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Centrão e bolsonarismo reforçam aliança na Câmara e impõem derrota ao governo Lula com PL Antifacção

Aprovação do projeto por ampla maioria expõe fragilidade da base aliada e intensifica embates sobre segurança pública no Congresso

Sputinik Brasil 19/11/2025
Centrão e bolsonarismo reforçam aliança na Câmara e impõem derrota ao governo Lula com PL Antifacção
Foto: © Foto / Marcelo Camargo / Agência Brasil

Por 370 votos a 110, a Câmara dos Deputados aprovou o PL Antifacção, impondo uma derrota significativa ao governo Lula e evidenciando a fragilidade da base aliada. O projeto, relatado por Guilherme Derrite (PP-SP) e conduzido pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), reacendeu debates sobre segurança pública e ampliou a crise de confiança entre Executivo e Legislativo.

A votação ocorreu na terça-feira (18) e contou com o apoio expressivo do bloco de centro-direita e direita, que se uniram contra a esquerda, dificultando ainda mais a coesão do governo no Congresso. Partidos que integram a Esplanada dos Ministérios foram responsáveis por 60% dos votos favoráveis, sinalizando fissuras na sustentação parlamentar do presidente Lula.

O contexto político se agravou após a repercussão da operação policial no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortos e interrompeu a recuperação da popularidade presidencial, segundo pesquisa Genial/Quaest. A segurança pública passou a dominar o debate nacional, sendo utilizada por bolsonaristas e pelo centrão como principal pauta de oposição, enquanto aliados de Lula defendem a retomada da agenda de justiça tributária e dos programas sociais.

Embora o PL Antifacção fosse considerado prioritário pelo Executivo como resposta à crise de segurança, a condução do texto pelo relator e pelo presidente da Câmara gerou desconfiança no governo. Segundo a Folha de S.Paulo, Lindbergh Farias (PT-RJ) classificou a votação como uma "crise de confiança" entre Lula e Motta.

A sessão foi marcada por embates intensos. O deputado Zucco (PL-RS) acusou o governo de ser "negacionista" na pauta da segurança pública, enquanto Maria do Rosário (PT-RS) afirmou que o relatório da direita favorecia o crime organizado. A disputa pela autoria do projeto acirrou o desgaste entre Executivo e Legislativo.

O vaivém de relatórios apresentados por Derrite, que chegou a adiar a votação, foi alvo de críticas tanto de governistas quanto de oposicionistas. Aliados de Lula argumentaram que o texto enfraquece a Polícia Federal e tentaram mobilizar a opinião pública contra o projeto, retomando estratégias de polarização vistas em debates sobre justiça tributária. Já Motta e lideranças da Câmara classificaram essas críticas como "narrativas".

Hugo Motta buscou protagonismo ao defender publicamente o projeto, afirmando que representa a "mais dura resposta da história da Câmara" contra o crime organizado. Parlamentares aliados reforçaram que o Legislativo assume papel central no combate às facções, em contraposição ao Executivo. O governo, por sua vez, avaliou que o texto descaracterizou a proposta original e aposta que o Senado poderá rever pontos considerados problemáticos.

Após a votação, Motta declarou que o Parlamento não deve apenas "carimbar projetos", mas entregar a melhor versão possível. Sua postura, vista como oscilante e por vezes mais alinhada à oposição, renovou a desconfiança do Planalto, segundo a Folha.