defensoria Pública colombiana apontam que ao menos uma criança ou adolescente é recrutado a cada dois dias — número provavelmente subestimado, já que muitas famílias, sob ameaça, deixam de denunciar. Em 2024, 625 menores foram forçados ou enganados a ingressar em grupos ilegais. Até o momento, neste ano, já são 162 registros.

Facções dissidentes do grupo de Iván Mordisco (Estado Mayor Central) respondem por 41% dos casos. Outras dissidências vêm em seguida (30%), organizações não identificadas (15%), ELN (5%), Clã do Golfo (3%), Segunda Marquetalia (3%) e redes criminosas (1%). Crianças indígenas e afro-colombianas são as principais vítimas, especialmente nas regiões de Cauca, Antioquia e Chocó.

Autoridades informaram à imprensa que algumas vítimas dos atentados sequer estavam oficialmente registradas como recrutas, o que evidencia a dificuldade em dimensionar o problema.

A ONU documentou relatos de crianças enganadas por falsas ofertas em redes sociais ou interceptadas em estradas que levam a escolas rurais, muitas vezes utilizadas como centros logísticos por grupos armados.

"Temos defendido a regulamentação das redes sociais, pois muitos recrutamentos acontecem por lá, com falsas ofertas: dinheiro, motocicletas, tênis, celulares. Há resistência por parte das plataformas, mas é essencial avançar com a regulamentação", afirmou a defensora pública Iris Marín ao jornal.

Entre os casos relatados, há meninas submetidas à escravidão sexual e jovens utilizados em combates. As famílias também enfrentam ameaças, deslocamento forçado e extorsão, o que inviabiliza tentativas de recuperar seus filhos.

Segundo a Unidade de Investigação e Processo Penal da Jurisdição Especial para a Paz, desde a assinatura do acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), em 2016, 1.494 menores foram vítimas de recrutamento forçado. Nas cinco décadas anteriores de conflito, mais de 18 mil crianças e adolescentes foram explorados por grupos armados.

Organizações humanitárias alertam, no entanto, que esses números representam apenas uma fração de uma crise persistente que segue afetando as áreas mais vulneráveis do país.